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26 Abril 2018

Caminhamos para um cristianismo sem religião. O que isso nos diz?

Escrito por  OFMConv-Notícias

A afirmação de que caminhamos para “um cristianismo sem religião” não foi dita por nenhum anticristão. Trata-se de alguém comprometido com a dinâmica eclesial no contexto atual. Ela foi usada pelo bispo da Ilha de Gozo, da República de Malta, Dom Mario Grech. “É válido admirar a magnífica história da Igreja, mas não podemos continuar a gastar nossa energia numa tradição que pode ter embaçado nossa visão daquilo que Cristo propõe“, escreve Mario Grech, bispo de Gozo (Malta), em artigo publicado por The Malta Independent, 15-04-2018.

 

O Artigo

Recentemente, um jovem me perguntou que mudança eu queria ver em nossa sociedade. A minha resposta deixou ele surpreso. Disse que desejo que uma certa categoria de cristãos, em particular, aqueles nos círculos internos da Igreja, mudem sua maneira de ver a fé. Suspeito de que muitos católicos estão sofrendo pela exaustão, pela falsificação e pela banalização da nossa fé em Cristo!

Nenhum estudo científico é necessário para concluir que muitas pessoas batizadas estão abandonando a religião. Nossa comunidade religiosa está se transformando em uma comunidade de cabelos brancos! Aqueles que abandonam a Igreja não são desfavorecidos de inteligência. Também não são contrários ao fenômeno religioso. Eles simplesmente perderam o interesse ou se sentem afastados porque nos vêem “brincando de Igreja”. É a forma como estamos apresentando o Evangelho, celebrando nossa liturgia e também a nossa incoerência que está fazendo as pessoas se sentirem espiritualmente enganadas.

Auguste Comte estava errado quando disse que o homem deveria passar da dimensão religiosa para a dimensão científica ou “positivista”. Nem Karl Marx estava correto quando disse que a religião desapareceria, pois, só oferecia consolações ilusórias. Hoje em dia, muitos filósofos confirmam que o desejo religioso é um fato antropológico que pode tomar muitas formas, mas que não pode ser erradicado. Para mim, isso confirma que existe um desejo implícito de conhecer a Cristo no coração de cada homem. E é missão da Igreja facilitar este encontro.

Portanto, nós, católicos, precisamos garantir não estarmos dificultando aqueles que estão buscando a verdade. Precisamos garantir que nossa nostalgia, nossas incertezas e nossos medos interiores não nos façam apresentar um cristianismo deformado. Temo que estejamos rodeados por este tipo de cristianismo.

Max Weber, Marcel Gauchet e Charles Taylor falam do desencantamento do mundo. As expectativas modernas sobre a relação entre a fé e a religião mudaram. Atualmente, as pessoas ainda têm sede de fé, mas talvez tenha menos de religião. Devido ao desencantamento em assuntos que dizem respeito à fé, as pessoas modernas preferem percorrer um caminho diferente. Elas tem uma nova forma de ver o mundo e nós, enquanto Igreja, ainda estamos agarrados a uma visão obsoleta.

Por que continuamos obstinadamente a seguir este caminho? Talvez tenhamos medo de correr o risco de mudar. Estamos vivendo uma religiosidade esquizofrênica? Declaramos que estamos seguindo Cristo, mas na verdade nós nos fingimos de cristãos. Estamos nos esquecendo de Cristo em nossa religiosidade? Renegamos a sua mensagem, mas depois celebramos a sua Mãe e os seus santos!

Fonte: IHU

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