Santa Inês nasceu em Assis, no ano de 1197. Irmã carnal de Santa Clara de Assis, sendo três anos mais nova que ela, Santa Inês chamava-se Catarina em sua casa paterna. Era a segunda filha de Ortolana e Favarone de Offreducci e também irmã da bem-aventurada Beatriz. Com quinze anos apenas, juntamente da irmã mais velha, ela abandona a família, os amigos, as riquezas, o brasão nobre e o futuro brilhante e atira-se destemida à aventura divina.
Se Clara foi a primeira Clarissa e a fundadora da Segunda Ordem, Santa Inês foi o segundo elemento desta nossa Família Sagrada, sem dúvida a mais fiel discípula de Clara, a primeira jovem que teve a ousadia de deixar tudo para trás e trilhar os caminhos de Clara e Francisco no seguimento do Cristo pobre e crucificado. Em Santa Inês, encontramos uma forte vocação, combativa e perseverante. Nela admiramos o perfil de uma mulher que tudo enfrentou, até ao fim, com uma fortaleza de carácter e uma firmeza de ânimo fora do vulgar; nela contemplamos o vigor evangélico de uma jovem que não recuou perante nada, para seguir a Cristo na total doação.
Com quinze anos apenas dá-nos uma lição gloriosa de coragem, de ousadia e de amor, uma lição de maturidade e de heroísmo, uma lição única que ilumina o mundo e os séculos com a beleza incomparável do Evangelho de Cristo. Conta Tomás de Celano, na Legenda de Santa Clara: (...) Dezesseis dias depois da conversão de Clara, Catarina, inspirada pelo divino Espírito, dirigiu-se pressurosa para junto de sua irmã e comunicou-lhe o segredo da sua decisão de consagrar-se inteiramente ao Senhor. Abraçando-a com intensa alegria, Clara exclamou, “Dou graças ao Senhor, querida irmã, porque atendeu a minha oração a teu favor”. Foi assim que, em 1211, logo depois de Clara, deixou tudo para servir a Deus.
À maravilhosa conversão seguiu-se uma não mesma maravilhosa defesa da mesma. Sucedeu que, enquanto as felizes irmãs seguiam as pegadas de Cristo na Igreja de Santo Ângelo de Panzo e Clara, já com mais experiência, iniciava a sua irmã e noviça, os familiares levantaram-se contra elas e começaram a persegui-las. Quando perceberam de que Catarina tinha passado para o lado de Clara, juntaram-se doze homens no dia seguinte e, cheios de fúria, dirigiram-se para o local. Exteriormente fingiam uma visita pacífica, mas no seu íntimo tinham criado um ardiloso plano. Tendo já antes perdido toda a esperança de fazer Clara voltar atrás em sua decisão, dirigiram-se a Catarina e questionaram-na, “O que vieste fazer a este lugar? Prepara-te depressa para regressar a casa conosco!”
Quando ela respondeu que de maneira nenhuma estava disposta a separar-se de sua irmã Clara, um dos cavaleiros precipitou-se para ela. Enfurecido e à força de socos e pontapés, tentou arrastá-la pelos cabelos, enquanto os outros a empurravam e lhe pegavam pelos braços. Vendo-se a jovem arrebatada das mãos do Senhor como presa de leões, gritou por socorro, “Querida irmã, ajuda-me e não permitas que me separem de Cristo Senhor!”. Enquanto os salteadores arrastavam violentamente a jovem encosta acima, rasgando-lhe os vestidos e deixando atrás de si os cabelos arrancados, Clara, banhada em lágrimas, orava. Pedia que a irmã se mantivesse firme e constante e que nela o poder divino superasse a força dos homens.
De repente, aquele corpo caído no chão tornou-se tão pesado que o esforço daqueles homens não foi suficiente para o transportar para o outro lado dum riacho que ali passava. Mesmo com a ajuda de outros, que dos campos e vinhas acorreram ao local, não a conseguiram levantar do solo. Quando, já cansados, desistiram do seu intento e não querendo aceitar a evidência do milagre, comentaram jocosamente, “Não admira que pese tanto, passou a noite toda a comer chumbo!”
Monaldo, tio paterno, desesperado e furioso, levantou os braços com a intenção de lhe acertar um soco brutal. Mas quando levantou a mão sentiu uma dor muito forte, que o incomodou durante muito tempo. Depois de tanto sofrimento, Clara aproximou-se e pediu aos parentes que desistissem dos seus intentos e lhe confiassem Catarina que jazia ali morta. E, enquanto eles, mal-humorados, se afastaram sem terem logrado os seus intentos, levantou-se Catarina cheia de alegria. Feliz por ter travado o primeiro combate pela cruz de Cristo, consagrou-se inteiramente ao serviço de Deus.
Tal é a têmpera desta clarissa, nobre de vida, irmã mais nova de Clara. Em memória de Santa Inês, virgem e mártir, que aos doze anos de idade derramou o seu sangue por amor de Cristo, Francisco muda o nome da jovem Catarina de Offredúccio para Inês. Para Inês de Assis o nome diz tudo. Com alegria e amor imensos abraçou prontamente a Pobreza, a Castidade, a Obediência e a Clausura, sendo um modelo evangélico para todos.
Quarenta e dois anos viveu ela, humilde, pobre, penitente e silenciosa na clausura. Uma vida totalmente entregue por amor a Cristo. Durante anos desempenhou o cargo de superiora no Mosteiro de Florença, mas partiu para a eternidade já no Mosteiro de S. Damião, em 1260, poucos dias depois da morte de sua irmã Santa Clara.
Fonte: Dia dos Santos Católicos.