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02 Junho 2016

"Superiores religiosos são muitas vezes reféns dos econômos"

 Tudo isto parece estar em sintonia com o próprio olhar hermenêutica de Francisco, quando, ao falar da superioridade do tempo sobre o espaço, escreve que "dar prioridade ao tempo é ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços".

 

"As finanças enfraquecem e é tempo de transparência e sobriedade na gestão econômica"

A atenta administração do patrimônio dos Institutos é uma prioridade que diz respeito a 200 mil consagrados dispersos pelo mundo, em crise de vocações, mas também de finanças. Mais de cem superiores religiosos se interrogaram nestes dias sobre a importância da transparência das regras, mas também sobre a oportunidade de modificar os hábitos e a necessidade de ter a coragem de encerrar obras insustentáveis. Difunde-se a consciência de não se poder mais ignorar ou delegar as problemáticas econômicas.

Se as regras são claras, em matéria de gestão econômica e financeira a sua atuação frequentemente não o é. Por isso, torna-se necessário um mais forte empenho, afim de garantir a transparência e evitar a tentação do poder, recordando que os pobres estão no centro da ação da Igreja. É a convicção difusa entre os religiosos que veem, reunidos nestes dias em Roma, as maiores cúpulas de mais de cem Congregações para a Assembleia semestral da União dos superiores gerais. 

A reportagem é de Ricardo Benotti, publicada por Servizio Informazione Religiosa - SIR, 27-05-2016. A tradução é de Benno Dischinger.

A atenta administração do patrimônio dos institutos é uma prioridade que diz respeito a 200 mil consagrados dispersos pelo mundo, em crise de vocações, mas também de finanças. Uma dificuldade que se situa na difusão a prática de unificar Ordens semelhantes por carisma e na oportunidade sempre mais concreta de abandonar estruturas históricas. Em diversos casos, e para famílias religiosas bastante grandes, a própria casa generalícia poderia em breve ser vendida para investir recursos alhures e alojar os confrades numericamente reduzidos em comunidades dimensionadas sob medida.

 

Fadiga do testemunho

A centralidade dos pobres na missão da Igreja solicita, aliás, que se repense os hábitos consolidados e se tenha coragem para realizar escolhas dolorosas. Numa mensagem ao simpósio internacional sobre a gestão dos bens eclesiásticos dos Institutos de vida consagrada e das Sociedades de vida apostólica, o Papa Francisco recordava que “não serve uma pobreza teórica, mas a pobreza que se aprende tocando a carne de Cristo pobre nos humildes, nos pobres, nos enfermos, nas crianças”. Uma “pobreza amorosa” que seja “solidariedade, partilha e caridade” e se exprima “na sobriedade, na busca da justiça e na alegria do essencial, para pôr em guarda dos ídolos materiais que ofuscam o sentido autêntico da vida”. 

Traduzir estas orientações na vida cotidiana, não é, todavia, coisa fácil e talvez seja menos cansativo viver o voto de pobreza no nível pessoal do que no nível institucional: “É mais difícil para nós dar semelhante testemunho quando se veem as nossas construções, às vezes centenárias ou pluridecenais.

Tais dificuldades, admite dom Ángel Fernández Artime, reitor maior dos Salesianos – é mais evidente quando se tenta atualizar as nossas obras para responderem aos desafios e às exigências de hoje, por exemplo, no âmbito da educação e da prevenção dos riscos”. 

 

Erros na administração

Numa carta circular da Congregação para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica sobre as linhas orientadoras para a gestão dos bens, se sugere definir quais obras e atividades levar em frente, quais eliminar, deixar ou modificar, e que novas fronteiras enfrentar.

Planificar as atividades, falar de prevenções e de balancetes não só nas obras, mas também nas comunidades religiosas, são praxes que devem ser consolidadas. Assim como a aplicação de sistemas de monitoramento nas atividades em perda, prestando atenção à sustentabilidade e abandonando a mentalidade assistencialista. 

Uma requisição também é direcionada aos ecônomos, afim de que prestem contas periodicamente aos superiores maiores e aos seus Conselhos, documentem as transações e os contratos e arquivem as práticas: “Não é raro, sabemo-lo por experiência, encontrar superiores locais ou provinciais que são, de fato, ‘prisioneiros dos próprios ecônomos’, os quais são verdadeiros detentores do poder”, observa o reitor maior dos Salesianos.

Não raramente, pois, “se cometem erros grosseiros, vendas inadequadas, trufas nas assinaturas de acordos ou contratos, não por má vontade, mas em geral pelo desejo de não danificar o próprio Instituto ou Congregação, ou também porque a gestão econômica não é o nosso forte e hoje é mais do que nunca um terreno delicado, complicado e perigoso”. É importante, portanto, ter “pessoas de confiança e comprovada fidelidade”, sem temer confiar aos leigos encargos de administração financeira.

 

Pobreza institucional

A deformação do clericalismo difundido na Igreja e entre os consagrados conduz frequentemente a considerar que o ser presbíteros seja uma honra e um status que carrega autoridade, poder no acesso a meios econômicos a manejar. “Também a Congregação, e não só os coirmãos em particular, deveriam fazer o voto de pobreza”, precisa o padre Heinz Kulüke, superior geral dos Verbitas: “Com frequência os membros vivem uma vida simples, mas as estruturas em que residem e que não querem modificar de nenhum modo, custam uma fortuna”. 

A solicitude e o cuidado pelos pobres podem ser, neste sentido, “um empenho comum” que ajuda “a formar uma comunidade religiosa e a dar-lhe vida”. O número dos benfeitores está, além disso, em nítida diminuição e representa uma preocupação em muitos Países: “Esta lacuna requererá que se intensifique localmente a animação da missão, a transparência na destinação das doações, a coleta de fundos levada em frente de modo criativo e profissional e a busca de novos modos de aceder aos sustentos econômicos”. 

Enfim, uma admoestação aos religiosos que detêm contas privadas: “Todos os coirmãos sabem o que viola o nosso voto de pobreza e as nossas Constituições. Uma das tarefas dos líderes será, portanto, reconquistar a confiança dos coirmãos. E os coirmãos deverão ter a certeza de que, em caso de necessidade, a administração da Congregação estará presente para ajudar também com as finanças”.

Fonte: Site Unisinos

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