Uma vida para Deus
A vida consagrada expressa-se teologicamente na ordem do sinal: manifesta, indica que o Reino de Deus está entre nós. Isto tem um peso profético muito forte no ser e no fazer, na vida pessoal e fraterna, no estilo de vida concreto e cotidiano. Tudo deve “conduzir, lembrar, assinalar, indicar”. Porém para “conduzir” ao Reino é necessário uma transparência, “que seja um sinal claro” e estrutural, necessário uma contínua purificação de nossas convicções, de nossas imagens de consagrados, de pessoas que pertencem ao Senhor “como testemunhas da luminosa presença do Senhor em meio a nós” (Bento XVI). Vida que é revelação: revela o amor do Pai pelos homens, manifesta uma vida totalmente orientada para o Reino, uma vida serena e reconciliada consigo mesmo e com os outros. Somos chamados a liberar esta imagem que habita em nós para fazê-la brilhar em nós e ao nosso redor, remetendo-a a Ele, ao Deus da vida. Isto supõe uma visão unificada de nossa vida.
Fidelidade é também mudar
Se de uma parte ocorre “habitar” serenamente a própria corporeidade, os próprios gestos, a própria palavra, as próprias ações, de outra é necessário tornar transparentes e significativas as estruturas nas quais a vida consagrada está inserida no cotidiano. É importante não viver para as estruturas, mas torná-las sinais vivos, eloquentes e provocativos para encaminhar, nós e os outros, na direção do Evangelho. Elas, essas estruturas, devem estar a serviço de valores, e não vice-versa.
Quão fácil é transformar a vida religiosa numa moldura vazia, fazer das estruturas a razão de nossa vida esquecendo, inclusive, o mandamento do amor. Quão difícil é adaptar ou criar novas estruturas mais eloquentes, mais significativas, mais transparentes, sobretudo nesse mundo que muda com tanta rapidez, num mundo habituado à imagem dos sinais!
Ser fiel não significa repetir, mas responder a Deus que pede em cada estação, em cada etapa uma resposta nova! O verdadeiro consagrado é fiel a Deus e ao homem de seu tempo: é um apaixonado por Deus e pelo homem. A fidelidade ao carisma não significa imutabilidade rígida e estrutural, mas requer a capacidade de tornar vivas e eloquentes todas as estruturas e mediações tanto para nós como para os outros. Portanto, formar-se e viver a transparência exige um empenho sério que possa convergir para uma única paixão a nossa experiência espiritual.
Via: Franciscanos. Autor: Frei Almir Guimarães.