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25 Julho 2018

A Espiritualidade Franciscana e a Vida Intelectual

Escrito por  OFMConv-Notícias

Abordagem antropológica do tema dos estudos

Frei François Comparat, frade menor francês, na segunda metade do século passado ocupou-se muito da formação de leigos em seu país. A revista “Evangile Aujourd’hui” publicou um de seus textos sobre a antropologia dos estudos. O trabalho se insere dentro de um contexto de um congresso mais vasto: espiritualidade franciscana e vida intelectual. Outros colaboradores apresentaram suas pesquisas mais diretamente ligadas ao jeito franciscano de ver o mundo. Aqui transcrevemos quase todo o texto de Frei François Comparat no qual há algumas referências à especificidade do estudo na perspectiva franciscana. O texto nos permite refletir sobre os estudos a partir da ótica antropológica. O autor supõe leitores religiosos, mais especificamente franciscanos e franciscanas.

Antropologia é uma palavra que recobre o conjunto de disciplinas que se interessam pelo homem, considerado individual ou coletivamente em seus mais diversos aspectos e ajudam a que se possa chegar a uma concepção global do ser humano. Ela escruta a vida do homem no seio de múltiplos relacionamentos que podem levar ao seu pleno desenvolvimento.

 

Questões prévias:

  • O que se passa em mim quando resolvo fazer estudos? Como minha pessoa é tocada? Muito, pouco, quase nada?
  • Os estudos que empreendo exercem influência sobre o grupo a que pertenço?
  • Para que servem os estudos? Devo fazê-los quando lá por dentro de mim não desejo de verdade?

 

Estudar é como partir em peregrinação

No desejo de nos abeirar do sentido da formação podemos dizer que é fazer um pouco como Abraão: é partir sem saber para onde se vai. Os conhecimentos que aos poucos vão sendo adquiridos significam uma ajuda para desenvolver a vida religiosa que foi minha opção, poderão me prestar serviço e corresponder àquilo que busco? Um aspecto todo particular precisa ser levado em consideração: com os estudos é bem provável que eu me torne diferente. Como as pessoas aceitarão as mudanças do neoformando? Serei aceito? Há mudanças que são operadas: um deixar o ambiente habitual, um certo gênero de vida, horários, etc. Acolher um processo de formação não nos deixa imunizados, indemnes.

Como adultos já temos uma experiência de vida. Temos nossos hábitos devido ao estilo de vida consagrada que levamos. Tais hábitos são bons já que não podemos inventar a cada manhã o que nos cabe realizar. Tomamos rapidamente decisões frente às simples questões de todos os dias porque já possuímos uma regra de vida, temos experiência e uma certa maturidade da fé: os contornos estão fundamentalmente balizados.

De outro lado há certos hábitos que funcionam como freio: falta de imaginação, não tolerar questionamentos, ter dificuldade em rever as próprias ideias, experimentar o medo, um dobrar-se sobre si mesmo. Para chegar a saborear a formação, necessário que haja um certo gosto pelos “deslocamentos” interiores intelectuais, psicológicos e espirituais, o que pode ao mesmo tempo ser algo estimulante diante das perspectivas da novidade e, pelas mesmas razões, causar inquietação. A formação é grosso modo como a escalada: deixa-se um ponto de apoio para alcançar outro que nos leva mais adiante. A formação se casa bem com a espiritualidade da peregrinação. Não é mero “rito” de devoção, mas processo de transformação do ser de alguma forma arrancado do espaço e gênero de vida habituais. O peregrino é um homem que se arranca e que parte em busca de um “alhures” como se a mudança de lugar trouxesse consigo uma mudança de vida.

Mas atenção, peregrinação não é turismo. Há uma dimensão de fé. Assim, peregrinar é aproximar-se das raízes de sua própria fé. Substituam a palavra peregrinação por formação e haverão de ter uma ideia do que ela representa.

Formar não é perder seguranças humanas mas consiste em correr um risco. A pessoa que se coloca numa posição de “discente” corre o risco de duas alternativas:

  • Falta de flexibilidades que a leva a criticar o docente.
  • Ou contrariamente: não se tem condições de comparar o que foi adquirido anteriormente com a novidade e há a tentação e transforar o “formador” num guru.

Há a questão do meio onde se vive. Aquele que faz estudos se movimenta num ambiente que não vive a atmosfera de estudo. A formação “teológica” não é automaticamente alimento para nossa vida espiritual. As pessoas precisam se dar conta que com os estudos não estão perdendo a fé e sim falsas imagens da fé. Não se questiona a existência de Deus. Nossas ideias a seu respeito e que são postas em xeque.

A formação cristã dos adultos é um risco, mas antes de tudo uma chance para a comunidade que sempre sai ganhando com o enriquecimento dos formandos apesar de certas “incompreensões”. Os estudos existem porque cada um tem o direito de melhor situar sua fé com relação às questões atuais, como também tem o dever e aprofundar a mesma fé em vista de melhor compreender as riquezas que ela nos oferece para viver. Para que se façam bons estudos não basta o conhecimento acadêmico a respeito da tradição cristã ou o significado dos mistérios da fé. Os estudos constituem um esforço, sempre exigente, no sentido de elaborar uma reflexão a partir dos dados da fé e para colocar tal reflexão por escrito. Não se trata de repetir as aulas do professor. Cada um haverá de colocar diante de si os questionamentos existenciais. Fazer um trabalho nesse campo não consiste em escrever páginas sentimentais ou marcadas pela militância. O subjetivo cederá lugar ao objetivo. Tudo se aprende pouco a pouco. É necessário ter paciência e realizar exercícios práticos.

 

Estudo e espiritualidade franciscana caminham juntos?

A grande preocupação de São Francisco, que sempre volta em sua fala e em seus escritos, é que nada estanque, distancie e seja óbice no tocante ao primeiro cuidado do frade menor que é ter o Espírito do Senhor e estar para ele sempre orientado. Tendo em vista esse princípio indispensável, toda outra atividade é sempre secundária. Há ainda outras palavras de nosso fundador afirmando que toda atividade é boa se os irmãos a realizam com fidelidade e devoção e não em vista de um proveito pessoal. Francisco desde os inícios acolheu na Fraternidade, sem distinção alguma, homens sem instrução bem como letrados. O mais conhecido de todos foi Antônio de Pádua que recebe de Francisco a autorização para o ensino da teologia.

Bem cedo esta coabitação entre irmãos letrados e frades sem instrução conheceu tensões e diferentes interpretações. Esta constante tensão leva os franciscanos, hoje ainda, a aprofundar o sentido do minorismo e da simplicidade quando fazem estudos.

Para o frade menor, o estudo é parte integrante de sua vocação no sentido de buscar, conhecer e saborear a verdade de Deus, do homem e do criado. O estudo não terá como motivação o orgulho ou o desejo de promoção, mas o fruto da trabalho intelectual deverá ser colocado à disposição e em benefício da fraternidade. O mais sábio não é o que conhece mais, mas o que vive em consonância com as coisas essenciais que passa a conhecer. Não se trata de possuir, mas de se deixar possuir por Cristo que é a verdade e tornar-se dele testemunha. O estudo é atividade austera e cansativa. O que permite que ele continue é o progresso da fé e não o acúmulo de conhecimentos. A prática franciscana dos estudos será guiada pelo Espírito do Senhor e por um comportamento do frade menor.

 

Experiência de Deus e de si

Os estudos se apresentam como um caminho pelo qual Deus abre meu coração (há dentro de mim um incréu que ai cochila ou então um crente “meio fanático” que se excita), à condição que ele continue sendo objeto da ação. Acolhendo a Cristo (através de textos e tradições) sou enviado para mim mesmo porque ele, por sua encarnação, revestiu-se de uma humanidade mais verdadeira do que a minha. Ele é, ao mesmo tempo, exegeta do Pai e do homem. Destarte, através dos estudos que me falam da sabedoria cristã, interesso-me por mim mesmo e sou convidado a me converter.

Trata-se de colocar-se à escuta de Cristo para tomar distância de si mesmo, deixar-se habitar a fim de que Deus possa vir viver através de mim. Os estudos são da ordem da transfiguração: deixar a figura do outro passar através de mim, transparecer. Pelos estudos (evidentemente não somente através deles), quando me falam de Cristo vou aos poucos me “constituindo”, torno-me o que devo ser. Como toda atividade o estudo é uma graça.

Com efeito, como é impossível alguém existir ou realizar-se, sem abrir-se ao outro, sem ouvi-lo, acolhê-lo na reciprocidade, os estudos precisam permitir ao irmão ou à irmã de enriquecer sua humanidade, abrir-se ao mundo e às culturas humanas e de se inscrever num desejo de relacionamento pessoal e de encontro com Deus. Importante compreender que num estudo de um crente não estão apenas dois, o texto e eu, mas três porque não se pode esquecer a pessoa de Cristo que não está apenas no final da busca, mas caminha comigo mesmo que nem sempre o faça de maneira explícita. A reflexão teológica funda-se naquilo que o Evangelho (e a Tradição) nos transmite. Evidente que não se trata de aceitar um discurso, mas de acolher uma vida, como Maria que aceitou que fosse feito segundo a Sua Palavra e não segundo um discurso. O primeiro resultado do estudo é me fazer bem: deve permitir que eu integre minhas convicções, desejos e pulsões para que sejam purificados e burilados no momento em que vivo alguma coisa do mistério de Deus.

Os primeiros passos em teologia permitem burilar o conhecimento que se tem de Deus, ousar passar do conhecido para o desconhecido, confiar e aceitar a mudança de cenário. Esforço e satisfação caminham juntos:

  • O esforço de aceitar um novo Êxodo, para não ficar bloqueado diante da aridez de determinados textos, para aceitar o empenho cerebral e resistir à tentação de fazer as coisas “mais úteis”. Além do esforço que isso pede, o tempo para tal consagrado, a disciplina necessária exigem contínuo investimento e profundidade, investimento austero, sem dúvida, mas que, com o tempo, permite o progresso da fé.
  • A satisfação de construir-se a si mesmo de maneira mais livre, o prazer de acolher um convite de ordem espiritual que permite ao estudante crescer em humanidade e liberdade. Um certo prazer que possibilita passar da imagem de Deus à sua Palavra, da vida comunitária à vida fraterna, da rubrica litúrgica ao diálogo, da atividades preferidas aos cuidados pela missão.

A teologia é sempre porta de entrada para uma aventura pessoal porque, através dos grandes temas da fé, baliza e estrutura um caminho que começa pela escuta e termina no amor.

Em resumo, podemos dizer, em primeiro lugar, que como religiosos fazemos estudos “religiosos”, decorrência da fé: a confissão da fé, que como tal já carrega em si pensamento e sentido, deve desenvolver e transmitir o que ela tem de inteligível, compreensível de sorte que não apareça sendo apenas algo, mítico e ideológico. Faz-se teologia para honrar a fé.

Em segundo lugar, a pessoa que estuda se insere pessoalmente no trabalho teológico. A teologia é sempre feita por alguém. Aquele que estuda não “sobra”. Faz-se teologia com o que se é, com a condição de homem ou de mulher, com a vocação de leigo ou de religioso, com sua espiritualidade, o ambiente em que se vive, o inconsciente coletivo, com os problemas e as respostas da época.

No estudo da teologia, a pessoa está exposta aos textos, ações, acontecimentos, prática que fazem parte do domínio cristão que se estuda. Toda teologia é interpretação. Aquele que estuda se dá conta que ele mesmo está implicado naquilo que estuda. Não se faz teologia adotando postura de neutralidade. Mas cuidado, não se trata de dizer “eu” em cada linha. Essa dimensão da implicação pessoal terá sempre como pano de fundo a dimensão universal da fé da Igreja.

 

Importância da comunidade

A fé é sempre pessoal. Cada irmão e cada irmã é chamado a “estar” com o Senhor. A fé, no entanto, se manifesta ou se torna crível na atenção especial devotada ao outro, ao pobre, ao estrangeiro, ao amigo, à visita, ao benfeitor, mas antes de tudo ao irmão e à irmã. É na fraternidade que se começa a aprender o “estilo” franciscano de se viver o Evangelho. A fraternidade está na origem do saber e do viver a experiência da fé num contexto de uma comunidade que influencia nosso discernimento. A vida comunitária, antes de ser instrumento de determinada missão, é espaço onde se faz a experiência de Cristo ressuscitado. Tal experiência passa através da riqueza e da fragilidade dos relacionamentos fraternos onde se pode reconhecer a beleza da vocação recebida e dar resposta ao dom da conversão. É em fraternidade que nos é dada a graça de receber como um dom irmãos e irmãs. Na fraternidade cultivamos os valores humanos e cristãos capazes de nos conduzir a uma plena maturidade humana, cristã e franciscana. Neste contexto vale lembrar o cap. 85 do Espelho da Perfeição: o frade perfeito só existe comunitariamente. A fraternidade é, pois, o elemento constitutivo dos estudos e a melhor imagem é a noção da partilha: eu recebo e eu dou. Quando se realiza a formação intelectual em tal contexto, os estudos contribuem para a construção e edificação da fraternidade. Há um relacionamento estreito entre estudos, comunidade e mundo: os estudos são vistos como sinal de um serviço a ser prestado.

 

Um vida em minoridade

A formação intelectual haverá de se realizar num espírito de caridade, simplicidade e minorismo. Partilhando com os outros o que recebem em seus estudos, os discípulos de Francisco e Clara aprendem a comunicar gratuitamente aos homens o que receberam gratuitamente.

Como irmãos de São Francisco temos o costume de voltar nossos olhos para com os pequenos, esperamos que os estudos nos ajudem a discernir aquilo que possa ser ação ou palavra de libertação. Muitas vezes a reflexão teológica se volta e age também na ordem cultural, ou histórica, psicológica ou social quando leva em consideração um aspecto da vida humana, não religioso como tal, por exemplo uma questão de moral social, de justiça e repartição equitativa dos bens, salvaguarda da criação, etc. Nesse caso a reflexão teológica procura fazer ligação entre o campo social e o universo da fé.

 

Para os outros

O estudo “religioso”, no sentido amplo do termo, é inerente à nossa vocação porque somos chamados a partilhar o amor que Deus nos dá, a dar as razões de nossa fé, e isto para que aqueles que nos encontram tomem consciência de que com Cristo nos tornamos mais humanos. Os estudos não se limitam a uma questão de mais conhecimentos fundamental. Estuda-se para melhor compreender e melhor servir ao Evangelho como uma força capaz de impregnar, e até mesmo “perturbar” os critérios de julgamento, os valores vigentes, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade que estão em contraste com a Palavra de Deus e o desígnio da salvação. Os estudos devem fazer com que sejamos capazes de promover a cultura cristã e estabelecer um diálogo frutuoso com homens e mulheres de nosso tempo.

Gaudium et Spes 43 afirma: “Que não se crie oposição artificial entre atividades profissionais e sociais de uma parte, e de outra, a vida religiosa (…). A exemplo de Cristo, que exerceu a profissão de operário, alegrem-se antes os cristãos, porque podem desempenhar todas as suas atividades terrestres, unido os esforços humanos, domésticos, profissionais, científicos ou técnicos, em síntese vital com os valores religiosos, sob cuja soberana direção todas as coisas são coordenada para a glória de Deus”. O estudos orientam-se para esta missão. As pessoas estudam em vista do bem de todos. A vida cristã é, assim, tensão entre o eu e o nós. Não estudamos simplesmente por uma espécie de narcisista busca de conhecimentos. Tomados em seu conjunto, os estudos constituem uma tentativa de descobrir o sentido e o valor da vida segundo a tradição cristã. A cada época, a fé deseja exprimir-se com as possiblidades e os conhecimentos culturais do lugar e do momento. A fé experimenta necessidade de se “inculturar” o que certamente é, ao mesmo tempo, prazeroso e penoso. Necessário se faz conhecer a cultura ambiente para que a fé seja compreendida da melhor forma possível. A teologia haverá de esforçar-se por conhecer possibilidades e impasses característicos de cada cultura de tal maneira que possa apresentar a fé de maneira digna de crédito e dita de modo a ser compreendida por pessoas ou grupos de pessoas aos quais, normalmente falando, a apresentação da fé é fastidiosa, ou simplesmente indiferente.

 

Os estudos a serviço da missão

O estudo é sempre um ato posterior (segundo) com respeito à fé, mas permite que esta se desenvolva de maneira coerente. Se é um ato segundo quer dizer que como tal não dá sentido ao cristianismo. Os estudos não têm por finalidade tornar a fé inteligente, mas colocar-se a seu serviço dela para torna-la inteligível. O ato teológico é colocado para, através da história e das culturas, explicitar, precisar, interpretar e desenvolver a natureza do ato de fé propriamente dito. Há a necessidade de aculturar a fé, mas também de evangelizar as culturas. A mensagem da fé, definitivamente constituída pela pregação dos apóstolos deve continuar viva e mobilizadora como no primeiro dia de sua proclamação. Precisamos ser atingidos pela Palavra de Deus tão vivamente quanto os contemporâneos de Jesus, porque o projeto do Evangelho é suscitar na sociedade humana um perpétuo diálogo. Transmitir uma vida e não um texto. Os estudos precisam levar à confissão da fé que, como tal, é já portadora de cultura e de interpretação, de se desenvolver de modo coerente, inteligível, e, portanto crível, de tal sorte que não apareça como mítica, ideológica ou sentimental. Não se faz estudo de teologia pelo prazer pessoal, mas para honrar a fé embora não haja oposição entre ambos. Estuda-se por causa do Evangelho, quer dizer, estuda-se para os outros (uma Boa Nova a ser partilhada ) de sorte que a fé possa ir o mais longe possível em sua expressão e entrar em comunicação com as outras culturas reinantes. Insistimos: os estudos existem para que tenhamos clareza a respeito das razões de nossa fé.

 

Para a Igreja

A fé é sempre pessoal, mas não individual. Tem suas raízes na fé da Igreja. Os estudos são feitos por causa da Igreja visando contribuir para a lucidez do corpo eclesial. A competência que se adquire com os estudos é um modo de participar no papel da Igreja no mundo e ao seu serviço em prol do Evangelho. A Igreja não tem receitas mágicas na difusão da fé. Os estudos levarão a descobrir caminhos novos, ministérios necessários e assim por diante.

De modo particular insisto nesse “plural”. Para nossas comunidades franciscanas é coisa evidente: basta recordar da passagem do frade perfeito (Espelho da Perfeição, n. 85). Precisamos de nosso corpo, nossa alma, nosso coração, nossa respiração, nossa sexualidade, nossa memória, nossa inteligência, nossos limites, nossas carências, etc. Cada um é constitutivo e necessário, mas nenhum é suficiente. Somente o plural manifesta o sentido e a fé não tem que negá-los, mas unificá-los. Com os estudos acontece mais ou menos a mesma coisa: eles são confrontados a uma pluralidade de autoridades quais sejam Escritura, tradições, concílios, magistério, nossa Regra, Constituições, Madre abadessa ou Ministro provincial. Cada autoridade fundada da melhor maneira possível manifesta aquilo que lhe falta, o que ela não é, daí a impossibilidade para cada uma de ser o todo, o centro, o único. A irredutível pluralidade de autoridades aponta o relacionamento que entretém cada uma delas com que ela postula como cristão. Em tanto que autoridade, nem o Magistério, nem a Escritura, nem esta o aquela tradição bastam; faltam-lhe as outras. Sua relação necessária às outras diz bem da natureza de sua relação àquele que autoriza ( o Espírito Santo). A linguagem cristã só pode ter uma estrutura comunitária: somente a conexão orientada pelas testemunhas, sinais e papéis diferentes enuncia uma verdade que não pode ser reduzida à unicidade por um membro, uma fala, uma função. Porque esta verdade não pertence a ninguém, passa a ser dita por vários. Seus traços se constituem por uma multiplicidade de sinais articulados entre si e sua figura geométrica será mais da ordem de um círculo do que de uma pirâmide hierárquica. É sempre perigoso promover reduções “unitaristas”, ou se deixar dominar por uma ou outra dessas “autoridades”. Para o bem da instituição, os estudos devem alimentar e promover um sadio espírito crítico.

Fontes: Évangile Aujourd’hui, 237, jan-fev 2013, p. 3-14. Autor: Frei Almir Guimarães. Em: Franciscanos.

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