No Cântico das Criaturas existe o famoso verso de Francisco de Assis, “Louvado sejas, meu Senhor, pela Irmã nossa, a morte corporal, da qual nenhum homem vivente pode escapar”; ou como relata Tomás de Celano, “Convidava também todas as criaturas ao louvor de Deus e, por meio das palavras que outrora compusera, ele próprio exortava ao amor de Deus. Exortava ao louvor até a própria morte, terrível e odiosa para todos, indo alegre ao encontro dela, convidava-a a sua hospitalidade; disse, “Bem-vinda, minha irmã morte!” (2Cel 217,7). Francisco preparou ritualmente sua morte, fez da sua morte uma celebração, um rito de passagem. Por estar plenamente na vida e na totalidade da existência integrou a morte não como um absurdo, mas como parte natural do ciclo da vida.
Francisco de Assis é uma afirmação da vida por isso pode encarar a morte como um processo da curva biológica que traça a linha do nascer, crescer, envelhecer, morrer no momento oportuno ou prematuramente. Francisco preocupou-se com a vida e não com a doença e morte. Morre cantando a vida e sua essência. Ao celebrar a morte, ele a encarou de frente como aquela que lhe estendia a mão para concretizar o grande sonho humano: a imortalidade! Ele sabe que não está perdendo nada da vida porque encontrou e ganhou a vida plena que estava dentro de si mesmo. Fez do Amor seu projeto de vida, amar a Deus, amar a humanidade, a fraternidade, amar todos os seres. Esta confraternização universal do Amor não conhece a morte e o morrer. Tudo fez parte de sua vida, inclusive a finitude. Ele pode dizer como Santa Terezinha, “Eu não morro… entro na vida!”. Ele pode dizer como Gabriel Marcel, “Amar é dizer: tu não morrerás jamais!”.
Francisco de Assis sente, pensa, sente e age com a certeza de que a morte não é um fim, mas a grande oferenda, a entrega, a restituição de si mesmo para Deus. Conquistou a esperança dos justos, que é imortalizar-se e andar para sempre no florido e fecundo caminho do Paraíso. A força vital que emana de Francisco de Assis o fez dar boas-vindas à Irmã Morte.
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Este é o sétimo artigo da Série “A Morte na Mística Franciscana”, um especial do site Franciscanos para o dia dos finados. Acesse os outros artigos clicando aqui.
Fonte: Franciscanos. Autor: Frei Vitório Mazzuco (OFM).