O século XVI foi marcado por duas revoluções em oposição à Igreja, o Luteranismo e o Calvinismo. Ambas fizeram com que insurgissem grupos e facções dentro de diversos reinos daquela época, instaurando em muitos deles uma série de guerras sangrentas. No ano de 1572, na Holanda, alguns adeptos do calvinismo se rebelaram contra o governo do rei Filipe II e, coordenados pelo príncipe de Orange, tomaram à força armada algumas cidades, entre elas, a de Gorkum.
Para fugir dos rebeldes, o governador escondeu-se num castelo na companhia de alguns fiéis católicos, dois párocos, frades franciscanos e alguns sacerdotes seculares. Os calvinistas, senhores que se fizeram da cidade, forçaram o castelo à rendição. Esta se efetuou sob a condição, porém, de ser garantido livre egresso a todos. Descumprindo o combinado, os opositores aprisionaram o comandante, todos os clérigos e dois cidadãos, dos quais, um foi enforcado imediatamente.
Por dias tiveram de suportar torturas e maus tratos, mas em oração e abstinência, seguiram firmes na fé. Os soldados os ameaçavam de morte caso não negassem a fé ao Santíssimo Sacramento. Ao vigário, padre Nicolau Van Poppel, um dos rebeldes pôs a arma em sua testa e berrou aos ouvidos, "Anda, padre! Como é? Tantas vezes declaraste no púlpito que estavas pronto a dar a vida pela fé. Pois então, dize! Estás mesmo disposto?" O padre respondeu: "Dou a minha vida com muito prazer, se é em testemunho da minha fé e, principalmente, do artigo por vós rejeitado, o da presença real de Jesus no Santíssimo Sacramento". Perguntado pelos tesouros, que supunham estarem escondidos no castelo, padre Nicolau não soube dar informações a respeito. O calvinista lançou-lhe então uma corda ao pescoço, puxou-o de um lado para o outro, até que caiu, morto.
Chegara a vez dos franciscanos. Ao frei Nicásio Pick puseram o mesmo cordão ao pescoço, arrastaram-no à porta do cárcere. Lá chegando, meteram a corda por cima da porta e, puxando-o com força, suspenderam a vítima à altura considerável para que o deixarem cair. Fizeram isto repetidas vezes até que a corda arrebentou-se e o padre caiu pesadamente ao chão, sem mais dar sinal de vida. Para verificar se estava vivo ou morto, os soldados trouxeram velas, queimaram-lhe a testa, o nariz, as pálpebras, as orelhas, a boca e finalmente a língua. Mas o padre não estava morto. Tanto que no dia seguinte os soldados tiveram sua satisfação de poder continuar as crueldades. O padre Willehad, um venerável ancião de noventa anos, repetia a cada bofetada que recebia a jaculatória, "Deus seja louvado!". Os algozes, sentindo-se fatigados de tanto bater, ajoelhavam-se diante dos padres e entre risos de escárnio, arremedavam a confissão.
Os católicos de Gorkum tentaram de muitas formas libertar os prisioneiros. Dirigiram uma petição ao príncipe de Orange. Os calvinistas temendo qualquer reação, tiraram dos franciscanos o hábito e despacharam-nos, com outros sacerdotes, na noite de 5 a 6 de julho, para Briel, à residência do conde Lumam von Marc. Em Dordrecht, havia um navio que deveria levá-los até Briel. Antes do embarque, um grupo de calvinistas arrastou os mártires a um lugar perto do rio, onde estava aparelhada uma forca. Em seguida, obrigaram-nos a passarem três vezes em volta da força, sendo a última vez com os joelhos no chão, sob o canto da "Salve Rainha".
Finalmente, o triste cortejo chegou a Briel. Lá, o esperava o conde Lumm com dois pregadores da seita e alguns magistrados. Todos se empenharam para conseguir dos prisioneiros a renúncia à fé, em particular ao dogma da real presença de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento. Os mártires unanimemente rejeitaram as propostas feitas e preferiram continuar na prisão. À noite, o conde Lumm mandou-os levar às ruínas do convento Rugem, que pouco antes tinha sido incendiado pelos calvinistas. Restara ainda o celeiro. O padre Guardião foi lá mesmo enforcado, depois de ter animado os irmãos à constância. Depois deles, foram estrangulados todos os companheiros. Os católicos resgataram por muito dinheiro os corpos dos santos irmãos e transportaram-nos para Bruxelas.
Clemente X beatificou-os em 1674 e Pio IX elevou-os à categoria de Santos, no ano de 1867. Foram os mártires de Gorkum: São Nicolau Pick , São Leonardo van Vecchel, Santo Adriano van Hilvarenbeek, São Godofredo van Duynen, São João van Oosterwyck, São João de Colônia, Santo André Vouters, São Jacó Lakops, São Jerônimo van Weert, São Teodoro van Emden, São Willehad, São Nicásio Pick, São Godofredo Maverllan, Santo Antônio de Wurt, Santo Antônio de Hornar, São Francisco Rodes e São Pedro de Asca.
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Fontes: Sanctorum, Paróquia São Francisco de Assis e Toda Matéria.