O apóstolo e evangelista S. João ficou vivamente impressionado com uma das cenas que viu quando estava ao pé da Cruz. Assim ele a descreveu: “Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com Ele foram crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água” (Jo 19,32-34). É bom lembrar que seu Evangelho foi escrito no final do século primeiro. Assim, mais de sessenta anos depois da cena do Calvário, João ainda estava vivamente impressionado com o que vira: o Coração de Jesus transpassado pela lança do soldado…
Para S. João, esse acontecimento não era casual, mas um sinal escolhido por Deus, pois cumpriu-se, naquele momento, o que havia sido predito pelo profeta Zacarias: “Olharão para aquele que transpassaram” (Zac 12,10). Hoje, nós é que somos convidados a olhar para o Crucificado. Esse olhar aprofundará em nosso coração uma certeza: nosso Redentor amou-nos até o fim, derramando por nós todo o seu sangue. Uma vez que o Coração de Jesus foi aberto pela lança do soldado, poderemos nele entrar para conhecer a sua intimidade. E o que descobriremos?
1º) Descobriremos sua bondade por todos: Ele passou a vida fazendo o bem (cf. At 10,38). Amando-nos com um coração humano, ensinou-nos o jeito divino de amar, sintetizado no novo mandamento que nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34).
2º) Veremos seu amor de predileção pelos doentes, aflitos e pobres. Certamente surpresos, muitos ouvirão de sua boca, um dia: “Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,40). Convida insistentemente os que estão cansados, sob o peso do fardo, a aproximar-se dele para ter também um coração manso e humilde, garantindo que o seu jugo é suave e seu fardo, leve (cf. Mt 11,28-30).
3º) Na intimidade do Coração de Jesus, aprenderemos a amar o Pai e experimentaremos, como Ele, a alegria de fazer sempre sua vontade: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra (Jo 4,34). Cristo nos introduzirá no mistério do próprio Deus, se fizermos a nossa parte: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23).
4º) Vivendo a espiritualidade do Coração de Jesus, veremos quanto é atual e possível a proposta feita por Paulo aos Filipenses: “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fl 2,5). É através de nossos olhos que, hoje, nosso Salvador quer olhar para a humanidade; através de nossos pés quer caminhar a seu encontro; e através de nossas mãos quer ajudá-la a erguer-se, superando os problemas que a fazem sofrer.
O que é necessário, pois, para ser aluno na Escola do Coração de Jesus? É preciso contemplar seu amor, adorá-lo e imitar sua maneira de amar. Não estamos, portanto, diante de uma simples devoção, mas de uma verdadeira renovação de toda a vida interior. Não é justamente isso que procuramos, como discípulos de Jesus de Nazaré?
(Autor: Dom Murilo S.R. Krieger. Via: CNBBne3)