EM NOME DO SENHOR!
A vocação é compreendida e experenciada verdadeiramente quando está enraizada na palavra de Deus, Jesus Cristo. Neste primado, compreendemos que a vocação originalmente é uma referência que vem, não de nós, mas sim da pura gratuidade do mistério de Deus. O ato de chamar é uma iniciativa divina para a vocação humana, isto é, reunir a nossa decisão ao projeto de Deus. Logo, podemos conceber a vocação franciscana, que possui este itinerário na vida de São Francisco de Assis, onde mais que uma doutrina, o Evangelho é uma vida.
O fundamento evangélico da vida franciscana encontra-se na vida de Cristo. Para isto, deparamo-nos com a vida e a regra dos Frades Menores escrita por Francisco: “Em nome do Senhor! Começa a Vida dos Frades Menores A Regra e a Vida dos Frades Menores é esta: observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade. Frei Francisco promete obediência e reverência ao senhor Papa Honório e a seus sucessores canonicamente eleitos e à Igreja Romana. E os outros Irmãos atenham-se em obediência a Frei Francisco e a seus sucessores” (RB 1-4). A frase que apresenta a moldura para todas as ações “Em nome do Senhor”, na qual, não é uma prescrição de normas, mas sentido de ser.
O ponto de vista é jamais perder a vivência do Evangelho anunciado por cada letra da sagrada escritura. Nisto, a existência de Francisco ecoa como preparação própria da vivência de Cristo no presépio, na eucaristia e na Cruz, entrelaçado numa única esfera, testemunhar o Cristo. Aqui, meus irmãos, a regra não ensina somente aos frades, mas a todos aqueles, que genuinamente, abraçam o carisma franciscano.
Sendo assim, a relação entre vocação franciscana e sagrada escritura converge na vivência do Evangelho. O caminho é construído pela escuta e obediência, que por sua vez, move o coração humano na configuração a Cristo, a qual, coincide na concretude de cada história do ser humano.
A realidade do Evangelho perpassa pela primazia do amor a Deus e ao próximo. No Testamento, o próprio santo abraça a vida em Cristo no exercício da caridade para com os leprosos: “O Senhor deu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência assim: como estivesse em pecado, parecia-me demasiadamente amargo ver leprosos. E o próprio Senhor me conduziu entre eles e fiz misericórdia com eles. E afastando-me deles, aquilo que me parecia amargo, converteu-se em doçura da alma e do corpo; e, em seguida, detive-me por um pouco e saí do mundo” (T. 1-3).
Por estas palavras, nota-se que não fora apenas um encontro, mas coabitação em ser, um com eles, experienciar misericórdia, viver e participar do mais profundo com o outro, e nisto, transformar o coração em Deus, que se doa por inteiro. A força de persistir no propósito é firme, tem raiz, não é uma ideia, algo sem força de trabalho, é fruto da vida em oração em corresponder com o chamado de Deus para o amor.
Os dois pontos dos escritos de Francisco revelam a centralidade para todos aqueles que discernem seu seguimento pelo carisma franciscano. Consequentemente, o oxigênio para o encontro com o próximo nasce na pessoa do Cristo pobre, humilde e casto, que revela o rosto de cada irmão e irmã em meio as veredas do existir.
O ponto que não podemos deixar de assumir é a relação fraterna, tão importante para o Pai Seráfico gerado na minoridade. A aplicabilidade do coração possibilita a essência sobre o mandamento do amor – “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34-35) – onde cada irmão que se aproxima, em sua diferença, ajuda na vitalidade em crescer na minoridade diante das dificuldades e alegrias da vida fraterna.
Portanto, a proposta salvífica testemunhada por Francisco, não nasce de um dia para outro, como aqui meditamos, é uma resposta na prática da vida pelo caminho da humildade, em que, a nossa grandeza está na glória da Cruz de Cristo para atingir o grau da verdadeira felicidade proposta ao coração humano. Diante disso, São Francisco nos ensina a crescer na vocação pela paciência do amor buscando coincidir o dom da vida com a vida de Cristo, expressa na sagrada escritura, no encontro com o próximo na voz da Igreja. Que o Senhor nosso Deus, pela intercessão de Maria Santíssima nos conceda a graça da perseverança neste percurso, onde a nossa decisão, como amigos de Deus, seja encarnada no mais profundo do existir. Paz e Bem!
Por: Frei Christian César, OFMConv.
Serviço de Animação Vocacional