Santa Clara nasceu em 1194, em Assis. Era da família Favarone, família nobre e de grande prestígio em Assis. A realidade familiar de Clara possibilitava vislumbrar um futuro sólido e fabuloso em razão do sangue nobre, dos bens, dotes, e promessas de um futuro seguro e tranquilo.
Ainda jovem, Clara fora marcada pelo testemunho evangélico de São Francisco de Assis que renunciara em praça pública os bens e a segurança de sua família estável, para uma entrega de vida evangélica. A Jovem Clara, que já adotara em sua mocidade um grande respeito aos valores cristãos e ao amor aos pobres, sentiu o pulsar evangélico em seu interior, vislumbrando a vocação religiosa conforme o Evangelho que diz: “E todo aquele que deixar casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terras por amor a mim, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna.” (Mt 19,29).
Com seus 18 anos, abandona a família, a segurança e o futuro promissor aos moldes da época para se consagrar a Deus, seguindo o exemplo de São Francisco de Assis. Em 1212, no Domingo de Ramos, ela encontra com Francisco de Assis e seus companheiros na Porciúncula (Igreja Nossa Senhora dos Anjos) e consagra sua vida a Deus, pelo sinal do corte de seus cabelos por São Francisco de Assis. Logo depois foi morar entre as beneditinas e posteriormente em São Damião, Igreja reconstruída por São Francisco de Assis, dando origem Ordem das damas pobres, as Clarissas. Tomás de Celano, escreve sobre Santa Clara: “...já tinha começado a existir a Ordem dos frades, quando essa senhora foi convertida para Deus pelos conselhos do santo homem, servindo assim de estímulo modelo para muitas outras” (1 Cel 18)
Somos impactados com a iconografia Santa Clara, sua imagem com um ostensório eucarístico, em sinal do amor e confiança na Eucaristia. Diante de uma tentativa de invasão dos mouros (homens violentos que desejavam invadir o Convento em Assis) ela, com sua fé na Eucaristia, orava a Deus para que as irmãs fossem preservadas do ataque do mal, dizendo: “Meu Senhor, será que quereis entregar inermes nas mãos dos pagãos as vossas servas, que criei com vosso amor? Guardai Senhor, vos rogo, essas vossas servas, as quais não posso defender” (Leg Santa Clara 22). Pois, a atitude e virtude de Santa Clara surtiu o efeito da libertação “De repente a audácia daqueles cães se retraiu e assustou. Saíram rápidos pelo muro que tinham pulado” (Leg Santa Clara 22).
Um milagre ressaltado em sua legenda é o da multiplicação dos pães. No mosteiro havia apenas um pão e sendo próximo a hora da alimentação, a fome apertara. Santa Clara pediu a irmã dispenseira que dividisse o pão com os frades, ficando no mosteiro apenas a metade do pão, e que esse fosse dividido em cinquenta pedaços conforme o número das irmãs. Após a oração de Santa Clara os pequenos pedaços cresceram. Todas as irmãs comeram e ficaram satisfeitas (Leg Santa Clara 15).
Outro relato de milagre acontece um ano antes de sua morte em 1253, na celebração da Eucaristia. Sem poder sair de seu leito, a celebração da Missa aparecia para ela como que projetada na parede de seu quarto. Santa Clara conseguiu assistir toda a celebração sem sair de sua cama. O fato foi confirmado quando a santa detalhou em uma missa, as palavras do sermão do celebrante. Em 1958, foi proclamada oficialmente “Patrona da Televisão” por Papa Pio XI
Diante dos grandiosos sinais de santidade, em 1992, João Paulo II falou, de improviso, às Irmãs Clarissas, em Assis. Destaco: “É verdadeiramente difícil separar estes dois nomes: Francisco e Clara... Há entre eles algo de profundo que não pode ser compreendido com critérios humanos, mas tão-somente de Espiritualidade franciscana, cristã e evangélica. Não eram puros espíritos. Eram corpos, pessoas, espíritos. Francisco via-se a si mesmo à imagem de Clara, esposa de Cristo, esposa mística. Nela via retratada a santidade que devia imitar. Via-se a si mesmo como irmão pobrezinho, à semelhança dessa esposa autêntica de Cristo, em quem reconhecia a imagem da esposa perfeitíssima do Espírito Santo, Maria Santíssima”.
Portanto como escreve Tomás de Celano, ressaltando as virtudes de Santa Clara: “a senhora Clara, que era clara de verdade pela santidade de seus merecimentos, primeira mãe das outras, porque tinha sido a primeira plantinha dessa Ordem” (1Cel116). Compreendemos a grandeza e santidade de Santa Clara que nos seus 60 anos de vida foi chamado pelo Senhor em 11 de agosto de 1253.