Para compreender o próximo é preciso conhecê-lo. Aproximar-se para dialogar. Esta abertura ao novo e ao diferente foi o fio condutor do terceiro e último dia do Simpósio Franciscano que celebrou o jubileu de 800 anos do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão Al Malik Kamil, em Damieta, no Egito.
Não somente na conferência realizada ontem pela manhã no auditório do Instituto São Boaventura (ISB), em Brasília, mas todo o simpósio aconteceu com o objetivo principal do diálogo inter-religioso, tanto para celebrar o encontro ocorrido em 1.219, como também para analisar toda a problemática da relação entre cristãos e muçulmanos nos dias de hoje.
Assim, para abordar esta temática, o painel desta quarta-feira foi composto pelos muçulmanos Abdul Rashid, que é estudante de jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), e Amara Chandoul, Doutor em ciência Islâmica na Tunísia com pós-doutorado em Matemática pela UnB. Representando o franciscanismo, estavam o Dr. Cláudio Fonteles (OFS) e o Prof. Me. Frei Rafael Normando (OFMConv.).
Cristãos e muçulmanos
Para iniciar o debate, o Dr. Cláudio utilizou o documento de Abu Dhabi, assinado pelo Papa Francisco e o Grande Imam de Al-Azhar em fevereiro deste ano e que teve como tema “Irmandade Humana. Para a paz mundial e a convivência comum”.
Em sua reflexão, o membro da Ordem Franciscana Secular explicou que é necessário abrir-se ao diferente para conhecer o próximo. “Quando se ama, você necessariamente tem que sair de si”, disse Fonteneles referindo-se ao documento.
Em seguida, Abdul comentou sobre a proximidade entre Cristianismo e o Islamismo, já que ambas derivam, até certo ponto, do Judaísmo, a religião monoteísta mais antiga do mundo. “Eu acho que esse diálogo sempre deveria ter existido. O problema está quando se mistura política e religião. Não somente conosco, mas esse diálogo deveria acontecer em todo o mundo para que não haja esse medo em conhecer o próximo”, disse ele.
O tunisiano Amara Chandoul questionou os estereótipos e preconceitos que estão relacionados atualmente à islamofobia, um comportamento que tem sido reforçado pelos meios de comunicação ao noticiarem determinados fatos isolados e relacionados a grupos extremistas. Citando o alcorão, Amara explicou que em sua fé é dito que o Amor ao próximo deve ser praticado e não apenas falado.
“Como os mensageiros de Allāh, devemos colocar em prática o amor. Os profetas lembram-se desse amor para Deus e temos que fazer o mesmo, respeitando o próximo e não tendo como objetivo convertê-lo, mas sim de explicar o que é o Islã”, disse Amara.
O Frei Rafael concluiu a mesa de debates falando sobre a mística franciscana e como precisamos ir de encontro ao próximo para conhecer o diferente. Não apenas conversar, mas sim entrar em contato com o universo do outro para assim dialogar. “Não existe intolerância na espiritualidade franciscana”, disse ele.
Ao final, todos participaram de uma celebração inter-religiosa entre Cristianismo e Islamismo. Os elementos de ambas as religiões estiveram presentes. Os pós-noviços da Casa de Formação São Francisco de Assis, que organizaram o simpósio, realizaram a música durante a celebração e, em sua conclusão, entoaram a música “O Santo e o Sultão” (confira a letra e partituras clicando aqui), composta pelo Frei Luís Ventura (OFMConv.).
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