“Bem-aventurados são os pobres de espírito porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5,3)
A pobreza dos consagrados não consiste na privação de alguma coisa e muito menos se identifica com o desprezo de qualquer bem ou criatura. É uma pobreza evangélica cujo sentido último é por causa do Reino dos céus. Pobreza por causa do Reino é compreender de antemão que sua raiz e sua força originária está no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. A partir daí, temos a missão de sermos pobres não diante de nossos próprios conceitos e parâmetros, mais diante da pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.
O que é ser pobre segundo o Evangelho de Jesus Cristo?
Todo discípulo é chamado por Jesus a segui-lo mais de perto e estar ao seu lado. Deste chamado e deste seguimento é que surge o desejo e o convite a renunciar todas as coisas pelo Reino de Deus. Isto é, um ‘sim’ dado a Deus nos leva a um ‘não’ às coisas que não são mais necessárias para o discipulado.
Este ‘sim’ dado a Deus leva o consagrado a perceber que uma só coisa lhe é necessária: estar ao lado de Jesus. E ser pobre na vida consagrada é consequência de um encantamento pelo chamado do Senhor. Neste ínterim, ser pobre é proclamar com a própria vida que Deus é o nosso único Senhor e sem o qual nada seríamos. De Deus tudo provém e por Ele fomos criados.
Mas, em que consiste a pobreza de Cristo? E o que é ser pobre como Ele é pobre?
Cristo é todo voltado para o Pai. Sua vontade é a vontade do Pai, de tal modo que, esvazia-se de si mesmo para assumir em sua vida seu plano de amor. Pois, só sendo pobres que somos capazes de sermos livres e de nos doarmos uns aos outros sem reservas, sem preconceitos e sem ‘segundas intenções’. A pobreza de Cristo nos ensina a assumirmos nossa finitude e a reconhecermos que ser divino é ser humano.
No entanto, o que significa assumir nossa finitude? É todo dia ter que levantar, trabalhar, estudar, passear, enfrentar as dificuldades, os problemas e as dores de cada dia com a mesma coragem e confiança de Jesus Cristo na cruz. Isto é, a confiança de Jesus no Pai. O tesouro e a herança de nosso Senhor Jesus Cristo é cumprir a vontade do Pai.
Da pobreza de espírito
“São muitos os que insistem nas orações e nos ofícios e fazem muitas abstinências e aflições em seus corpos. Mas, por causa de uma só palavra que lhes pareça injuriar seus corpos ou por causa de alguma coisa que se lhes tire, ‘escandalizados’, imediatamente se perturbam. Estes não são pobres de espírito. Porque, quem é verdadeiramente pobre de espírito odeia a si mesmo e ama os que lhe ‘batem’ no ‘queixo'” (Adm 14).