Caríssimos, o termo “QUARESMA” nos remete aos quarenta anos do Êxodo do povo eleito rumo à terra prometida; nos remete também aos quarenta dias da de jejum e penitência do Patriarca Moisés antes de receber as duas tábuas com os dez Mandamentos da Lei de Deus, e por fim, nos remete aos quarenta dias e quarenta noites que o Senhor Jesus passou no deserto em oração, penitência e escuta da vontade do Pai, antes de dar início ao seu ministério do anúncio do Reino de Deus e da sua justiça. Aliás, após o seu tempo quaresmal, o Senhor começa o seu anúncio com a seguinte exortação: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”. (Mc 1,15).
De fato, a quaresma é um tempo privilegiado de conversão, de combate espiritual, de jejum medicinal e curativo, e sobretudo tempo de escuta da Palavra de Deus, que é a sua voz escrita nos falando diretamente, e de uma catequese mais aprofundada que nos recorda os grandes temas batismais em preparação para a Páscoa. Nesse tempo o povo de Deus empreende um esforço exigente, porém, libertador, que deve abri-lo ao chamado do Senhor e da comunidade cristã. Privando-se do alimento terreno nas múltiplas formas que se lhe apresentam, aprenderá a saborear, acima de tudo, o Pão da Palavra de Deus e o Pão da Eucaristia, alimentos da alma a caminho da vida eterna, desse modo, sentirá o dever de compartilhar os bens deste mundo com os mais necessitados.
Com efeito, são três os fundamentos dos exercícios quaresmais pelos quais nos entregamos inteiramente a Deus para acolher a sua vontade e realiza-la por meio da nossa prática de vida, a saber: oração, penitência e esmola. A primeira delas, a oração, é um encontro filial feito com o Senhor no coração da nossa alma que é a nossa consciência por onde passa todos os pensamentos e de onde nascem as nossas escolhas e decisões, e o estado de alma que resulta da nossa prática da fé; desse modo, quem vive fielmente em oração, isto é, em encontro-diálogo permanente com Deus, tem por suas inspirações a mais perfeita conduta baseada nesse colóquio santo.
De certo, para esse encontro filial com o Senhor, precisamos calar todos os pensamentos vãos, desordenados e estranhos, se desligar das preocupações, ansiedades e medos; e numa entrega total e confiante, silenciar a nossa mente porque é nos silêncio sagrado da oração que Deus nos fala pela inspiração do Espírito Santo, tendo como base a sua voz escrita, na Sagrada Escritura, por isso, se faz jus rezar com a Sua Palavra, nos salmos, nos Evangelhos, nas Cartas dos Apóstolos ou algum livro do Antigo Testamento. Por fim, rezar é amar, é fazer a vontade de Deus, é um encontro pessoal ou comunitário com Ele, é um diálogo amoroso que realmente transforma a nossa vida interiormente e exteriormente, porque se a nossa oração não transformar a nossa vida para melhor, se torna uma oração vazia, sem fruto algum.
O segundo o exercício quaresmal é a penitência ou jejum; que não significa somente privar-se de algum alimento, mas, mortificar o que em nós não é a vontade de Deus, como nos ensinou são Paulo: "Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes. Outrora também vós assim vivíeis, mergulhados como estáveis nesses vícios. Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, palavras torpes da vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios, e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem daquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." (Col 3,5-10).
O terceiro e último exercício quaresmal, é a esmola; pois, fazer o bem, é o critério que autentica a nossa fé, uma vez que Deus nos criou somente para fazermos o bem e sem olhar a quem e sem esperar recompensa ou agradecimento, porque quem faz o bem, é recompensado por Deus pelo bem feito, ou seja, se sente bem, como nos ensinou são Paulo: "Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé." (Gl 6,7-10). E ainda: "Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie. Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos." (Ef 2,8-10).
Portanto, caríssimos, o ápice da nossa fé, é o nosso encontro pessoal com o Senhor Jesus na Eucaristia, porque comungar o Senhor, é ser um só com Ele, é ser o seu sacrário vivo, e leva-lo à todas as pessoas que encontrarmos neste mundo. Destarte, celebrar a Eucaristia nesse Tempo da Quaresma, é percorrer com o Senhor Jesus o itinerário da provação que pertence à Igreja e pessoalmente a cada um de nós que professamos a fé; é assumir decididamente a obediência filial ao Pai, e o dom de si aos irmãos e irmãs, porque isso constitui o nosso sacrifício espiritual. Desse modo, ao renovarmos os compromissos do nosso Batismo na noite pascal, poderemos “fazer a passagem” para a vida nova com o Senhor ressuscitado, para a glória do Pai, na unidade do Espírito Santo. (*)
Uma santa e perseverante quaresma para todos...
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.
(*) Fontes de inspiração: A Bíblia Sagrada e o Missal Romano.