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19 Abril 2019

Saudação do Ministro Provincial por ocasião da Páscoa de 2019

Escrito por  OFMConv-notícias
“E aconteceu que estando perplexas com isso... cheias de medo, inclinaram o rosto para o chão”. (Lc 24, 4s)

Queridos confrades, noviços, pré-noviços e postulantes, Às queridas irmãs clarissas,

Irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular“O Senhor vos dê a paz”.
 
 
Neste ano, dentro do contexto celebrativo dos 800 anos do encontro entre Francisco de Assis e o Sultão do Egito, Al-Malik Al-Kamil, recolhemos um exemplo da abordagem do Pai Seráfico diante do diferente e existencialmente difícil: um encontro para ressignificar a vida; um encontro que marca existencialmente os envolvidos; um encontro que representará para sempre um novo passo de ressurreição.
 
De semelhante modo, o que aconteceu na manhã do terceiro dia com as mulheres que foram ao túmulo (Cf. Lc, 24, 1 – 12), enquanto premissa da atitude de Francisco, marca profundamente a nossa esperança na fé e na vida, ainda que tenham sido gestos também permeados de perplexidade e medo, como nos recorda o evangelista. O pavor de ter diante dos olhos uma possibilidade, mediante a qual tudo comunicava o fim, serviu extraordinariamente como uma espiritualidade prática e exigente para as mulheres e os discípulos do Senhor.
 
Esses dois sentimentos, notoriamente humanos (perplexidade e medo), são inseridos na narração da ressurreição de Jesus dentro da literatura dos Evangelhos pois espelham os acontecimentos aterrorizantes anteriores (flagelo e morte), que pareciam dar a entender que a vida não poderia ser ressignificada, não poderia ser reinterpretada e reprogramada à luz da fé, a partir da superação da morte física, da morte ou finitude natural de um sonho, de uma proposta, uma vez que Jesus, em vida, os provocou e transformou tanto. Parecia morrer a esperança! Havia entre eles uma crença estabelecida de fracasso.
 
Há de se ter em conta que o povo Judeu, naquele contexto, não tinha outro sinal se- não o dessa profecia valiosa do Filho de Deus, da restauração da casa de Davi, como relatam os escritores sagrados. Atolados pela baixa auto estima como povo, como uma nação dominada pelos romanos e ainda vendo sua esperança e seu real motivo de sonhar, o Messias, na Cruz des- pojado, desapropriado e destituído de toda a liderança, os discípulos do Senhor sentiram muito medo de que tudo tivesse seu fim ali na Cruz. Esse medo gerou neles um real sentimento de fracasso, de tristeza e de impossibilidade, uma crença de que não haveria mais chance, nem luz, ou vida após a morte. Portanto, caros irmãos, levemos em consideração que o que real- mente aconteceu neste momento não foi o fim derradeiro e total, mas uma possibilidade que contou diretamente com os personagens envol- vidos e sua capacidade de superação. Diante da ideia já pré-estabelecida foi necessário romper com o que parecia evidente, comunicando o con- trario, comunicando o bem, a vitória e a vida, que em Jesus foi possível depois de uma morte.
 
Ora, evidentemente isso nos revela um caminho pessoal e intransponível de entendimento de que somente eu posso comunicar e dar um sentido novo (ressurreição) à minha própria dinâmica de viver e enten- der o que é e significa um tumulo vazio. Os discípulos e as mulheres foram convocados pelos seus corações e mentes a ouvirem a voz dos anjos e ressignificar esse mistério. Deram o testemunho, pilar do futuro da fé, que logo se expandiu até chegar à partilha do pão entre os discípulos de Emaús, que assim puderam sentir sua presença de novo entre eles.
 
A comunicação foi fundamental para estabelecer bons e novos pensamentos sobre Jesus. A experiência do túmulo vazio os fez comunicar que ele não está morto, mas vive entre nós, e foi essa grande releitura da comunidade nascente pós ressurreição: Uma percepção que recontou o estabelecido e experimentado, enquanto testemunho de um fato novo, uma fé nova, uma nova crença.Uma releitura da vida e da fé pode, na memoria dos primeiros cristãos, provocar os mais fortes sentimentos de amor, de presença, de companhia, de uma singular segurança na ressurreição dos mortos.
 
Essa foi a nova fé dos primeiros cristãos e que gerou reais motivações e resultados efetivos de superação e concretude de tudo o que Ele ensinou em vida. Foi necessário, dentro dessa dinâmica espiritual uma profunda autoconsciência das ideias limitantes, que não permitiam enxergar adiante e viver frutos de uma nova etapa, merecedora da graça de Deus.
 
Por fim, desejo a todos uma páscoa de superação do medo e avan- ço da possibilidade de vida plena, de felicidade e de realização humana e espiritual, uma releitura e uma ressignificação da própria vida a partir de Jesus, aquele que venceu o fracasso e a morte e deu-nos vida.
 
Com toda minha estima fraterna,
 
Frei Marcelo Veronez
Ministro Provincial

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