Frei Antonio Maria, OFMConv.
“Entre os diversos benefícios que temos recebido e ainda diariamente recebemos da generosidade do Pai de toda misericórdia e que devemos agradecer a ele, o Glorioso, o maior é a nossa vocação” (Santa Clara).
Iniciar o mês vocacional deste ano de 2024 para nossa Província São Maximiliano tem um sabor novo, pois neste ano celebramos 50 anos de história missionária em território brasileiro. A chegada de Dom Frei Agostinho em 1974 é o nosso marco. A vocação franciscana da nossa Província é ‘por natureza missionária’. Os primeiros passos de caminhada franciscana conventual, desta nossa Missão, deixam evidentes as intenções de propagar o Reino de Deus por meio de um carisma todo próprio. Não podemos deixar de olhar o vigor e força evangélica das nossas origens. Nasce do desejo de São Maximiliano de alcançar o mundo inteiro para Cristo, pela Imaculada. Ganha lugar no coração dos frades. Recebe eco na decisão concreta desses homens de assumir o desígnio de Deus e ‘avançar para águas mais profundas’(Lc 5, 4).
Desta maneira não podemos deixar de vislumbrar o nosso ‘ponto de partida’, o qual tem por princípio a missionariedade. Vocação franciscana, eis o nosso modo de seguir a Jesus Cristo. Essa clareza precisa ser evidenciada sempre e novamente, em um mundo regado de grandes desafios para a experiência cristã, pois ser franciscano em nossos tempos se tornou bastante exigente. Justamente porque o testemunho de fraternidade que precisamos oferecer ao mundo é a necessidade urgente deste mundo. Uma experiência de relações verdadeiras e saudáveis que visem o bem e o cuidado do outro sem interesses mesquinhos e egoístas. Uma vivência autêntica do doar a vida, até por que “não há maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos” (Jo 15,13).
É bem verdade que essa experiência concreta de fraternidade tem lugar privilegiado em nosso modo de vida, isso é indubitável. E sempre foi percebido em meio aos tantos conventos e casas de nossa província. Mas algo me salta aos olhos desde muito cedo. Sim, a missionariedade. A questão da saída. O salto para o desejo mais intimo de Deus: alcançar a todos. Esse movimento de saída, como falamos, nasce com a experiência provincial, faz parte de nós frades desta província, revela muito a nosso respeito. Desta maneira podemos dizer que nossa vocação Francisca só ganha sentido de completude quando nos descobrimos missionários.
E o missionário não anuncia a si mesmo. É portador de uma mensagem. Nossa mensagem é Cristo. Não podemos subverter o conteúdo próprio do nosso anúncio. É necessário fidelidade. Seja em nossas paróquias, casas de formação, colégios, serviços externos a província, não nos cabe imprimir o nosso carisma privado ou mesmo nossa espiritualidade de devoção íntima. O que precisamos fazer é permitir que ‘Cristo se forme em nós’(Gl 4, 19). Dessa maneira Cristo será percebido e lembrado, não o frade que por lá passou. Somos instrumentos da graça de Deus na vida do mundo, “fizemos o que tínhamos de fazer, somos servos inúteis” (Lc 17, 10).
Precisamos considerar a nossa vocação, irmãos! Não podemos fugir deste mistério lindo e profundo que nos alcançou e transformou nossas vidas. O mistério de Jesus Cristo e este pobre, humilde e crucificado. Eis o epicentro da espiritualidade franciscana, essa experiência profunda com o Cristo pobre, humilde e crucificado. Experiência esta que nos leva ao profundo encontro com o outro. Primeiramente o Outro, que é Cristo. E ao mesmo tempo o outro que é o irmão. A realidade da fraternidade faz com que cada frade assuma essa experiência com Cristo com um dom. O irmão é um verdadeiro dom de Deus.
É dentro desse modo de ser chamado espiritualidade franciscana que nos encontramos como vocacionados. E este é o nosso maior bem, a nossa vocação a vida religiosa consagrada franciscana.