Francisco entrou na intimidade do Evangelho e percebeu-o puro e sem retoques. Por isso, a Igreja o chamará de Homo totus Evangelicus, quer dizer, que “se evangelizou” na totalidade do ser e na radicalidade das exigências. E mostrou, ao mesmo tempo, que o Evangelho, no seu todo, é algo possível de ser traduzido em vida.
O próprio Papa Inocêndo III, observara que a norma de vida da primitiva da comunidade era por demais árdua para compor um programa de vida, mas a tempo foi advertido que não poderia declará-la impossível, pois declararia impossível o Evangelho de Cristo.
Para Francisco, a afirmação do Papa significava a impossibilidade de seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois vinham eles retraçados, concretamente, nas páginas do Evangelho. Esta concreteza com que percebia o Evangelho fazia Francisco recorrer a ele com a simplicidade e a confiança de quem recorre a um “diretor espiritual”.
Com naturalidade, colocava os livros dos Evangelhos à sua frente e os abria, a esmo, encontrando exatamente a Palavra que lhe servia de resposta. Não argumentava, não discutia, não duvidava. Deus acabara de lhe falar. E feliz partia para executar as ordens que acabara de ler.
Assim fala Celano, na vida I (n° 92-93): que abrindo o Evangelho, pôs-se de joelhos e pediu a Deus que lhe revelasse qual a sua vontade. “Levantando-se, fez o sinal da cruz, tomou o livro do altar e o abriu com reverência e temor. A primeira coisa que deparou, ao abrir o livro, foi a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, no ponto em que anunciava as tribulações pelas quais haveria de passar. Mas, para que ninguém pudesse suspeitar de que isso tivesse acontecido por acaso, abriu o livro mais duas vezes e o resultado foi o mesmo. Compreendeu, então, aquele homem cheio do espírito de Deus, que deveria entrar no reino de Deus depois de passar por muitas tribulações, muitas angústias e muitas lutas…”.
Este artigo faz parte da série do site Franciscanos para o Mês da Bíblia: O Evangelho pautou a vida de São Francisco de Assis.
Fonte: Franciscanos. Autor Original: Frei Hugo Baggio (extraído do livro “São Francisco Vida e Ideal, da Editora Vozes).