“Isto é o meu corpo dado por vós”. Palavras de Jesus que chamam minha atenção durante a celebração da Eucaristia com os confrades chineses no 31º andar de um moderno apartamento em Xi’an, capital da província de Shaanxi: “no fundo – penso – todos os grandes desafios nascem daqui, de um corpo dado para outros corpos”.
Assim, em nome dos frades da Custódia de Assis, tive poucos dias à disposição para uma visita fraterna, de 31 de janeiro a 06 de fevereiro. Dias intensos iniciados com um capítulo conventual, um dos primeiros depois da elevação canônica desta casa em comunidade franciscana conventual, sabiamente conduzida pelo primeiro guardião Frei Paulo Liu e bem participada pelos outros frades presentes: Frei Paulo Fan e Frei Antônio Tang; sendo de família junto ao mesmo convento, Frei Paulo Wu, Frei Pedro Zahao e Frei Mateus Li, delegado do guardião; e alguns residentes na casa filial Santo Antônio em Luoan, também estiveram presentes.
Como deve ser um tempo dedicado para exercícios espirituais, tivemos dias ricos e tranquilos. O tema da meditação era “os desafios da comunidade e do viver em comunidade”. E neste, consideramos os elementos essenciais de uma comunidade franciscana conventual: carisma e estrutura intimamente associada, sadia tensão entre fidelidade ao carisma e atualização na história, a importante referência ao Sacro Convento como ponto de equilíbrio enquanto custódia e promoção do corpo-carisma de São Francisco, segundo indicação da Mãe Igreja e na escuta do mundo contemporâneo.
Depois, colocamos ao centro os dois maiores desafios de uma comunidade religiosa: ser no mundo, mas não ser do mundo, com o paradoxo de que uma comunidade franciscana conventual é mais incisiva no mundo na medida em que vive separada afetivamente e efetivamente; caminhar na via de Deus e não dos homens, com o paradoxo de que uma comunidade franciscana conventual é mais significativa e incisiva no mundo na medida que caminha na via da minoridade (nenhum poder, nenhum privilégio).
A verdade destes desafios aparece quase que, obviamente, na realidade dos nossos frades na China, onde a perspectiva parece ser próprio àquela de uma comunidade colocada “no meio” da Igreja e do mundo, “juntos” a esses, “necessitados” desses como necessita um pobre e marginalizado. Neste sentido, na Igreja e no mundo não faltará a oportunidade de aprender com os franciscanos um estilo, feito de partilha, fraternidade, simplicidade e caridade evangélica.
Com isso, encontramos três desafios possíveis ao frade no viver a comunidade: é preciso procurar aquilo que agrada a Deus nos dias de hoje, vigiando a tentação do prestígio intelectual; ter contato com a própria dificuldade e estabelecer relações sadias e profundas, vigiando a tentação do poder religioso; ter cuidado com a procura por estimas pessoais, vigiando a tentação do sucesso religioso. O frade retamente motivado que é colocado numa comunidade chinesa “vive o perene caminho em direção a casa de Deus, assume a tensão da fidelidade criativa do carisma de são Francisco, busca a paciência, evita perturbar-se, vendo em cada situação alguma coisa que abra espaço para a dedicação ao evangelho”.
Assim, concluindo a nossa visita fraterna, nos últimos dias tivemos a oportunidade de colocar no papel os passos sucessivos e necessários para o caminho da comunidade franciscana na China. Não faltou a possibilidade de entrar na vida do cotidiano chinês com algumas visitas significativas para a conhecer a história, a cultura e as tradições locais. Aos confrades em Assis, trago o agradecimento dos confrades chineses pela proximidade sempre presente. Aos confrades na China, dirijo uma saudação cordial, trazendo-os no coração e nas orações como prometido. A Deus, um profundo agradecimento por ter-me envolvido de vários modos e tempos na história do “projeto China”.