A nossa vida deve ser uma ação de graças contínua. É imperdoável o esquecimento de tal dever. O motivo da nossa presença aqui é justamente para agradecer os cinquenta (50) anos dos primeiros passos da Missão dos Frades Franciscanos Conventuais na Diocese de Uruaçu, e quiçá, no Brasil.
O mantra que mais ouvimos por aí é que a vida religiosa vai acabar.
Não! A vida religiosa não vai acabar. A vida religiosa é dom permanente do Espírito Santo. É um dom à Igreja. Esta afirmação não é gratuita; está presente na doutrina conciliar. É certo que o Concílio não se refere com essa clareza que a vida religiosa tem sua origem no Espírito Santo.
A Igreja, segundo o Novo Testamento, foi confiada à missão do Espírito Santo. Ele é seu imediato e único Santificador. Depois da Páscoa, o Pai e o Cristo Glorioso atuam no e por seu mútuo Espírito. Nesta perspectiva, sem contradizer o princípio dogmático da unidade e indivisibilidade essencial do mistério trinitário, pode-se atribuir ao Espírito Santo toda obra divina na Igreja. O estado religioso, afirma o Concílio, "pertence de maneira indiscutível à vida e à santidade da Igreja" (LG 44).
Faço esta introdução para destacar o imenso bem que as congregações religiosas têm feito à Igreja, ao Brasil e, de modo especial, à Diocese de Uruaçu. Não falo isso para agradar a quem quer que seja, mas é a pura verdade.
Com as caravelas de Cabral vieram também os primeiros evangelizadores: os frades franciscanos. O primeiro ato oficial realizado no Novo Mundo foi, depois de ter erguido a santa cruz, a celebração da santa Missa, pelo então franciscano Frei Henrique de Coimbra. Assim nasceu a Terra de Santa Cruz, o Brasil.
O Brasil recebeu o primeiro anúncio do Evangelho através dos religiosos: franciscanos, jesuítas, dominicanos, redentoristas, entre outros.
Em 25 de julho de 1924, com a bula *"Ad Pastorale Munus"*, criou-se a Prelazia de São José do Alto Tocantins, pelo Papa Pio XI, tendo como sede a mesma cidade, hoje Niquelândia. Até então, só existiam duas circunscrições eclesiásticas no Estado de Goiás: a Diocese de Goiás e a de Porto Nacional, esta nascida também de Goiás.
O núncio apostólico, dom Armando Lombardi, em maio de 1955, pediu à Santa Sé que a Prelazia de São José fosse elevada à categoria de Diocese. Foram trinta (30) anos de luta até que a Prelazia chegasse a ser diocese. Dom Francisco Prada esteve à frente da Prelazia desde 19 de março de 1938 até sua nomeação e transferência, já como bispo diocesano, para a recém-criada Diocese de Uruaçu, tomando posse em 30 de maio de 1957, perfazendo assim 30 anos de longo e frutuoso ministério episcopal.
Em 1968, fui sagrado bispo auxiliar e, logo no ano seguinte, Administrador Apostólico "Sede Plena", isto é, com toda a administração espiritual e material da diocese, restando ao titular apenas o título "diocesano".
Em 1976, assumo o título de Bispo Diocesano. Assumi a diocese com apenas dois (2) padres diocesanos e sete (7) religiosos, sete paróquias, cinco (5) provisionadas, duas sem padre, sendo que uma delas estava sem padre residente há 50 anos.
Tive que enfrentar a problemática pastoral, a realidade de tanta gente que não se podia alcançar, ou por distância, ou por falta de recursos humanos, agentes de pastoral engajados, leigos preparados ou motivados por uma obra apostólica, e, sobretudo, falta de padres.
Ao percorrer a diocese, observava-se que as seitas proliferavam por toda parte, preferencialmente nas periferias e na zona rural. Nessa triste situação, senti no coração palpitar forte a prece do Senhor, que é a oração do Evangelho: "Pedi ao Senhor que envie operários para a sua messe." Ficava impressionado como essas pessoas, abandonadas e maltratadas pelas circunstâncias e pela maldade humana, ainda acreditavam em Cristo e ainda rezavam.
Multidões sem pastor, ou, em casos piores, com falsos pastores, que vinham disseminando a má doutrina no rebanho, interessados apenas no leite e na lã das ovelhas.
O que fazer com tanta gente faminta de Deus? Onde estão os que possam repartir o pão da Palavra nas periferias, na zona rural, em toda parte?
No dia 11 de novembro de 1974, indo de Minaçu para Uruaçu, lamentei e rezei: "Vós, Senhor, multiplicastes na Eucaristia. Senhor, por que não multiplicais também os nossos apóstolos para levar a mensagem do vosso Reino a essa gente, redimida também por vosso sangue precioso?"
Naquele mesmo dia, ao chegar em casa já à noitinha, me deparei com uma carta, junto às demais correspondências, vinda da Polônia. A curiosidade levou-me logo a abrir o envelope da missiva, pois foi a primeira vez que recebia uma correspondência vinda daquele longínquo país.
Que agradável surpresa! De imediato rezei: "Eu vos louvo, Senhor, porque atendestes a minha oração!"
Conteúdo da carta: Os Frades Conventuais poloneses, da Província Imaculada Conceição, ofereciam-se para se instalar na Diocese de Uruaçu; depois de serem rejeitados por outras duas dioceses que, certamente, não necessitavam de sacerdotes (duvido, porque até hoje são carentes de sacerdotes, e por isso não se interessaram). Graças a Deus, não se interessaram!
Naquela mesma noite, escrevi ao autor da carta, frei Stefan Augustyn Januszewicz, respondendo que os recebia genuflexo e de braços abertos. Venham quanto antes (temia que aventureiros lançassem mão do presente); bem que tentaram fazê-lo, desviando-os para o sul do país, oferecendo-lhes vantagens mil, em desfavor de Goiás. A resposta do Frei Agostinho foi franca e leal: "Já temos compromisso com a Diocese de Uruaçu." A diocese estava ansiosa para receber os frades.
Até que no dia 8/12/1974, frei Agostinho chega de surpresa, pela porta dos fundos. Piedoso como era, entrou primeiro pela Catedral, a fim de fazer uma rápida visita ao Santíssimo Sacramento. Providencialmente, eu estava de pé diante da porta da cozinha, quando vejo um padre saindo da sacristia, vestido de hábito preto, esboçando aquele sorriso que lhe era peculiar. Aproxima-se de mim e logo começa a se identificar: "Sou frei Agostinho...". Nem o deixei terminar de se apresentar, fui logo abraçando-o fraternalmente e abrindo as portas do coração e da casa para recebê-lo. Foi um dos dias mais felizes da minha vida.
De imediato, frei Agostinho escreve ao Padre Provincial: "Encontramos nosso lugar de trabalho, fui recebido cordialmente pelo bispo, que é bastante jovem. Aqui temos tudo o que é necessário para realizar nossa missão... Vale a pena nos fixarmos aqui nesta diocese. É realmente próxima da capital do país".
Logo nos dirigimos a Anápolis (o frei e eu), a fim de acertar com os franciscanos menores a possibilidade de um curso de português para o primeiro grupo de missionários franciscanos conventuais que chegaria à diocese de Uruaçu. Acertado, continuamos a viagem até Brasília para sondar o ambiente para uma futura instalação de uma residência franciscana. Houve promessa, esperança, mas nada de concreto.
Tudo encaminhado em Uruaçu, frei Agostinho retorna ao Rio de Janeiro a fim de receber os seus confrades e acompanhá-los até Uruaçu, agora sua nova residência. Depois de desvencilhar-se da burocracia no porto do Rio, chegam os frades: Marcos Januszewcz, Francisco Kramek, Eusébio Wargulewski e o irmão Edmundo Grabowiecki.
Foram recebidos com festa, alegria, efusivos cumprimentos, boas-vindas. Todos queriam abraçar e receber uma bênção dos frades. O povo estava encantado com aquele tipo de padres que ninguém ainda conhecia. Agora é agradecer. Foi o que fizemos: "Bendize, ó minha alma, o Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios" (Sl 102,2).
Já se foram 50 anos de luta, de sofrimento, mas também de alegria e consolação pela certeza do dever cumprido durante esse meio século, semeando a boa semente da Palavra em tantos corações sedentos de Deus.
A passagem dos primeiros frades conventuais pela Diocese de Uruaçu deixou marcas indeléveis nas pedras de Acaba-Vida, Faz Tudo, Indaianópolis, Traíras, Rola Égua e outras dezenas de lugares. Até hoje, o povo chora a ausência daqueles primeiros saudosos frades. Felizmente, a missão continua na pessoa dos dedicados frades que atualmente integram a comunidade de Niquelândia, semeando com abundância e zelo a Palavra de Deus.
Até a chegada dos frades, Niquelândia estava há vários anos sem uma boa assistência religiosa. Tudo ali era difícil: igreja em estado precário, sem casa paroquial, sem recurso humano para atender o imenso município de 13.000 km², com 60 capelas rurais. Tudo por fazer. O idoso padre Luiz Olabarrieta, CMF (emprestado), homem zelosíssimo e dedicado inteiramente à causa do Reino, por mais boa vontade que tivesse, não era possível atender eficientemente o imenso território.
Em 1º de abril de 1977, chegam os frades, jovens e ardorosos missionários, dispostos a enfrentar os grandes desafios da paróquia. Logo, podemos dizer a respeito da decadente paróquia: "nova sint omnia, recedant vetera!"
Esteve conosco o padre Provincial, que constatou in loco, muito contente, o belo trabalho e a rápida adaptação dos frades. Criou-se a paróquia de São Sebastião em Uruaçu e simultaneamente leu-se o decreto de nomeação de frei Agostinho como o primeiro pároco. Infelizmente, frei Agostinho renunciou em favor de frei Marcos, alegando incompatibilidade com sua tarefa de coordenador e responsável por preparar o futuro comissariado. Assim sendo, frei Marcos assumiu a paróquia.
Com o beneplácito do Provincial, frei Eusébio assumiu a paróquia de Nossa Senhora da Guia, em Campinorte. Fez ali um elo trabalho, deixando saudade e grandes amizades entre os seus ex-paroquianos.
Igualmente, frei Francisco Kramek assume a paróquia Nossa Senhora das Graças, em Rialma, substituindo o padre Jair Fernandes, claretiano emprestado, destinado a Patos de Minas. Prestou um belo serviço pastoral naquela comunidade. A diocese só tem que agradecer o imenso trabalho que os frades conventuais realizaram e realizam no seu território.
Não podemos deixar de lembrar o edificante irmão Edmundo, que também prestou um bom serviço, humilde, dedicado e edificante, à comunidade franciscana e paroquial. Infelizmente, adoeceu gravemente e teve que retornar à Polônia, onde veio a falecer.
Logo chegou a triste notícia de sua morte, o bispo rezou a santa Missa na paróquia São Sebastião, onde trabalhou, com grande participação de fiéis.
Os nossos heróis frades conventuais trouxeram para o Brasil e, de modo especial, para a diocese de Uruaçu, a fé que impulsionou o espírito missionário de São Maximiliano Kolbe a confessar pública e corajosamente a sua convicção religiosa diante daquele déspota chefe militar, que, agarrando o crucifixo que o frade trazia sobre o peito, lhe perguntou: "Tu acreditas nisso?" "Acredito, sim!" Uma tremenda bofetada seguiu à resposta do frei Kolbe. Três vezes repetiu-se a pergunta. Três vezes Maximiliano confessou sua fé. Três vezes levou a mesma bofetada.
Aqui está o segredo dos Franciscanos Conventuais, originários da Província Imaculada Conceição, aos pés da qual frei Kolbe soube forjar o seu caráter religioso e sacerdotal.
O corpo desse grande mártir foi queimado e suas cinzas atiradas ao vento. Numa carta, quase prevendo seu fim, frei Maximiliano escrevia: "Eu quereria ser reduzido a pó em homenagem à Imaculada Conceição e espalhado pelo vento ao mundo inteiro!" Assim foi feito! Aquelas cinzas foram levadas pelo vento do Espírito ao mundo, caindo também um pouco em nosso solo, suscitando germes de vida e de renascimento. Foi o verdadeiro mártir da caridade, do amor que salva e dá vida. O amor sempre constrói.
Parabéns, frades missionários franciscanos conventuais, pelos cinquenta (50) anos de dedicação, doação e zelo à causa do Reino e, sobretudo, de exemplo aos mais jovens.
Não podia deixar de dirigir uma palavrinha ao único que resta dos primeiros missionários que abriram a Missão na nossa diocese: frei Eusébio. Uma criança, com a curiosidade de quem ouviu uma nova palavra, mas não sabe o seu significado, perguntou: "Mamãe, o que é a velhice?" A mãe, num instante de silêncio, fez uma viagem ao passado: infância, primeira comunhão, namoro, casamento, os filhos, as lutas diárias, as dificuldades, a experiência adquirida... Tornou a olhar para a filha que, sorridente, aguardava a resposta. "Olhe para o meu rosto, minha filha", disse a mãe: "Isso é velhice!"
Ela imaginou a menina vendo as rugas de seu rosto, os sinais das pequenas e grandes batalhas da vida, com um pouco de tristeza pelo que passou; surpreendentemente, depois de alguns instantes, a menina concluiu: "Mamãe, como é bela e bonita a velhice!"
Caríssimos, a vida é uma obra de arte: teatro, música, poesia, sorrisos, lágrimas, alegria e tristeza.
Os outros podem nos fornecer alguns subsídios, mas os grandes responsáveis somos nós. Tudo o que é feito é definitivo. Não podemos ensaiar, nem apagar com uma borracha; no entanto, sempre podemos mudar o rumo da nossa vida. Nós somos o resultado de nossas escolhas, mas podemos mudar nossas escolhas a cada momento. O único lamentável é o que nada nos ensina.
Precisamos aprender a viver. Nunca é tarde para isso. A velhice deve ser bela. Precisa ser bela. Devemos aprender a envelhecer. Isso significa acumular experiência, saber quais são os limites da idade e observá-los. Experiência cheia de amor e capacidade de continuar amando e sonhando. Assim, quando a morte acontecer, ela também será bênção. A morte é bela se a vida foi bela. Que vida mais bela do que a do sacerdote religioso, dedicado, zeloso, exemplar, observante, como o foi o nosso Santo Maximiliano Kolbe, Patrono desta Província.
Que a Imaculada Conceição e São Kolbe continuem a derramar escolhidas bênçãos sobre os frades franciscanos conventuais, onde quer que estejam!