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05 Abril 2019

Campanha 'Em nome de que, São Francisco?' convoca sociedade para proteger um dos principais rios do Brasil

Escrito por  Gabriela Lapagesse, editora da ONG Uma Gota no Oceano.

“É uma tragédia imensa, continental. É a maior tragédia envolvendo água que já aconteceu no país. Expande o que aconteceu com o Rio Doce e em Brumadinho”. Foi assim que o diretor Luiz Fernando Carvalho, responsável pela supervisão artística da campanha “Em Nome de que, São Francisco?” caracterizou a contaminação por metais pesados que chegou ao rio mais conhecido do país. A campanha, lançada hoje, tem por objetivo convocar a sociedade brasileira para defender o Velho Chico.

Colaborador, desde 2017, da ONG Uma Gota no Oceano – onde dirigiu o vídeo “Saltos Sagrados” e finaliza documentário gravado na Terra Indígena SawréMuybu com o povo Munduruku, às margens do Rio Tapajós - Luiz Fernando Carvalho relembrou a importância do Velho Chico. “Minha relação com o São Francisco vem da infância. Minha família é de origem nordestina e viajava comigo nas férias sempre para lá. Aprendi, ainda criança, a lição de que o São Francisco é o rio da integração nacional, é o nosso maior rio. Ele é essencialmente brasileiro, nasce e morre em território nacional. Cuidar da água é cuidar dos seres humanos”.

Com a informação divulgada pela Fundação SOS Mata Atlântica de que a lama tóxica da barragem de rejeitos da Vale que rompeu em Brumadinho havia chegado aos rios Paraopeba e São FranciscoUma Gota no Oceano produziu a campanha e Luiz Fernando naturalmente se envolveu no projeto. São mais de 14 milhões de pessoas que serão diretamente afetadas. “Habitam todo o curso do São Francisco quilombolas, ribeirinhos, indígenas, um conjunto enorme de populações invisíveis. A exploração indevida do rio, como a colocação de barragens, acaba por transformar estas vítimas ainda mais invisíveis. É uma tragédia invisível para a população em geral. As pessoas vão deixar de pescar, de se banhar”, comentou o diretor, que levou o compositor, produtor musical e pianista Tim Rescala a fazer parte do projeto, assinando o arranjo para a versão musical, de Padre Irala, da Oração de São Francisco.

É uma música muito conhecida. Abriu e fechou a novela Velho Chico. Pelo fato de ser conhecida e pelo texto que ela tem, ela toca as pessoas. Vai muito além da Igreja Católica. Só não toca a ganância das empresas”, comentou Tim, que esteve duas vezes em Pirapora, em Minas Gerais, e teve a oportunidade de conhecer populações ribeirinhas que vivem às margens do rio. “Eu vi que o rio move a vida das pessoas. O cidadão comum é vítima”, contou o produtor musical, que, explica, fez o arranjo da Oração de São Francisco rapidamente. “Foi natural. É uma sinfônica, mas tem também viola caipira, acordeão, chega mais perto das pessoas”.

Gabriel Leone, que dá voz ao Rio São Francisco na campanha, ressaltou a importância do projeto. “Foi muito mágico conhecer o rio. Além da beleza natural, a importância dos ribeirinhos, das pessoas, a convivência com elas foi incrível na época da novela. Aceitei este projeto de primeira. É uma causa que me toca muito. Me sinto impotente e penso no que posso fazer, como contribuir minimamente para alertar para essa situação. Ver as imagens do rio, escutar a oração, ler o texto, que é poético, mas ao mesmo tempo de protesto, profundo.... não tive muita escolha na hora de interpretar se não colocar o meu coração nela”, contou o ator, que foi um dos principais personagens da novela Velho Chico e, por isso, esteve algumas vezes no rio.

“Me colocar na pele das pessoas e do rio foi doído. Adoraria enaltecer o rio e falar de coisas bacanas que estão acontecendo. Por todos os encontros que tive ali, representar pessoas que vivem o rio diariamente, não poderia estar mais realizado em participar. Que a comunicação atinja e toque as pessoas, inclusive as que comandam o país”, finalizou.

Um grupo de organizações assina o vídeo, são elas: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Uma Gota no Oceano, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), Conselho Pastoral de Pescadores (CPP), e Comissão Pastoral da Terra (CPT), além do apoio técnico da Fundação SOS Mata Atlântica.

MAB, APIB e Conaq fizeram uma petição online que será entregue ao ministro do Meio Ambiente, ao ministro de Minas e Energia e ao ministro de Desenvolvimento Regional, pedindo mudanças na Lei de Licenciamento Ambiental do país. A petição será lançada hoje, no site www.emnomedeque.com.br/saofrancisco.

 

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