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28 Setembro 2018

Ser irmãos e irmãs na sabedoria e na luz

Escrito por  OFMConv-Notícias
Ser irmãos e irmãs na sabedoria e na luz Beatos 108 mártires de Polonia durante la segunda guerra, Mártires Junio 12.

A palavra LEIGO foi criada pela concepção eclesiástica para diferenciar de CLÉRIGO. No mundo medieval, clericus era aquele que tinha o privilégio de ser letrado e ter algum acesso ao conhecimento. O leigo era o que ficava fora do conhecimento dado aos nobres, monges e sacerdotes.

A força do Franciscanismo surge resgatando a compreensão de leigo integrando-o no acesso ao saber e à pregação, sobretudo no encontro com o Evangelho. Para o franciscanismo, o que é evangelizar? Evangelizar é tornar nova a humanidade e ao beber na força do espírito comum inspirada pelo Evangelho. O franciscanismo usou e usa mais a palavra IRMÃO E IRMÃ.

O laicato franciscano instaura a Irmandade Fraterna e a Fraternidade de Irmãos e Irmãos. Fraternidade é estar junto dos que amam de um modo forte e igual. É a comunidade dos que amam o belo e bom, o justo, a paz e o bem. O que caracteriza este laicato irmanado?

O franciscanismo é gerado da mente, do coração e das práticas de um RESTAURADOR que deseja dar uma contribuição original na reconstrução da humanidade, da sociedade, da Igreja e do mundo. O laicato para nós é o estar no mundo como protagonistas do Reino de Deus. É uma escolha para transformar e escolher sempre o melhor para instaurar a vontade de Jesus: “Venha o teu Reino!” (Mt 6,10) para fazer valer a convocação do Evangelho: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e todas as coisas (os bens necessários para a vida) serão dados em acréscimo”. (Mt 6,33 e Lc 11,14).

Isto determina um novo modo de ser e de estar na vida, isto é, estar no reino da Graça. É na história humana que se edifica o Reino, que desde os tempos bíblicos concretiza anseios de abundância e plenitude, de saúde física e espiritual, de prosperidade, de paz e alegria, de convivência harmoniosa na fraternidade em oposição ao mal, ao medo e a fatalidade (Is 35, 5-6). Jesus cumpre os projetos do Reino: “Ide contar a João o que ouvis e vedes: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. E bem-aventurado aquele que não se escandalizar por causa de mim” (Mt 11,2-6). ‘Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Francisco de Assis, ao abraçar o Evangelho, abraça para todas as três Ordens o projeto de Jesus. Irmão e Irmãos não são coadjuvantes ou espectadores, mas protagonistas do Reino.

“Vós sois o sal da terra. Ora se o sal perde o seu sabor, com que salgaremos? Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre o monte” (Mt 5,13 a 16 e Lc 14,34). Quem são os Irmãos e Irmãs na Sabedoria e na Luz?  São anunciadores do Evangelho cuja Palavra os habita e atravessa seu ser e explode em suas práticas. São os concretizadores do Reino de Deus no mundo.

Ser sal e luz é ter um modo de interferir para que o mundo, a história, a eclesiologia e a sociedade melhorem. É sermos arautos das Bem-Aventuranças: olhar para frente e caminhar, colocar a mão no arado, sair da estagnação, ir de cabeça erguida, construir nova humanidade resgatada de tanta miséria, e uma vontade atuante de mudar e criar uma Fraternidade saudável.

Ser sal é ser sabor, mistura, tempero, gosto, conservar não para ficar no mesmo, mas conservar para purificar e não deixar apodrecer. É dar um gosto novo a vida total da humanidade. Gosto de amor, gosto de Deus, gosto de convivência. O sal não se esconde no cantinho da travessa, mas se mistura, é quase que insubstituível. Ser sal é ser fonte de sabor e significado.

Ser luz é não se esconder, não diminuir o brilho do pessoal e do comum. Luz que não brilha não cumpre a tarefa pela qual existe. É ser cada dia aquele que volta às fontes iniciáticas do batismo. Batizado quer dizer iluminado. Chama acesa no Círio Pascal, das mãos apadrinhadas para ser passada de mão em mão. O Evangelho diz que não se esconde a cidade que brilha sobre o monte. É fazer brilhar a civilização dos cidadãos do Reino. Se falta luz no centro, brilhe lá, se falta luz no bairro, brilhe lá. Não deixe que o poder, a mídia e o mercado decida quem deve brilhar ou ficar apagado. A metáfora da luz é forte no AT e no NT. “Põe-te em pé, resplandece, porque a tua luz é chegada, a glória de Deus raia sobre ti. As nações caminharão sobre ti” (Is 60,1-3). Ser sal e luz é brilhar no gosto das boas obras.

Ser sal e luz onde está a família, a rua, a cidade, o trabalho, a ação cultural, a comunicação, os movimentos coletivos, a defesa das pessoas. Defender a pessoa é defender a humanidade. Francisco de Assis foi um homem leigo que viveu de pessoa em pessoa para atingir toda a humanidade com seu jeito fraterno. (Cf pg 124-125 do Documento da CNBB, ( “Sujeitos Eclesiais – sal da terra e luz do mundo”).

Não podemos viver das glórias de uma obra que nossos Irmãos e Irmãs construíram no passado. Somos a animação cristã e franciscana da sociedade civil. “O que naquele tempo de despertar religioso deu ao movimento de Francisco particular força reformadora, é o seu caráter leigo. Francisco e seus irmãos podiam ter sido atraídos para dentro da cerca clerical; o povo, porém, não tomou conhecimento disso. O que o povo via, eram pregadores paupérrimos, cuja palavra pouco tinha que ver com a elegante teologia jurídica da época” (Cf Van Doornik, pg 141).

Somos um pacífico mundo fraterno de pessoas que vivem e espalham uma convicção e uma vitalidade espiritual. Não sabemos ser sozinhos, mas em Fraternidade, o centro espiritual e social da vida franciscana e cristã. Da fonte de Amor que jorrava do coração de Francisco de Assis e de todos os que estavam com ele, fez o Amor ser concreto. Do coração ao leproso, do leproso aos mendicantes, dos mendicantes aos primeiros seguidores e seguidoras, dos primeiros companheiros ao Papa, ao Sultão, aos ladrões (Fior 26), a Jacoba, a Clara.  Francisco foi sal e luz e deixou isto brilhando em seus olhos reveladores de uma íntima vida pessoal e coletiva com Deus e seus sonhos.

“Presta atenção, ó homem, à grande excelência em que te colocou o Senhor Deus, porque te criou e te formou à imagem do seu dileto Filho segundo o corpo e à sua semelhança segundo o espírito” (Adm 5).

Francisco de Assis não criou obra assistencial para leprosos, mas deu abraço no leproso. Francisco de Assis nunca deu esmola sem dar-se a si mesmo junto com a esmola. Francisco de Assis não vê uma obra boa a ser cumprida, mas uma criatura a ser percebida e ajudada. Francisco de Assis não foi alguém preso a dor, mas sofreu os sofrimentos de Jesus Cristo e de todos os que sofrem. Francisco de Assis não amou uma humanidade abstrata, mas pessoa concreta do pobre.

“E assim, a excessiva afeição da caridade o elevava às realidades divinas de modo que a afetuosa benignidade dele se estendia aos companheiros da natureza da graça. Pois que a piedade do coração o tornara irmão das outras criaturas, não se deve admirar se a caridade de Cristo o tornava mais irmão dos que estão marcados com a imagem do Criador e remidos pelo sangue do Autor. Não se julgava amigo de Cristo se não cuidasse das almas que ele remiu. Dizia que nada deve ser colocado à gente da salvação das almas” (LM IX,4).

Por causa dele não somos uma ONG, mas uma ORDEM. Ser Frades, Clarissas e Seculares, e não esquecer que a OFS é o maior movimento leigo do mundo. E estas Ordens em três grandes famílias carregam a missão de misturar-se no mundo e acender no mundo o amor humanizado de Deus. Somos uma força de sal e luz, e a nossa ação nos tempos atuais deve ser incisiva e em perfeita coerência com a Regra que abraçamos e com a visão franciscana da vida. Devemos recuperar com muita força o conteúdo e a dinâmica orientativa do preceito do Amor e o apelo de cada página do Evangelho.

Temos que recuperar qualquer barreira que divide (Cf Lm VIII). Em mundo de crises mostrar a nossa presença de discernimento e de lucidez crítica. “O zelo pela salvação do irmão, o qual precedia da fornalha da caridade como espada afiada e flamejante, traspassava o íntimo de Francisco. Chorava com tanta ternura de comiseração, cada dia, como uma mãe, e as dava à luz. Daí, o empenho que tinha na oração, a corrida à pregação, o excesso em dar exemplo, pelo fato de que não se julgava amigo de Cristo, se não cuidasse das almas que ele remiu” (Lm VIII).

Para crise política: estar do lado da democracia inspirada em valores cristãos e estar nos espaços autênticos de participação. Nunca dizer sim a regimes de coerção de forças golpistas e ditatoriais, isto vai contra nossos princípios franciscanos e cristãos. Para a crise econômica: mostrar a contradição que existe em concentrar poder econômico a poucos. A Pobreza abre o ter para todos. Para a crise social: mostrar o que aprendemos em nossa Formação. Para a crise cultural: mostrar os valores que acreditamos e que tem herança de oito séculos sem deixar de ser atual. Somos Ordens antigas com mentalidade sempre nova. Para a crise religiosa mostrar que temos uma Espiritualidade original e forte. Para a crise jurídica: mostrar o Evangelho. E para todos os momentos viver esta proposta:

“Tinha grande desejo de que tanto ele como os seus irmãos transbordassem em tais obras pelas quais Deus fosse louvado e dizia-lhes: “Assim como proclamais a paz com a boca, assim também a tenhais nos vossos corações. Ninguém por meio de vós seja provocado à ira ou ao escândalo, mas todos sejam provocados pela vossa mansidão à paz, à benignidade e à concórdia. Pois para isso fomos chamados, para cuidar dos feridos, enfaixar os que têm fratura e chamar de volta os que erram" (3Comp 14,58).

 

Via: Carisma Franciscano. Autor: Frei Vitório Mazzuco (OFM).

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