Os primórdios
As primeiras presenças da Ordem dos Frades Menores Conventuais (OFM Conv.) em terras latino-americanas aconteceram em um contexto sócio-político-religioso peculiar. Fim da II Grande Guerra mundial e crise do liberalismo anticlerical caracterizado pelos regimes totalitaristas vigentes na grande maioria de nossos países.
Frei Roberto Tomichá em seu artigo, La presencia de los Franciscanos Conventuales em América Latina (1947-1953), ainda que dando enfoque, sobretudo às missões realizadas pela Província de Pádua em terras Ameríndias nos dá algumas informações preciosas sobre os movimentos missionários de nossa Ordem muito antes da grande iniciativa missionária do século XX.
Segundo o mesmo autor, devido à proibição explicita do monarca Felipe II, os frades Menores Conventuais não puderam participara, ao menos oficialmente, da colonização espanhola das Américas (séculos XVI-XVIII).
No obstante, existen indicios del paso de algunos franciscanos conventuales incorporados entre los observantes como, por ejemplo, la interesante figura del p. Juan Bautista Lucarelli de Pésaro, confesor del príncipe de Urbino, que llegó a España en 1573 y se integró a la Provincia de San José de los Descalzos. Otro conventual, Félix Pasqualuchi, de nación italiana, habría pasado a las Indias por los años 1678 con el propósito de recaudar dinero para la refacción del sacro convento de Assis.
Em 1911 quatro frades da Província Romana chegaram ao Brasil com a intenção de implantar a Ordem; estes, porém, não obtiveram êxito em sua empresa. Somente em 1946 os frades norte americanos da Província Imaculada Conceição lograram fundar a primeira presença permanente no Rio de Janeiro.
Segundo o relato de Frei Cipriano Sullivan a possibilidade da Província Imaculada Conceição – USA, fundada em 1872, assegurar o trabalho missionário na América do Sul parece ter sido citado no Capítulo Provincial de 1942.
Década de 1940
O primeiro frade franciscano conventual, nos tempos modernos, a tomar residência no Brasil foi o Padre Andréas Wild, OFM Conv., o qual já havia desempenhado as funções de Comissário Geral da Província Húngara e de Confessor Apostólico na Basílica de São Pedro em Roma. Húngaro de nascimento, mas cidadão romeno, ele chegou ao Brasil em 4 de outubro de 1939 numa visita ao seu irmão, Dr. Luiz Wild, um famoso químico de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
A Província Imaculada Conceição tinha, por muitos anos, considerado a possibilidade de enviar missionários para a América do Sul com o propósito de dar assistência à notável necessidade de padres nesse vasto continente. Encorajado, sem dúvida, por informações de Fr. Andréas, o Capítulo Provincial de junho de 1945 escolheu o Brasil como principal campo de trabalho.
Portanto, em 16 de dezembro de 1945, o Padre Daniel Lutz, OFM Conv., Ministro Provincial, acompanhado pelo Padre Cyril Orendac, OFM Conv., desembarcaram em Santos.
Os primeiros frades conventuais estabeleceram-se no Rio de Janeiro, capital do País na época, a convite de D. Jaime de Barros Câmara, Cardeal Arcebispo (1943-1971). Hospedados pelos Padres de Nossa Sra. da Salette, ocuparam-se primeiramente em aprender a língua portuguesa e adquirir experiência paroquial, ajudando os padres missionários Saletinos. Esses pioneiros foram os padres: Fr. André (Andrew) Ehlinger, Fr. Bernardino Golden e Fr. Armando (Herman) Siebert
Posteriormente com a vinda dos Frades da província Santo Antonio de Pádua (Itália), as três presenças conventuais (São Paulo, Argentina-Uruguai), nascem em 1948, como comissariado único de Pádua[9]. Os primeiros missionários oriundos de Pádua chegaram ao Rio de Janeiro no dia 19 de fevereiro de 1947, eram eles os freis: Leone Zoppi e Emiliano Buffoli, os quais se encaminhavam ao Uruguai para iniciarem uma nova missão, esses foram muito bem recebidos pelos frades americanos. Segundo o que nos relata Fr. Roberto Tomichá, estes «Fueron muy bien recibidos por los frailes jóvenes del convento, admirando en ellos la hospitalidad y el servicio fraterno, además de quedar sorprendidos por la diversidad en el estilo de vida conventual de los frailes americanos».
Argentina e Uruguai permaneceram sempre unidos, embora não faltassem tentativas e projetos de separação. A vida dos frades pioneiros foi admirável. Os humildes lugares escolhidos, as construções, muitas vezes feitas com as próprias mãos, o estilo de vida, deram a essa missão e aos frades uma forte tonalidade da minoridade franciscana.
Década de 1968-70
Sucessivamente tivemos a abertura da delegação da Província São Boaventura no Maranhão (BR), aberta em 1968. O contexto das fundações do Maranhão pela Província Romana, e de Honduras, pela Província Consoladora dos Aflitos (EUA) foi diferente das anteriores. Entrávamos de cheio no pós-Concílio e nos ecos de Medellin: a Igreja dos pobres e a grande opção do CELAM. A Igreja latino-americana estava em ebulição, houve grandes momentos eclesiais para adequar-se a essa nova situação.
Assim foram surgindo as várias outras presenças conventuais por toda a América Latina e Caribe (ALC), em 1970, surge em Honduras a Custódia Maria Mãe dos Pobres, esta missão teve como centro de referencia o Centro de Assistência Social e educativa para as crianças pobres e marginalizadas, iniciativa de valor extraordinário em termos de solidariedade[13]. Também em 1970 foi fundada a atual Província São Maximiliano Kolbe, por ocasião da sua beatificação, querendo difundir o espírito e a missão desse novo beato. O primeiro missionário, frei Agostinho Januszewicz, abriu a primeira presença em 1974, em Uruaçu (Go). Vindos para o Brasil, os Frades poloneses de Varsóvia, fixaram-se na recém-fundada Capital, Brasília.
No dia 16 de novembro de 1976, chegaram da Polônia, três missionários; Frei João Batista, Frei Estevão e Frei Menseslau, estes permaneceram no Convento do Rio até o dia 18, quando partiram com Frei Agostinho para Brasília onde fortaleceriam a nova missão Polonesa em Uruaçu. Formando assim o grupo dos Frades pioneiros do Planalto Central: Francisco, Agostinho, Marcos, Euzébio, Mienseslau, Estevão e João Batista, os fundadores da atual Província São Maximiliano Kolbe.
Década de 1970-80
O terceiro momento de fundação franciscana conventual na ALC se deu entre os anos 1974-79, tivemos a abertura das seguintes presenças: Colômbia – 1977, México – 1977, Bolívia – 1977, Venezuela – 1978. Em nosso artigo, não temos a intenção de aprofundarmos os aspectos históricos fundacionais específicos de cada jurisdições. De modo geral, estas presenças franciscanas surgiram dentro do contexto das celebrações dos 750 anos da morte de São Francisco de Assis.
Principalmente na América Central, o trabalho dos primeiros missionários foi fascinante, marcado sobre tudo por um grande esforço de inculturação e de tradução da espiritualidade franciscana para os vários contextos, indígenas, “campesinos” autóctones, dando respostas imediatas às várias necessidades de catequese, assistência social, educação e amparo aos órfãos e necessitados.
Essas fundações foram precedidas por um período eclesialmente rico de atividades e esperanças. À Conferencia de Medellín, seguiu-se um período de consolidação institucional por parte do CELAM, três Sínodos Romanos (1967, 1969, 1971) foram de grande importância no pensamento da Igreja, sobretudo o terceiro, sobre a “Justiça no mundo”, no qual os bispos latino-americanos tiveram uma participação ativa. Em 1975, Paulo VI promulga a “Evangelii Nuntiandi” dando um reconhecimento substancial a Evangelização e a libertação.
Dentre as várias presenças franciscanas abertas pelos poloneses, não poderíamos deixar de chamar a atenção de modo especial para a Delegação Provincial do Peru, aberta em 1988 com a chegada dos freis: Jaroslaw Wysoczanski e Zbigniew Strzalkowski, seguidos pelo frei Michal Tomaszek, em julho de 1989. Desta presença franciscana nos veio o primeiro fruto de santidade oferecido pelo sacrifício cruento dos dois últimos frades acima nominados, os beatos, Zbigniew Strzalkowski e Michal Tomaszek, os quais foram assassinados pelo Sendero Luminoso, no dia 09/08/1991. Este martírio nos testemunha de modo particular o drama vivido por muitos de nossos missionários na ALC, lutando para testemunhar o Evangelho e buscando em meio a tantas desigualdades promover o direito e a justiça sociais.
Assim se foi descortinando o cenário missionários Franciscano Conventual em nosso Continente, em 1992, tivemos a abertura oficial da missão do Paraguai, pela Província Santo Antônio, da Polônia. Em 1995, os frades de Pádua, Itália, com a colaboração dos frades da Província Rio-platense, abriram uma nova presença no norte do Chile.
E em julho de 1995, a província polonesa, São Maximiliano Kolbe, de Gdank, abriu sua presença no Equador. E por último, temos a presença em Cuba, aberta em novembro de 2001, quando em especial a diocese de Matanza recebe os frades: Silvano Catelli, Roberto Carboni e Fernando Maggiore, vindos da Itália, Província das Marcas.
Em linhas gerais este foi o cenário geográfico que aos poucos se delineou com as várias presenças de nossos frades em solo latino-americano e caribenho, as dura penas, mas também com a alegria de se proclamar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, nossos frades foram escrevendo sua história. Estes últimos 70 anos, desde a chegada de nossos primeiros frades, marcaram o inicio da Implantatio Ordinis, seu cenário geográfico e sua atuação pastoral na ALC. Atualmente estamos presentes desde o México até a patagônia Argentina, passando pelos países e cidades mais importantes da América latina. As origens, as procedências, os motivos, os projetos, as histórias, etc., foram e continuam sendo muito variados. Cabe a cada uma de nós, pessoalmente e a cada jurisdição, enquanto instituição religiosa, buscar escrever e dar sentido às suas memórias para que nada vá pedido do que tem sido a vida, os sonhos, as lutas, as vitórias e falências de nossa Ordem OFM Conv., enquanto organismo vivo e atuante na ALC, com a Missão bem definida de proclamar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo à modo de Francisco de Assis.