Eu desenvolvi a maior parte do meu ministério (ano de ordenação: 1961) na periferia de uma grande cidade. Há pouco mais de um ano, venho acompanhando a missa a partir dos bancos da minha localidade natal, uma paróquia de cerca de 4.000 habitantes. Eu vou aos domingos de manhã à missa das 8h, frequentada – como se pode imaginar – principalmente por pessoas de uma certa idade.
Digo logo que, todas as vezes, eu saio desconfortável, pelo espetáculo de uma celebração formalmente correta, mas que, em alguns detalhes, percebo como desleixada e apressada, não particularmente amada por quem tem menos de meia idade. Gostaria de tentar dizer por que, sem querer colocar a culpa em ninguém, mas apenas na esperança de que algo possa ser feito, pelo menos para não ser forçado a pensar que “essa” liturgia está destinada a desaparecer com a geração, à qual eu também pertenço, quem tem a paciência de continuar a frequentá-la.
Antes desse discurso, e de imediato, ponho a convicção que eu desenvolvi, com tristeza, nesse ano: parece-me que padres e leigos recolheram da reforma litúrgica apenas o fato de que se passou do latim para o italiano, porque tudo se desenvolve como se as palavras do missal fossem automáticas, em quem preside a celebração e em quem dela participa. E acrescento uma segunda, que explica o que eu acabo de dizer, ou seja, que nos esquecemos de que a comunidade litúrgica nunca é feita e muito menos cresce por si só.
A participação na liturgia deve ser constantemente educada, motivada e reavivada, e isso depende em grande parte do estilo da celebração, que não é uma questão de estetas (o esteticismo é uma doença tão irritante quando o desleixo, porque ambas ignoram o coração do fato), mas é, no mínimo, um problema moral e espiritual. Prossigo por pontos.
Sobre a pontualidade ou o atraso
Parto do sentido e do “mito” da pontualidade, pelo menos para nós do Norte. Assim que o sino bate às 8h, o “encouraçado” parte no primeiro toque. Se alguém entra na igreja enquanto bate o terceiro ou quarto toque, ouve que já estão cantando o canto de entrada! Certamente, não pretendo dizer que se possa ser aproximativo em relação ao horário, mas apenas me permito observar que tal rigidez pressupõe que, no tocar da hora, a comunidade já existe! Isso não é óbvio. Ao contrário, temo que justamente esse pressuposto seja a raiz dos outros problemas que vou listar. Dou um exemplo. Por que, em vez de começar logo com o sinal da cruz, não se toma um pouco de tempo para responder à pergunta: por que estamos aqui nesta manhã, para fazer o quê? E, talvez, seria a oportunidade para lembrar que a primeira razão que nos convoca em assembleia no dia do Senhor é agradecer a Deus por todos os seus dons, que, aliás, é o sentido da própria palavra “eucaristia”, e isso antes de pedir graças, antes de pensar em escutar, ou sofrer, a homilia. Nas cidades pequenas – e isso é bom –, quando eu entro na igreja, já encontro a comunidade reunida. É muito raro quem chega atrasado. Na cidade grande, especialmente nas missas do fim da manhã, era um desespero: era preciso passar até 20 minutos ou mais antes de ver a assembleia reunida.
Uma vez, encontrei a oportunidade para um gesto que era um pouco fora do comum. Subi ao altar na hora prevista e li para aqueles que estavam lá, talvez a metade daqueles que depois chegariam, uma norma do missal que diz: “Quando o sacerdote vê que a assembleia está reunida, dá início à celebração”, e continuei assim: “Os primeiros 10 bancos vazios dizem que ainda faltam muitas pessoas e, portanto, como a palavra de Deus, com relação à ceia eucarística, diz: ‘Irmãos, quando vocês se reunirem para a ceia, esperem uns pelos outros’ (1Coríntios 11, 33), agora sentemo-nos e esperemos que a comunidade esteja reunida”.
Deixo à imaginação a surpresa dos muitos retardatários que, ao entrar, encontraram um grande silêncio e viam que não acontecia nada. Às 11h50, iniciei a celebração, tranquilizando os fiéis: “Não tenham medo pelo almoço: a homilia não vai durar mais do que três minutos, porque o que eu tinha a dizer já disse com o gesto que fizemos”. Certamente, não são coisas para se fazer todos os dias: perderiam a eficácia, mas eu acho que um chamado ou um ensinamento de vez em quando não faria mal.
Sobre o ritmo e a sonoridade
Eu disse que uma comunidade do interior, onde todos se conhecem, tem as suas vantagens e os seus riscos. Um deles, e talvez o mais grave, é dar tudo por garantido, prosseguir na oração e no canto como que no automático, quase como se um povo de múmias estivesse celebrando. Se se percebe um “movimento”, e certamente não virtuoso, é no modo de cantar e de intervir nas aclamações ou para responder aos convites do presidente. Em ambos os casos, revela-se a compostura de uma assembleia coesa e compacta ou a pouco alegre confusão de um “povo” em que cada um parece estar por conta própria.
No canto, por exemplo, nunca falta alguém que sente o dever ou a necessidade de se destacar, elevando a voz bem acima dos outros. Aqui está a ideia de que se está celebrando em uma “comunidade”, mas isso funciona de modo perverso: vive-se isso como em um estádio, onde se compete com aqueles que estão em primeiro lugar ou chegam antes dos outros. Acho que a questão de se destacar no canto é tão velha quanto a Igreja: Elredo de Rievaulx (século XII) dá uma versão dilacerante disso no seu “Espelho da caridade” (2,67), no capítulo dedicado à vanglória, mas D. Bonhoeffer (século XX) também fala disso, quando fala da oração da manhã em “A vida comum” (pp. 82-83).
Seria possível fazer uma divertida antologia das tantas passagens que repassam esse tema na literatura, sobre o qual até São Francisco intervém na “Carta à Ordem” 41-42 (FF 227), ecoado por um dos seus primeiros seguidores, o franciscano alemão David de Augsburgo (século XIII), que, em “A composição do homem exterior e interior”, escreve: “No Ofício divino, a tua intenção deve ser direcionada principalmente a tirar das palavras da Sagrada Escritura uma inteligência espiritual e um sentimento de devoção em vez de espremer, cantando as notas de modo afetado ou a exaltar a voz como uma trombeta, embora alguns religiosos acreditam inutilmente que, com isso, prestam obséquio a Deus (Jo 16, 2); porque, se Deus se deleitasse com a sonoridade da voz, então a música dos instrumentos e dos pássaros também lhe seria fonte de doçura, porque, a seu modo, são muito doces” (p. 171).
Sobre a aclamação e o Amém
Um espírito de competição semelhante também aparece – e isso cria um incômodo ainda mais insuportável – nas intervenções da assembleia que, no espírito da reforma litúrgica, deveriam estimular e evidenciar a “participação” no rito, antes quase totalmente sequestrado pelo presidente. O que se destaca visivelmente, no entanto, é a pressa e a confusão de uma comunidade em que as vozes não encontram um modo para concordar, o que implica que cada um “escute” os outros para se colocar no seu ritmo, o que muitas vezes exige uma voz-guia que não se sobreponha, mas precisamente “guie” com delicadeza o caminho de todos. Nada está a salvo desse espírito de competição que leva à pressa da corrida. Existem até aqueles que lançam o seu Amém antes ainda que a oração da coleta termine!
A propósito, há alguém que ainda explique o sentido dessa palavrinha tão densa de significado? É bonito que, para se dar conta dela e assumi-la com plena consciência, aqui e acolá, adquiriu-se o belo hábito de cantá-la, até três vezes, como no caso do Amém que conclui a Anáfora. O mesmo acontece com “Vosso é o reino…” etc., em que os três esplêndidos substantivos saltam uns sobre os outros como se se tratasse de uma lista genérica a ser terminada rapidamente. Por que não se habituar, mais uma vez, a cantar essa grande aclamação, talvez na facilíssima melodia do Christus vincit?
E o que dizer do “Senhor, eu não sou digno…”?
Mas onde o ritmo atinge o delírio e a confusão é na resposta ao “Orai, irmãos e irmãs…”, a ponto de ser preciso se perguntar: o que essas pessoas estão pedindo? O texto diz: “Receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício, / para a glória do seu nome, / para o nosso bem e o de toda a santa Igreja”.
São três os membros dessa oração, que envolvem três atitudes espirituais:
1) que Deus goste daquilo que nós oferecemos em sintonia com Jesus;
2) acima de tudo, em louvor a Ele;
3) subordinadamente, pelo bem da Igreja.
O modo de recitar essa fórmula mostra sonoramente que ninguém parece pensar naquilo que está dizendo. A única esperança de uma recitação calma e decorosa pode ser obtida quando o texto não ultrapassa as cinco palavras, como em certos refrões do Salmo Responsorial, porque, se se vai além disso, começa a baderna.
Sobre o Glória e o Creio
Ainda não falei do Glória e do Creio, textos de uma extraordinária densidade. Sobre o Creio, cito apenas a belíssima “Introdução ao cristianismo”, do cardeal Ratzinger, e, quanto ao Glória, lembro que uma vez preguei um retiro de Advento fazendo com que se escutasse, com o comentário apropriado, seis versões musicais do hino, do barroco aos contemporâneos, em que cada interpretação enfatizava um modo particular de entender um texto que tem uma variedade incrível de sugestões. Mas essa é outra história, embora me entristeça o fato de que ainda é muito pouco explorado o potencial catequético e espiritual da música: pense-se, apenas para dar um exemplo, naquilo que se aprende a partir da escuta da versão musical de um Salmo ou de uma missa.
Neste ponto, acho que o leitor entenderá o meu sofrimento quando percebo que, mesmo nesses textos que – não nos esqueçamos – são a primeira “escola de fé” (e, também por isso, não seria nada mal, às vezes, tomar um tempo para explicá-los, já que a homilia pode ter como assunto qualquer parte da missa, começando pelo Amém), é precisamente quem preside a assembleia que lança a corrida!
E aqui me permito lembrar que um estilo decoroso de celebração envolve que se dê o devido destaque às palavras, evitando tanto a ênfase indevida quanto a pronúncia apressada e incolor. Por que às vezes sentimos que, mesmo em exemplos que vêm de cima, quando se prega, se percebe a paixão da convicção, e quando, depois, se passa para o “roteiro” previsto (coleta, anáfora etc.), a voz parece se apagar em um tom veloz e sem sentimento?
Sobre o silêncio ou o barulho
Deixei o silêncio por último. É constante o lamento de que há muito pouco silêncio na liturgia. Vivemos em um tempo em que o barulho, em todos os sentidos do termo (refiro-me não apenas ao ruído, mas também ao fluxo de palavras na verborragia do rádio e da televisão), grassa por toda a parte. Não se pode recuperar a seriedade e o valor moral da palavra senão envolvendo-a de silêncio.
Os textos que, na missa, exigem uma atenção absoluta são as orações de coleta, em particular as antigas, valiosas pela sua densidade e concisão, duas qualidades que, especialmente hoje, as expõem ao risco de passar despercebidas. As rubricas preveem um momento de silêncio após o convite “Oremos”. Sabemos que nem todos sabem preencher o silêncio de modo frutífero, e, com efeito, essa pausa se dissolve com a velocidade da luz. Muitas vezes, utilizando o fato de que os fiéis têm em mãos o folheto com os textos da missa, eu costumava introduzir a oração da coleta assim: “Agora vou ler no nome de vocês uma oração na qual vocês vão assinar com o seu Amém. Para não assinar em branco e para prestar atenção naquilo que vou dizer, usem um momento de silêncio para ler o texto com calma antes que eu o pronuncie”.
Pensando nisso novamente, isso poderia parecer capricho de um pobre velho, “pensamentos de um cérebro árido em uma estação árida”, como escreve T. S. Eliot no poeminha Gerontion. Em vez disso, acho que são o produto de uma situação que o padre celebrante corre o risco de não ver. Participar da eucaristia “a partir dos bancos” poderia mostrar, em vez disso, como pode ser fecunda a visão a partir das margens!
Fonte: Franciscanos. Autor: Nico Guerini, padre italiano, estudioso de literatura e especialista em textos de mística, em artigo publicado em Settimana News, 14-11-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto, do www.ihu.unisinos.br.