Celebramos hoje (9), a dedicação – consagração – da Basílica do SS. Salvador ou de São João de Latrão. A Basílica do Latrão é considerada a igreja-mãe de todas as igrejas católicas, por ser a catedral do Papa, bispo de Roma. Apesar da Basílica de São Pedro ser a mais visitada e a mais famosa das quatro basílicas papais romanas, a de São João de Latrão é a única que pode ser considerada Catedral, ou seja, a cátedra do bispo de Roma. Nela também estão a cadeira de pastor e de mestre do Santo Padre. Também conhecida como Arquibasílica papal de Roma, Catedral de Roma, seu nome oficial é Archibasilica Sanctissimi Salvatoris (Arquibasílica do Santíssimo Salvador), nome anterior ao atual. Ela foi a primeira das quatro basílicas papais a ser construída e é dedicada a dois São Joãos: São João Batista e São João Evangelista (apóstolo de Cristo e autor do evangelho).
Estando a poucos quilômetros do Coliseu, das Termas de Caracalla e da Via Ápia Antiga, imaginem que, como é o caso de quase todos os edifícios do centro de Roma, ela foi construída em cima de ruínas romanas pelo imperador Constantino, durante o pontificado do Papa Melquíades, no século IV, no terreno doado por Fausta, esposa do Imperador. Nela foram realizados os quatro primeiros Concílios Ecumênicos realizados no Ocidente: em 1123 para resolver a questão das Investiduras, (o provimento em algum cargo eclesiástico por parte do poder civil): em 1139, sobre questões disciplinares; em 1179 para tratar da forma de eleição do Papa; em 1215, sobre várias heresias e a reforma eclesial.
Sucessivamente, Constantino (o mesmo que construiu a primeira basílica de São Pedro) cedeu o palácio ao bispo de Roma. Dentro deste palácio, que era mesmo a casa onde o Papa morava, foi construída a basílica. O prédio passou por pelo menos três grandes reconstruções: em 897 foi quase destruído por um terremoto. Em 1308 e 1360 sofreu dois grandes incêndios. Em 1993, a Máfia colocou um carro-bomba na frente da basílica, destruindo a fachada. Isso porque o Papa, em uma viagem à Sicília, havia feito um sermão contra as associações mafiosas.
Francisco reconstruiu a Igreja
“Um dia, rezando na Capela de São Damião, que estava em péssimo estado devido ao abandono, aconteceu algo diferente. O Povorelo estava de joelhos aos pés do Crucificado quando uma voz lhe disse “Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”. E, não compreendendo ainda o real significado deste chamado, ele saiu e, indo até a sua casa, tomou alguns caros pertences e os vendeu por um preço bem menor nas ruas da cidade. Pegou o dinheiro da venda e deu ao sacerdote da capela e se ofereceu para ajudar com as próprias mãos na reconstrução do local. (...) Então, decidiu São Francisco, “Isto é o que devemos fazer e é o que farão todos quantos quiserem vir conosco”. E, assim, estava dado o passo inicial de sua Missão quando, em 24 de fevereiro de 1208, fundou a Fraternidade dos Irmãos Menores. (...) Em 1209, aquele grupo de irmãos mendicantes foram à Roma para aprovar o seu modo e, com a ajuda do Bispo de Assis, foram recebidos pelo Papa. E assim, Inocêncio III, maravilhado com aquele propósito, não só aprovou o modo de vida, como reconheceu em Francisco o homem que a pouco tinha visto em um sonho segurando as colunas da Igreja de Latrão” ¹.
Em 1209, no local onde hoje está a atual Basílica, Francisco e seus onze companheiros receberam a aprovação do Papa Inocêncio III para iniciar sua forma de vida. Antes, conta-nos as legendas, o Papa tinha visto em sonhos que a basílica de Latrão estava prestes a ruir, mas um religioso a sustentava, um homem pequeno e desprezível, que a segurava com seu ombro para não cair. E disse, “Na verdade este é o homem que, por sua obra e por sua doutrina, haverá de sustentar a Igreja”. Foi por isso que aquele senhor atendeu tão facilmente ao pedido do Seráfico Pai e, a partir daí, cheio de devoção de Deus, sempre teve especial predileção pelo servo de Cristo (2Cel 17).
Por que celebrar a Basílica?
Inicialmente os cristãos não possuíam lugares fixos para a celebração da Eucaristia, mas a realizavam em suas casas. Com o passar de algum tempo, mesmo na era dos Apóstolos, se tornou imperioso o encontro de algum local comum para as celebrações litúrgicas. É o símbolo da fé dos cristãos nos primeiros séculos, onde se reuniam para celebrar a Palavra de Deus e os Sagrados Mistérios. Assim, celebrar a festa da dedicação da Basílica de São João de Latão também nos possibilita refletir sobre o sentido do templo como organismo vivo do qual os cristãos são pedras vivas.
Quando alguém é batizado, ele é convocado a compor o corpo místico de Cristo e a ser membro de Sua Igreja, cuja cabeça é o próprio Senhor. A Igreja, templo e corpo, formada por todos os batizados é a manifestação visível da presença do Senhor Ressuscitado. Por isso ela celebra os sacramentos, todos decorrentes da Eucaristia, com a qual somos alimentados e nutridos. É ela, a Igreja, aquela que louva o Senhor com sua liturgia, a esposa sem ruga e sem mancha, que foi purificada pelo próprio esposo, o Cordeiro Imolado. Portanto, celebrar a dedicação de um templo é celebrar aquilo que, na verdade ele representa, o Corpo Místico de Cristo.
Se respeitamos o Templo construído de pedras, de tijolos, deveremos respeitar mais ainda o Templo Vivo, representado por cada ser humano que foi batizado. Nele, criado à imagem de Deus, redimido pelo sangue de Jesus, habita o Espírito Santo. Se nos desdobramos para que o Templo esteja limpo e bem adornado, como então não deveríamos lutar para que todo e qualquer ser humano tivesse a dignidade que atribuímos a um templo de pedra!
Fontes: Canção Nova, Franciscanos e Roma Pra Você.
¹: Texto extraído dos artigos “A Cruz de São Damião” (clique aqui) e “São Francisco Reconstruiu a Igreja” (clique aqui) da série "Vocação Franciscana", que você pode acessar clicando aqui.