Como ser Franciscano?

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A Província São Maximiliano M.Kolbe celebrou no dia 02 de agosto de 2023 a festa de Nossa Senhora dos Anjos. A celebração foi realizada na Casa de Formação de Nossa Senhora dos Anjos, em Santa Maria DF. Estiverem presentes frades da Província, o Ministro Provincial fr.Gilberto, os formandos do Postulantado, o Pré-noviciado, os  frades professos e as pessoas da comunidade.

A festa do Perdão de Assis- As indulgências plenárias

Está festa celebra no dia 02 de agosto, a Festa do Perdão de Assis, Santa Maria dos Anjos da Porciúncula, segundo testemunhou Bartolomeu de Pisa, a origem da Indulgência da Porciúncula se deu assim: “Em uma noite linda , do ano do Senhor de 1216, Francisco estava intimamente compenetrado na oração e na contemplação estava mesmo ali na pequena ermida dedicada a Virgem Mãe de Deus, conhecida como igrejinha da Porciúncula, localizada em uma planície do Vale de Espoleto, perto de Assis, quando, de repente, a igrejinha ficou tomada de uma luz vivíssima jamais vista antes, e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, acompanhados de uma multidão de anjos. Francisco ficou em silêncio e começou a adorar o seu Senhor. Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. Francisco tomado pela graça de Deus que ama incondicionalmente, responde: “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero, o pior dos pecadores, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão visitar esta Igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”.

O Senhor lhe disse: “Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho, portanto, o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (Papa)”. E não tardou muito, Francisco se apresentou ao Papa Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perugia e com candura lhe narrou a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e perguntou: “Por quanto anos queres esta indulgência”? Francisco, respondeu-lhe: “Pai santo, não peço por anos, mas por almas”. E feliz, se dirigiu à porta, mas o Pontífice o reconvocou: “Francisco, não queres nenhum documento”? E Francisco respondeu-lhe: “Santo Pai, de Deus, Ele cuidará de manifestar a obra sua; eu não tenho necessidade de algum documento. Esta carta deve ser a Santíssima Virgem Maria, Cristo o Escrivão e os Anjos as testemunhas”. E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas: “Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!”

 

 

Nasceu em Assis, no ano de 1182. Depois de uma juventude leviana, converteu-se, renunciou a todos os bens paternos e entregou-se inteiramente a Deus. 

Tendo abraçado a pobreza, levou uma vida evangélica, pregando a todos o amor de Deus. Aos que desejaram segui-lo, formou-os com normas excelentes, aprovadas pela Sé Apostólica. Deu início a uma Ordem de religiosos e a uma Ordem de penitentes inseridos no mundo, bem como à pregação entre os infiéis.

Está acontecendo a novena de São Francisco no Santuário São Francisco, em Brasília - DF.

Quarto dia da NOVENA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS: uma maravilhosa noite de entusiasmo franciscano.

Frei Marcio Magalhães, presidiu a Santa Missa com o participação do Seminário franciscano de Nossa Senhora dos Anjos. Durante os dias da novena os fiéis podem sentir a força do chamado de São Francisco e dos franciscanos ao Evangelho: seguir o Cristo pobre, humilde e crucificado.

Depois da Missa, um encontro fraterno com os frades, que encenaram a vida de São Francisco e cantaram seus louvores, espalhando sementes de PAZ E BEM!

"A emoção de reviver a história de São Francisco reacende em seus devotos do Santuário o desejo de também serem radicais discípulos do Senhor, como Francisco foi."

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Neste domingo, dia 25 de setembro os frades do Serviço de Animação Vocacional estiveram na Paróquia São Marcos e São Lucas em Ceilândia para realização do "Despertar Vocacional", um encontro vocacional voltado para os jovens. Os jovens puderam conhecer mais sobre as vocações ao sacerdócio, matrimônio, vida consagrada, comunidade de vida entre outras vocações. Estiveram presentes mais de 70 jovens.

Confira abaixo as fotos!

Francisco Maria Croese nasceu nas proximidades de Impéria. Itália, em 1804. Tendo entrado na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, andou durante 40 anos pedindo esmolas nas ruas de Gênova. Pela grande veneração que todos lhe tributavam, foi chamado de "Padre santo", apesar de não ser sacerdote.

Uma grande força de vontade e de amor o impeliram a pedir a Deus a sua própria imolação em favor dos genoveses, atacados pela peste, chamada "cólera". Deus aceitou seu sacrifício, pois com a sua morte, ocorrida a 17 de setembro de 1866, extinguiu-se a peste.

Foi canonizado pelo Papa João XXIII. 

Quarta, 21 Setembro 2016 20:26

Frades participaram do Hallel Brasília

Neste sábado, dia 17 de setembro os frades estiveram presentes no Hallel de Brasília. Foi montado um Stand Vocacional, onde apresentaram um pouco da vida e vocação dos Frades Menores Conventuais, no stand tinha banners vocacionais, folders explicativos sobre a vida franciscana e os jovens que chegavam recebiam orientação vocacional. Desde de agosto, mês vocacional, o Serviço de Animação Vocacional vem intensificando as visitas às paróquias e a promoção das vocações em todo território da Província.

 

Aconteceu também o Encontro Vocacional

No domingo, dia 18 de setembro aconteceu no Seminário São Francisco de Assis em Brasília - DF o Encontro Vocacional para os jovens que desejam ingressar no Postulantado. Membros da OFS (Ordem Franciscana Secular) da Fraternidade São Francisco de Assis - Asa Norte, participaram do encontro falando um pouco sobre a Ordem.

A psicóloga Cláudia também participou do encontro, fazendo uma terapia em grupo. Os jovens vocacionados estão na etapa final para o Postulantado.

Caros irmãos e irmãs,

Acesse a edição do mês de setembro do informativo "O Poverello" do nosso Seminário. Acompanhe nossas reflexões, vida, partilha e intenções. Nosso objetivo é diminuir as distâncias.

 

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Terça, 20 Setembro 2016 13:53

Mudança "versus" tradição?

Na atenção dada à atividade religiosa, na sua criatividade social própria, importa ter instrumentos que possam articular o pensamento e o imaginário religioso e as diferentes formas de mediação e materialização. Recordem-se as observações de Émile Benveniste (1969) sobre uma das etimologias, re-legere: tornar a ler, colher de novo, voltar a uma tarefa, retomar os elementos e sinais disponíveis com vista a uma reflexão. Estaremos, pois, perante um comportamento humano que procura mais certezas voltando atrás, procurando a confirmação em sinais, palavras ou textos já conhecidos. É claro que uma etimologia não é uma definição, mas pode ser uma via de exploração. Relegere aponta para a ação de releitura dos elementos simbólicos disponíveis, seja por meio do ritual, seja por via do comentário interpretativo, só para citar duas das práticas mais universais. Abordar a religião como atividade simbólica alicerçada numa tradição permite um olhar antropológico sobre a religião «a fazer-se», num percurso histórico em que a instituição da origem, a conservação e a recriação constituem o objeto específico do trabalho religioso. Uma cultura religiosa não existe sem organizações que a regulem e indivíduos que a exprimam, mas isto não implica que essas organizações possam ser analisadas exaustivamente sob o ângulo único da sua capacidade estratégica de reprodução. É necessário não perder de vista que um determinado mundo religioso pode conter, dentro de si, um permanente trabalho de releitura do material simbólico disponível.

A abordagem da religião como modalidade de crença que institui uma tradição permite pôr em evidência um facto frequentemente observado: que não há crença religiosa que não se refira a um material simbólico recebido, a uma herança legada, a uma memória que solidariza o passado e o presente, contribuindo, assim, para diminuir os riscos do transitório ou da mudança agressiva. Neste sentido, a crença religiosa cria um espaço de comunicação, onde o crente é chamado a responder a uma precedência, feita de imagens e narrativas. A dinâmica religiosa declina-se genealogicamente, enquanto relação com uma memória fundadora, transmissão recitada e praticada. Ser religioso é, deste ponto de vista, saber-se gerado, como observou Pierre Gisel (1990).

Ressalve-se, no entanto, que esta atividade simbólica integra a própria mudança: a tradição só sobrevive porque muda. É por isso que aqui se prefere falar de tradição como construção de uma memória crente – não é um depósito, é um tecido. A fixação da tradição não significa a completa impermeabilidade à mudança. Sem essa qualidade estaria impossibilitada de se tornar verdadeiramente «memória» para as sucessivas gerações, em tempos sociais diversos. Maurice Halbwachs, no seu clássico sobre «os quadros sociais da memória» (1925), toma diversos exemplos da história do cristianismo para mostrar como a memória dogmatizada regula a emergência de novas correntes espirituais – em particular, de natureza mística –, por vezes com uma ênfase contestatária. Halbwachs observa que a resistência à petrificação dogmática veio com frequência de grupos religiosos qualificados, como uma espécie de vanguarda espiritual, e não de tendências marginais relativamente às instituições. Halbwachs procurou um ponto de vista que lhe permitisse observar como as instituições absorvem estas resistências. A teia de relações complexas e tensas entre a memória autorizada e as contínuas reativações espirituais é uma das principais fontes de renovação da tradição, uma vez que se compatibiliza a continuidade com a necessidade de revitalizar a sua capacidade de responder a novas necessidades.

Quando penso no contributo que a experiência religiosa dá no presente e poderá dar, num futuro próximo, à cultura, ao tempo e ao modo de existência humana, penso no imenso patrimônio espiritual que nasce da amizade com os pobres. Os pobres sentam-se muitas vezes às portas das igrejas. Na realidade, eles não estão sentados à frente da porta, são eles a porta para chegar a Deus, este Deus que nos pergunta sempre: «Onde está o teu irmão?» (Génesis 4, 9). Os pobres mostram-nos Deus. Eles são testemunhas e mestres da fé na sua forma mais concreta, porque são os últimos, os pequenos, os marginalizados, os esquecidos, as vítimas, aqueles que sem voz gritam pela justiça, os esfomeados, os que podem só contar com Deus. As religiões nunca podem esquecer a centralidade dos pobres na sua missão. Os pobres são a porta santa. São a mais santa das portas santas.

Os pobres ensinam-nos muito sobre a vida espiritual. Ensinam-nos a escuta. A escuta não é apenas aprender o discurso verbal. Antes de tudo é atitude, inclinar-se para o outro, é dedicar-lhe a nossa atenção, é disponibilidade para acolher aquilo que foi dito e não dito. Escutar significa oferecer um ombro onde o outro possa apoiar a mão, para rapidamente se levantar. Poder ser escutado relança-nos no caminho. Um dos textos que mais impressionam sobre o valor da escuta é o conto "Angústia", de Tchekhov. Descreve a história de um cocheiro, Iona, que perdeu um filho e não encontra, entre os humanos, nenhum disposto a confortá-lo. «Sente a necessidade de contar como adoeceu o filho, os seus sofrimentos, o que disse antes de morrer e como morreu (...). Sente a necessidade de descrever o funeral, de contar quando foi ao hospital procurar as roupas do defunto. Na vila ficou a filha, Aníssia (...). Quer falar também dela (...)» mas ninguém escuta. O cocheiro dirige-se então ao seu cavalo, e enquanto lhe dá de comer começa a expor-lhe, num longo e dolente monólogo, tudo aquilo que viveu. As últimas palavras do conto de Tchekhov são estas: «O cavalo continuou a mastigar, enquanto parecia que escutava, porque soprava na mão do seu dono... Então Iona, o cocheiro, animou-se e contou-lhe tudo».

Os pobres ensinam-nos a força terapêutica da presença: um simples toque ajuda a dissipar as perturbações, tranquiliza um espírito agitado e transmite um conforto que nenhuma máquina ou fármaco pode dar. Jesus, por exemplo, vai tocar o intocável. Estende a mão àqueles que é proibido tocar. Um homem doente de lepra quebra o cordão sanitário e aproxima-se de Jesus para dizer: «Senhor, se quiseres, podes curar-me» (Lucas 5, 12). Naquele tempo os leprosos tinham a obrigação de viver longe das povoações, separados da família, num afastamento que servia para evitar o contágio. Pois bem, Jesus não se limita às palavras - «Eu quero» -, mas estende a mão e toca-o. Prefere correr o risco do contágio, no desejo de tocar a ferida do outro; querendo partilhar, como só através do toque se partilha, aquele sofrimento; ajudando a vencer o ostracismo, interiorizado com a separação forçada. O que é que cura o homem? O que é que cura a mulher que, noutro ponto do Evangelho, segue Jesus e o toca (cf. Lucas 8, 43-48)? A curá-los está certamente o poder de Deus que se manifesta em Jesus, mas num processo onde a forma não é de todo indiferente. Cura-os o facto de se saberem tocados, e tocados no sentido de encontrados, assumidos, aceites, reconhecidos, resgatados, abraçados. A mística não é um estado de impermeabilidade, mas exatamente o seu contrário: uma radical porosidade sobre a vida e sobre os outros. Uma pele, uma presença, um batimento do coração, um encontro, uma alegria partilhada com os pobres.

Os pobres ensinam-nos o acolhimento de Deus. Recordo sempre esta história: era uma vez um homem devoto que, na sua oração, pede a Deus uma coisa desmesurada, mas Deus imediatamente satisfez. O homem pede que Deus fosse visitá-lo na sua casa. Tendo obtido o sim de Deus, o homem iniciou grandes preparativos (limpeza, reparações, ornamentos...) para receber o seu Hóspede. No dia estabelecido para a visita, o homem coloca-se à porta de casa, à espera de Deus. De manhã cedo vem um rapazinho que procurou, da janela, roubar-lhe uma maçã sobre a mesa, mas ele impede-o, repreendendo-o duramente. Ao meio dia um mendigo vem perturbá-lo com os seus pedidos, mas ele explicou-lhe que estava à espera de uma visita ilustre, que viesse noutro dia. À tarde um viajante exausto pede-lhe hospitalidade, que ele lhe negou, porque esperava Deus. Só que Deus não vem. Por isso, quando cai a noite, também o homem cai num grande desânimo. E durante a sua oração protestou contra Deus, que não tinha mantido a sua palavra. Mas Deus responde-lhe: «Por três vezes procurei entrar em tua casa, mas tu próprio mo impediste».

Desde o primeiro momento em que vi o seu rosto, há mais de 30 anos, percebi que Charles de Foucauld haveria de ter, de uma maneira ou de outra, grande importância para mim. Todos desejamos deixar, com o nosso pensamento e a nossa ação, uma marca neste mundo: criamos famílias, escrevemos livros, fundamos instituições... Poucos, os imprescindíveis, deixam a marca da sua passagem sobre a Terra graças à sua contemplação e à sua paixão. Charles de Foucauld foi sem dúvida um deles. Mais do que fazer, e no entanto fez muito, deixou-se fazer; mais que pensar, e pensou muitíssimo, esvaziou-se a si próprio ao ponto de não ser senão pura receptividade.

O seu rosto, terno e vigoroso ao mesmo tempo, vincado pelo rigor e da indulgência, é seguramente um espelho fiel da sua alma. Foucauld fez da sua vida uma obra de arte, ou seja, um testemunho eloquente da gratuidade. Por isso eu, ao tempo com 20 anos, não soube ficar indiferente a um olhar como o seu, revelador de tanta plenitude. Não que hoje eu tenha penetrado o segredo da graça que modelava os seus traços, mas posso falar e descrevê-los com maior conhecimento de causa. O rosto deste eremita e missionário reflete a alegria e a gratidão que são os sinais inconfundíveis do verdadeiro amor.

Para mim Foucauld é um padre do deserto contemporâneo; quero dizer que a sua vida e a sua obra, que certamente atingem a espiritualidade de figuras da estatura de Agostinho, Bento, Francisco e Inácio, remetem para as dos célebres padres que povoaram copiosamente os desertos da Síria e do Egito nos primeiros séculos do cristianismo.

Para compreender Foucauld na sua dimensão autêntica é preciso juntá-lo a Dionísio o Areopagita e a Efrém o Sírio, a Isaías Anacoreta ou a Gregório de Nazianzo, para referir alguns nomes. A fonte de onde beberam aqueles padres do deserto e que depois deu vida ao movimento hesicasta é a mesma da qual bebe o irmão Carlos, cuja missão - esta é a minha tese - não foi a de fundar algo de radicalmente novo, mas de re-inaugurar para o Ocidente uma via contemplativa que no Oriente cristão não tinha conhecido solução de continuidade, em particular na república monástica do Monte Athos. Na minha visão, Foucauld recebe o colossal encargo de recuperar aquela milenária tradição de sabedoria e de a atualizar. É por isso que a sua obra, sempre do meu ponto de vista, está ainda no estádio inicial. No atual século e nos vindouros dar-nos-emos conta muito melhor da relevância da sua figura e do alcance da sua missão.

Para ilustrar a minha tese tomo sete palavras que, a meu ver, refletem mais integralmente o contributo daquele que chamamos "irmão universal": procura, consciência, deserto, adoração, nome, coração e fracasso. Com elas pretendo não só dar conta das categorias fundamentais que orientaram o nosso personagem, mas também indicar as razões da sua atualidade.

Procura

Um olhar superficial pela biografia de Foucauld (a meta das suas viagens, os hábitos e os uniformes que vestiu, as pessoas de quem se rodeava, as casas que habitou...) é suficiente para constatar que a vida deste homem foi realmente insólita. Foucauld não se assemelha a ninguém. A sua vida foi um contínuo peregrinar. Dizia de si, na segunda das diversas épocas, que queria ser monge ou eremita; o que é certo é que viajou muitíssimo, que se estabeleceu em lugares diferentes, que foi um peregrino estrutural. Tais mudanças de horizontes, geográficos mas sobretudo existenciais, as metamorfoses constantes que o levaram a ser hoje explorador travestido de judeu e amanhã autor de um dicionário tuaregue, hoje soldado do exército francês e amanhã jardineiro de alguns monges em Nazaré, realçam o seu constante estar à procura. Foucauld não cessou de responder ao chamamento do seu eu profundo, onde fosse que Deus o chamasse.

Foucauld, como Gandhi ou Simone Weil a outros níveis, fez da própria vida uma autêntica e contínua experimentação. Encontramos a razão nas palavras seguintes.

Consciência

Um olhar mesmo superficial aos escritos de Charles de Foucauld, sobretudo diários espirituais e cartas, faz-nos compreender como ele atravessou a vida escrutinando a própria consciência, entrando nas motivações dos próprios atos, revendo as intenções, examinando minuciosamente o mínimo detalhe, como tinha aprendido de Santo Inácio, projetando sonhos com os quais dar corpo a uma intuição, observando-se no espelho de Jesus Cristo, o seu Bem-amado, estudando o que seria mais aconselhável e oportuno, censurando-se as falhas, agradecendo os dons recebidos, louvando por tanto bem e bondade, programando o impossível... Foucauld, que na juventude foi soldado, não cessou de o ser plenamente na maturidade. Não era apenas um enamorado, é inútil dizê-lo, mas também um estratega, alguém que projeta o próprio dar-se: que reforça os lados mais fracos, que traça planos para dar fecundidade ao seu ingovernável amor. Foucauld percorre um grande número de dias e de horas na mais rigorosa solidão e no mais estrito silêncio. É neste terreno de cultura que aprendeu a escutar. O aspeto mais surpreendente da sua personalidade é que não escutou simplesmente a si próprio e, por esta via, Deus e os outros, mas que obedecia às vozes que escutava e, ainda mais, que fez de tal escuta e obediência um estilo de vida: sempre a escutar e a obedecer, sempre dentro da aventura de ser si mesmo. Reconhecendo sempre que era ele a melhor palavra, melhor, a única, que Deus lhe tinha concedido.

Deserto

Foi este o cenário privilegiado da escuta permanente, uma escuta quase assustadora, de Charles de Foucauld. E não por acaso. Foucauld converte-se na África do Norte, surpreendido pela extraordinária religiosidade dos muçulmanos. Entende o deserto em primeiro lugar em chave metafórica, por isso experimentou ser monge inicialmente na região de Ardèche, em França, depois em Akbés, na Síria, portanto na Terra Santa; mas não tardou a regressar ao deserto do Sara, o da sua juventude, o seu amado Marrocos e a sua desejada Argélia. O destino e a Providência marcaram-lhe lá encontro. Os fenomenólogos e os historiadores das religiões realçaram como o Médio Oriente foi o principal berço das religiões. Não penso apenas nas tradições monoteístas - judaísmo, cristianismo e islão - que claramente lá têm o seu tronco, mas também nos fenícios, babilónicos, egípcios... Para aquelas terras também se dirigiu o nosso Foucauld, talvez porque poucas regiões da Terra como essa, na sua desolação, sabem evocar o mundo interior e a ele o remeter com tanta força. O vazio externo, portanto, como incitamento àquela obra de esvaziamento que no cristianismo chamamos esquecimento de si ou pobreza espiritual. O deserto como lugar da vitória sobre a provação ou, que é o mesmo, como descoberta da sarça ardente ou chama de amor viva a que se acede para além da noite escura do abandono e da solidão.

Foucauld voltou ao deserto como fez Israel ao sair do Egito ou como fez o próprio Jesus Cristo pouco antes de dar início ao seu ministério público. Por isso Foucauld é, para mim, um novo Moisés, mas sem povo, ou com um povo invisível. Ou um novo e amoroso Jonas que prega na sua Nínive. Foucauld é um pró-memória permanente de como não há caminho espiritual sem deserto e purificação.

Adoração

No meio do deserto, espelho da sua consciência e território das suas procuras, Foucauld adorava. É uma palavra que hoje nos soa estranha, mas adoração significa, simplesmente e linearmente, que o homem não se realiza sobre a via do ego, mas quando sai do próprio micromundo e vence essa tendência tão nefasta e generalizada que é a posse e a autoafirmação. Adorar quer dizer apenas parar de viver a partir do pequeno eu para ceder o passo ao eu profundo, onde habita o hóspede divino. A adoração, ou oração contemplativa, é a única medicina para a idolatria do eu. «Ao Senhor, teu Deus, adorarás: só a Ele prestarás culto» é a resposta de Jesus à última tentação com que o diabo o prova. Hoje poderemos traduzir: tu não és o centro do mundo, sai de ti mesmo. E é quanto Foucauld fazia dia e noite, durante horas e horas sem interrupção, de joelhos diante do seu pequeno tabernáculo, cheio ou vazio. Foucauld corre o risco da solidão e da diversidade como poucos outros homens e mulheres do nosso tempo. O risco de se perder definitivamente.

Como poucos atravessou o muro de silêncio que lhe pôs diante de si a sua miséria e que, depois de anos de luta, o conduz a uma doce, íntima certeza. Quer o saibamos ou não, todos aqueles que estão á procura têm - temos - em Charles de Foucauld um mestre insigne. Amou muito porque calou muito. Hoje nós falamos dele porque se esvaziou de si.

Nome

Esta adoração, esta nudez absoluta cada vez mais radical, esta peregrinação ao próprio centro em que se encontra o templo da verdade, Foucauld levou-a ao termo, à maneira dos padres do deserto um milénio e meio antes, como uma arma tão simples quanto eficaz: o doce nome de Jesus. Poucos homens na história como Foucauld deixaram um testemunho escrito tão eloquente do seu apaixonado amor por Jesus de Nazaré. Ao abrir qualquer um dos seus diários e qualquer uma das suas páginas encontrar-se-á sempre, sempre, expressões incendiadas por um ardor quase insuportável: «Amo-te, adoro-te, quero dar-te tudo, quanto me amas, quanto te amo, dou-te graças, entrego-me nas tuas mãos, faz de mim o que quiseres, louvo-te, meu Bem-amado...». O nome de Jesus acompanhou-o, como um incessante mantra, durante quase todos os minutos da sua vida. Foucauld era um louco de amor, um apaixonado deste nome. Alguém que deixou que o nome, e a pessoa que ele evoca, o possuíssem.

Isto significa que a solidão na qual Foucauld viveu, por quão dura pudesse às vezes ser, era uma solidão acompanhada. E que o seu silêncio era sonora, por quão doloroso pudesse, muitas vezes, ser para ele. Uma só palavra explica a incrível vida de Charles de Foucauld: Jesus.

Coração

O nome de Jesus, incessantemente repetido, invocado, sonhado, escrito em centenas de milhares de páginas, radicou-se progressivamente na sua consciência e no seu coração, finalmente unidos naquilo que poderemos chamar o coração consciente, e que eram o lugar no qual tal Presença residia. A certo ponto da sua vida, esmagado por tanto amor, Foucauld cozeu um coração vermelho no seu hábito branco, dando uma clara prova de como aquele coração o tinha atado. Foucauld foi certamente um sentimental, mas no interior de uma personalidade poliédrica de incomparável riqueza. Ainda que a sua fosse uma vocação à oração contemplativa e silenciosa, nunca abandonou a oração afetiva, alimentada por palavras e imagens que a mantinham acesa.

Praticou aquela que os hesicastas chamam a custódia do coração: sentir a vida, oculta e frágil, em cada palpitação; sentir a Vida com maiúscula nesta nossa vida, tão limitada e intensa, tão humana e tão divina.

Fracasso

No termo da vida, pouco antes de ser assassinado, Foucauld encontrou-se - serviram-lhe décadas inteiras para chegar a isto - com as mãos felizmente vazias. Poder-se-ia dizer que ao longo da sua existência recolheu um fracasso após o outro: último da sua classe no exército, no qual esteve várias vezes para ser expulso por causa dos seus escândalos e indisciplina. Fracasso também como patriota e fez abortar a sua vocação de explorador, atirando às urtigas uma brilhante carreira profissional. Monge fracassado na trapa de Cheikhlé. Resultou também em nada o seu quimérico de adquirir o Monte das Bem-aventuranças para aí se estabelecer como eremita. Inútil também como simples ajudante ou doméstico. Nem uma só conversão em tantos anos de apostolado.

Nem sequer um seguidor depois de ter redigido tantos esboços de Regra para os eremitas que projetava. Ignorado pela administração civil como pela eclesiástica, não teve junto a si nem um escravo libertado nem um companheiro para a sua missão... Foucauld é um dos mais conseguidos ícones do fracasso. Porque preferiu os últimos lugares aos primeiros, a vida oculta à pública, a humilhação à elevação.

Por tudo isto, Foucauld é a imagem em que podem reconhecer-se todos os fracassados da história. E por tudo isto vejo as pessoas do mundo caminharem muitas vezes para uma direção e Foucauld na oposta. Não é, todavia, o único; há outros com ele, todos solitários, todos loucos. E o primeiro desta fila é o próprio Jesus Cristo, o mais louco de todos.

Termino este léxico de Foucauld com uma nota pessoal. Em maio de 2014 fundei na minha cidade a associação "Amigos do Deserto", uma rede de meditação, com crentes e não crentes, interessados no aprofundamento e na difusão da experiência do silêncio a partir da tradição espiritual do hesicasmo. Desde então quase um milhar de pessoas foram iniciadas, em diversos pontos da geografia espanhola e europeia, à oração do coração. E todos, numa ocasião ou noutra, muitos diariamente, recitamos as palavras que Foucauld, verdadeiro fundador destes Amigos do Deserto, deixou escritas como testamento: «Pai meu, eu me abandono a ti. Faz de mim aquilo que quiseres. O que quer que faças de mim, eu te agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo, desde que a tua vontade se cumpra em mim e em todas as tuas criaturas. Não desejo nada mais, meu Deus. Entrego a minha alma nas tuas mãos, dou-ta, meu Deus, como todo o amor do meu coração, porque te amo. E é para mim uma exigência de amor o dar-me, o entregar-me nas tuas mãos sem medida, com uma confiança infinita, porque tu és o Pai meu». Quanto escuto esta oração, às vezes proclamada em uníssono por centenas de Amigos do Deserto, sinto subir em mim uma profunda ação de graças e compreendo, como nunca, que não basta uma vida para ver os frutos de uma sementeira.

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