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23 Agosto 2016

Madre Vitória: Clarissa Urbanista venerada há 301 anos em Salvador

Escrito por  Moacir Beggo em franciscano.org, com acrescimos de Frei Marcelo Veronez

Na última sexta-feira, 19 de agosto de 2016, assim como todos os meses, no dia 19, os fiéis baianos rezam para que o processo de reconhecimento de santidade da Madre Vitória da Encarnação avance na Santa Sé. No ano passado, o Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, Dom Murilo S.R. Krieger, SCJ, pediu à Congregação para a Causa dos Santos a abertura do processo de beatificação.

Há 301 anos, no dia 19 de julho de 1715, aos 54 anos, esta filha de Santa Clara de Assis faleceu em uma das celas do Convento Santa Clara do Desterro, em Salvador, o Convento feminino mais antigo do Brasil (fundado em 1677 pelas Clarissas da Regra do Papa Urbano, isto é Urbanistas).

Quem foi a Madre Vitória da Encarnação?

Nascida em Salvador no dia 6 de março de 1661, Madre Vitória da Encarnação era filha do capitão de Infantaria, Bartolomeu Nabo Correia e de Luísa Bixarxe. Admitida, aos 25 anos, na clausura das Clarissas Urbanistas, viveu de modo profundo e marcante as virtudes da pobreza, humildade, doação aos mais pobres, amor a Deus e ao próximo.

Segundo Frei Sandro Roberto da Costa, OFM, doutor em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, Madre Vitória se sobressaía às irmãs de hábito também no espírito de oração: “Passava noites inteiras diante do tabernáculo eucarístico, de joelhos, ou prostrada por terra, ou com os braços em cruz. Pontualíssima em todos os exercícios obrigatórios, ia além das exigências da regra. Acabava a comunidade a reza das matinas e saíam as religiosas; ela ficava, e prostrava-se então, e chorava rezando, pedindo a Deus perdão para si, e para todas a vida eterna”.

Após a morte da Madre Vitória muitas curas e graças teriam se realizado no Convento do Desterro por intercessão da mesma. Isso fez com que cinco anos após seu falecimento o então arcebispo da Bahia, Dom Sebastião Monteiro da Vide, fosse a Roma publicar a sua biografia na esperança de abrir sua causa de canonização. Mas o generoso arcebispo veio a falecer 2 anos após, não podendo levar a causa adiante.

O que é a Ordem de Santa Clara?

As Clarissas, são membros de uma Ordem Contemplativa claustral, possuem paradoxalmente, desde a sua fundação em 1212, uma interessante característica missionária de estabelecer-se em lugares de fronteira e de vanguarda. Assim ocorreu já nos inícios, com fundações em territórios que estavam sendo tomados pelos muçulmanos, no Oriente Médio, na Polônia e Espanha, onde muitas Clarissas morreram martirizadas, sendo também proclamadas bem-aventuradas pela Igreja.

Atualmente as Clarissas chegam a vinte mil no mundo, em 986 Mosteiros.

Permanecem nove denominações de Clarissas, conforme a Regra ou as Constituições que observem: Clarissas (com a Forma de Vida de Santa Clara), as Clarissas Urbanistas, Clarissas Coletinas, Clarissas Capuchinhas, Clarissas Sacramentinas, Clarissas da Adoração Perpétua (com a Regra de Santa Clara ou com a de Urbano IV), Clarissas Capuchinhas Sacramentinas e Clarissas da Divina Providência. No Brasil, as Clarissas são 282 espalhadas nas diversas regiões em 20 Mosteiros.

Quem foram as Clarissas Urbanistas no Brasil?

O Convento de Santa Clara do Desterro é o mais antigo convento feminino do Brasil. Foi fundado em 1677, em Salvador, capital da Bahia, por monjas clarissas urbanistas vindas do Mosteiro de Évora, Portugal. Localizado no bairro do Desterro, encontra-se a poucos metros da estação de metrô do Campo da Pólvora e da famosa Igreja do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana.

Depois de inúmeras vicissitudes históricas, somente em 1677, no dia 29 de abril, chegaram a Salvador quatro Clarissas Urbanistas do Mosteiro de Évora que tiveram ainda de permanecer a bordo no navio por alguns dias até a conclusão das obras do muro do primitivo convento.

O prédio atual teve sua construção iniciada em 1681, em local onde havia uma pequena igreja e o Hospício do Desterro, então com 5 ou 6 celas. Possuía o mais alto mirante da cidade quando foi construído e de onde se podia avistar parte da praia da Barra. E até o ano de 1744, quando foi fundado o Convento da Lapa, o Convento do Desterro era o único mosteiro feminino reconhecido na Colônia.

Tornou-se muito famoso por ter sido o local onde viveu, morreu e foi sepultada a Madre Vitória da Encarnação, muito conhecida pelos seus dons extraordinários e falecida em 1715 com fama de santidade. Nele também viveram outras duas monjas com fama de santas, aMadre Maria da Soledade, falecida em 1719, e a Madre Margarida da Coluna, falecida em 1743. Ambas, assim como a Madre Vitória, tiveram suas biografias transcritas no “Novo orbe seráfico brasílico ou Crônica dos frades menores da província observante do Brasil”, obra de Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão. Essas três religiosas baianas entraram para o convento na mesma época, em intervalos de dois e três meses entre uma e outra, e foram companheiras nos exercícios da penitência e oração. São chamadas de "as Três santas do Desterro".

O “Novo orbe seráfico brasílico” cita ainda outras veneráveis religiosas do Convento do Desterro com provável fama de santidade e os corpos de algumas delas, por ocasião da exumação, teriam sido encontrados incorruptos (conforme a tradição popular), contudo a Madre Vitória da Encarnação é a mais célebre delas, seguida por suas duas companheiras na penitência e oração.

Seus restos mortais de Madre Vitória da Encarnação encontram-se na igreja do Convento de Santa Clara do Desterro e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave da igreja.

Quando chegaram ao Brasil as Clarissas Coletinas?

Segundo Frei Sandro Roberto, OFM, os mais tradicionais conventos de vida religiosa da colônia, passada sua fase de esplendor, entraram em decadência. “A sociedade estava mudando, bem como seus valores e parâmetros. A própria imagem e posição da mulher na sociedade estava se modificando. Também a imagem da mulher religiosa. Com o advento do iluminismo, a vida religiosa sofre as mais duras críticas. No dia 19 de maio de 1855, o Ministro da Justiça assina um decreto imperial proibindo, em absoluto, a entrada de noviços nas ordens religiosas masculinas e femininas. Chegando quase à extinção no fim do século, algumas entidades conseguem como que renascer das cinzas. O mesmo não aconteceu com o convento de Santa Clara do Desterro. Em 1915 morria a última religiosa. Encerrava-se assim a primeira fase da história das religiosas Clarissas Urbanistas no Brasil. Uma nova fase estava para começar.

No dia 25 de setembro de 1928, sob a mediação do frade menor Frei Rogério Neuhaus, OFM chegavam de Düsseldorf, na Alemanha, oito religiosas Clarissas da Reforma de Santa Coleta. A partir da fundação do mosteiro de Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula, no Rio de Janeiro, as Irmãs Clarissas se espalham de novo pelo Brasil. Sua presença silenciosa e discreta, na oração, na contemplação e no testemunho da pobreza evangélica, lembra a todos os franciscanos e franciscanas sua missão: fazer presente no Brasil a mensagem sempre necessária e atual da Paz e do Bem”, completa Frei Sandro,  professor do Instituto Franciscano de Teologia (ITF), no texto “Vida Religiosa Feminina e situação da Mulher no Brasil Colonial: as primeiras Clarissas”.

Conheça o mosteiro de Deus Trino de Brasília?

Local: Mosteiro Santa Clara de Deus Trino - Núcleo Rural Alexandre Gusmão – INCRA 7- Área da Escola Agrícola (próximo ao Fassincra)- no caminho de Brazlândia.
Informações: 9982-8228 
 

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