O franciscanismo alimenta a sua vida a partir do Evangelho. Quando deixou de alimentar-se do Evangelho, conheceu momentos sombrios na história e deu mais peso à instituição do que a inspiração original. A instituição conhece alguns escândalos, a intuição conhece o discernimento. Os frades primitivos fizeram um discernimento espiritual e um caminho espiritual e, a partir daí, o compromisso social. Realimentaram a sua escolha e a sua fé no encontro com as pessoas no caminho da realidade da Úmbria e ganharam o mundo com força de missão. Mantiveram uma comunhão com a eclesiologia do seu tempo, mas aprofundaram sua fé a partir da comunhão íntima com a Boa Nova. E reencantaram a Boa Nova no espaço eclesial de então. Eram coerentes com a Palavra que tomaram nas mãos, preencheram o coração, transformaram em prática.
Celebraram a fé nas estradas, nos êremos e nas praças. Não era apenas a fé das cabeças pensantes da escolástica e dos debates teológicos da época, mas a fé que estava no coração: sentir em profundidade a presença de Deus. Levaram a certeza de todos serem Irmãos e Irmãs de um modo novo de viver e conviver como homens e mulheres novas. Não entraram muito na luta pelo poder, na sedução hierárquica e no espólio das Cruzadas. Viveram um cristianismo que deu mais espaço para a mística, para a gratuidade e para a ternura.
Inicialmente, nas estradas da Itália e depois para o mundo, traçaram um modo de viver o amor e a justiça mostrando ser este o melhor caminho para o seguimento de Jesus. A conversão foi o ponto de partida de todo este caminho espiritual e socialmente fraterno. Uma conversão que comportava uma ruptura com a vida elevada até então e empreender uma nova meta. Uma conversão que levasse Jesus Cristo junto com as decisões da vida, tirando qualquer empecilho que embaraçasse a relação com Deus. Renunciaram tudo o que prendia na mente e nos cofres.
Conheceram bem a realidade porque estavam nela como peregrinos e atentos. Inseridos dentro de um processo histórico do século XIII tornaram-se realistas e eficazes em suas ações. Não estavam no dever de praticar a esmola, mas sim de ver e estar dentro da necessidade de alguém. Não trabalharam em função do outro porque isso trazia momentos de forte energia ou era uma solução para a ociosidade, mas sim trabalharam porque havia necessidades urgentes a serem atendidas. Fizeram tudo de um modo gratuito e extremamente desapegado. A gratuidade veio do abandono total à providência divina.
(Autor: Frei Vitório Mazzuco. Via: CarismaFranciscano).