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04 Outubro 2018

Saudação do Ministro Provincial por ocasião da Festa de São Francisco de Assis

Escrito por  OFMConv-Notícias

Hoje, 04 de outubro, a Igreja celebra o Nosso Pai Seráfico, São Francisco de Assis, o fundador da Ordem dos Frades Menores. Seu exemplo de seguimento do evangelho e na imitação de Cristo (confira aqui a sua biografia) são modelos de vida para todos os cristãos e cristãs. Seu legado perdura até hoje na Igreja e na minoridade das famílias franciscanas. Confira a saudação do Ministro Provincial, Frei Marcelo Veronez (OFMConv), por ocasião da Festa do Nosso Pai Seráfico. Faça o download do PDF da carta aqui

 

Saudação do Ministro Provincial

por ocasião da Festa do Seráfico Pai São Francisco

2018

 

in plano subsistere

“Quando perceberdes que cheguei ao fim, do jeito que me vistes despido antes de ontem, assim me colocai no chão, e lá me deixai ficar mesmo depois de morto, pelo tempo que alguém levaria para caminhar uma milha, devagar”. (II Cel. 217, 10)

 

O Senhor vos dê a Paz!

Com essa saudação franciscana quero vos saudar com profunda alegria e dedicação por ocasião da Solenidade do Seráfico Pai São Francisco, para nossa família provincial é tempo de proclamar a linda antífona composta por Frei Jacopone de Todi que diz: “Salve Sancte Pater, Patriae lux, Forma minorum: Virtutis speculum, recti via, Regula morum; Carnis ab exilio, Duc nos ad regna polorum.”

As virtudes elencadas na antífona acima, descrevem um homem que no chão da existência, “in plano subsistere”, dedica-se a ser um sinal de humildade, minoridade, e por fim, de fé. Ele deixou uma obra prima que não se perde: Uma espiritualidade rica em gestos e perfeita no seguimento de Jesus Cristo. Sua espiritualidade envolve todas as criaturas. A amplitude de sua espiritualidade se dá, porque ele centrou-se em Jesus Cristo. É a partir do Filho de Deus, que ele faz seu caminho espiritual, o caminho do Espírito.

Por detrás da palavra Espírito, subsiste no chão da vida, uma experiência originária que permite a vitalidade de todas as manifestações humanas. Espiritualidade, neste sentido, significa viver o sabor da dinâmica da vida, sua defesa e sua promoção; vivê-la com ternura. Bem diz a Escritura: “escolha a vida e viverás” (Dt 30,19). A espiritualidade franciscana evoca para a acolhida e para a sensibilidade.

A espiritualidade franciscana devota uma vida encarnada, não é algo pronto, que cai do céu, produto de uma mágica,  é sempre uma tarefa, um desafio, que perdura a vida inteira. Ela precisa ser aprendida e vivenciada, como atesta o próprio Francisco na primeira Regra que escreveu para os frades:

“Irmãos, guardemo-nos todos muito bem para que sob a aparência de algum merecimento, obra ou vantagem, não corrompamos nossa mente e coração e não nos afastemos do Senhor. Mas, na santa caridade, que é Deus, rogo a todos os Irmãos, aos Ministros e aos demais que, removido todo o impedimento e deixados para trás todo o cuidado e solicitude, façam do melhor modo possível para servir, amar, honrar e adorar o Senhor Deus com o coração limpo e a mente pura. Pois é isso que ele procura acima de todas as coisas” (RnB 22, 25-26).

Francisco percebeu que a espiritualidade é uma conquista, que parte do aspecto humano, do chão existencial até o silêncio.  Para tal, a espiritualidade franciscana requer um engajamento total da pessoa na real situação em que vive. Esse engajamento cria maior disponibilidade ao Mistério de Deus. Frei Tomás de Celano relata a partir de um horizonte que nos nivela ao plano do vivencial que: “Prometemos grandes coisas, maiores são as que nos foram prometidas. Observemos as primeiras e suspiremos pelas outras. O prazer é breve, o castigo perpétuo, o sofrimento é pequeno, a glória não tem fim. Muitos são os chamados, poucos os escolhidos, todos terão sua retribuição” (2Cel 191, 9).

Recordar essa dimensão da espiritualidade de S. Francisco, em sua solenidade, implica dizer a cada um de nós que “in plano subsistere” ou mesmo, que estamos prostrados no chão da realidade, mesmo assim somos animados e convocados pela ação do Espírito, a deixar, antes de tudo, que o tempo da existência faça subsistir, ou mesmo, viver o amor que nos é permitido vivê-lo agora, sem exigências maiores.  É simples: viver o que se pode viver por já subsistir no amor. Isso nos recorda, de certo modo, a experiência da Cruz para S. Francisco. Viver e tomá-la no seguimento de Jesus é subsistir com ele na dor da espera, do silencio e da oração. Portanto, a espiritualidade que Francisco nos propõe considera a cruz sob um outro olhar. Se comumente a cruz é tida como algo insuportável e inatingível, Francisco a considera caminho que leva ao encontro de Deus que se doou absolutamente e gratuitamente. Ele encontra na cruz o significado de entrega e de assumir um bem maior, há nessa condição de humilhação, de solidão e de angustia uma proposta mais clara, isto é, caminho de minoridade e espera em Deus.

O que torna a experiência da cruz singular para Francisco é encontrar o amor do próprio Deus e colocar-se à disposição. Ele alega que imitar Jesus Cristo é seu maior desejo: “é isso que eu quero, isso que procuro, é isso que eu desejo fazer com todas as fibras do coração” (1Cel 22).

Francisco a entende não como masoquismo, mas como a revelação de um mistério e a exposição originária de uma vida plenamente assumida na clareza de atitudes e na eficácia da inocência: está ali, sem nenhuma defesa, sem nenhuma pretensão além de mostrar a liberdade como doação. É assim que os biógrafos revelam a persistência de Francisco em imitar Jesus em constantes pedidos de sofrer o que Jesus Cristo sofreu. Nas Considerações sobre os Estigmas encontramos um insistente pedido de Francisco que diz:

“Óh, Senhor, meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquela dor que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua Paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para de boa vontade suportar tal Paixão por nós pecadores” (CSE 3, 38).

Por fim, celebrando a recordação de nosso Pai Seráfico, vos convido, de especial e singular modo, a subsistir na fé, na dinâmica da Cruz como doação, serviço e humildade. Um termo moderno que nos permite compreender melhor o que teria sido para Francisco “viver na terra”, seria “resignação” que, não significa, de modo algum, aceitação, ou mesmo submissão, mas sim compreensão dos acontecimentos e da cruz que livremente abraçamos, que livremente e publicamente queremos considerar durante nossa vida. Resignar-se é um ato de espiritualidade, que assume a dor de um tempo, para fortalecer a mudança e a conversão de amanhã.

 

A todos os frades, noviços e postulantes meu sincero desejo e votos de uma serena e bela festa do Seráfico Pai São Francisco.

 

Frei Marcelo Veronez

Ministro Provincial

 

Publicamos também alguns artigos na série “Vocação Franciscana”, em que falamos sobre os muitos significados da vida de Francisco nos seguintes momentos: O Chamado e a Escuta, a Cruz de São Damião e a Reconstrução da Igreja. Acesse a série aqui

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