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24 Dezembro 2024

Carta do Ministro Provincial por ocasião do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo

Escrito por 

“Foram às pressas e encontraram Maria e José, e o recém-nascido” (Lc 2,16)

Caríssimos,

     Vivemos às vésperas do Ano da Misericórdia, no qual o Papa Francisco abrirá a Porta Santa. “Estabeleço ainda que, no dia 29 de dezembro de 2024, em todas catedrais e concatedrais, os Bispos diocesanos celebrem a Santa Missa como abertura solene do Ano Jubilar”[1]. Deste modo, apresento essa carta fraterna aos frades de nossa Província São Maximiliano Maria Kolbe, na intenção de propor uma reflexão neste belíssimo e importante tempo do Natal. Nestas vésperas de mais um novo ano, refletimos as conquistas e os desafios enfrentados ao longo do ano, as vitórias e derrotas, as realidades de luzes e sombras vividas por todos.

     Às nossas portas de consagrados a Deus, o Senhor está chegando: “eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador”[2], pois o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Mistério da Encarnação tão amado e celebrado por São Francisco de Assis, propõe uma vivência em plenitude. A profundidade do Natal, como sugere a perspectiva franciscana, nos faz compreender como é doce e amável a ação divina em favor dos homens, pois a salvação de Deus se realiza de forma sutil e branda, propondo uma transformação ao ser humano e respeitando os moldes de nossa humanidade. Este grande mistério é vislumbrado por poucos neste Natal, “a festa das festas, em que Deus, tornando-se criança pequenina, dependeu de peitos humanos”[3].

     Destaco que a nossa identidade franciscana de vida comunitária e fraterna inspira evangelicamente a motivar os irmãos nestas celebrações natalinas, pois insuflados na vida cristã e religiosa, vivendo a plenitude das festas que celebraremos e seguindo os ditames da espiritualidade e da tradição de nossa Ordem Franciscana, seremos testemunhas da fé aos irmãos.

     Na efervescência e no ardor desse tempo natalino, nos é proposto sempre uma renovação interior. Em nosso caso, como frades, temos a esperança e a confiança Naquele que é a Luz do mundo, apresentado na Palavra do Evangelho no dia do Natal, como aponta São João: “Tudo foi feito por ela [...] Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens”[4]. É válido destacar que nasce em nossos corações de frades, homens consagrados ao Senhor e inspirados pelos Conselhos Evangélicos de pobreza, obediência e castidade, um grande ardor evangélico, o qual renova as nossas convicções pessoais e as nossas motivações vocacionais, a fim de que nos abramos mais às realidades de Deus.

     Infelizmente este grandioso Mistério de Amor, almejado por Deus, esbarra na realidade de uma sociedade fria e indiferente, que minimiza e exclui a grandeza da ação divina. A Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo deveria ser compreendida como doação total do Céu à nossa humanidade, como intervenção divina na existência dos homens através do nascimento do Menino Deus, mas tem sido desvalorizada por essa sociedade. Concluímos que o Natal do Senhor exige uma compreensão de que Deus fala ao seu Povo através de seu Filho Jesus, nascido da simplicidade do Natal: “nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho"[5].

     Na realidade de nossos tempos, encontramos um mundo barulhento, no qual as pessoas buscam excessivamente a si mesmas, tornam-se incapazes de viverem e de absorverem as riquezas do Mistério Divino, não reconhecem a presença do Senhor em seu meio, com sua sacralidade. A cerelidade da vida, em nosso tempo atual, tem gerado uma sociedade de pessoas doentes, que não identificam a eternidade divina na simplicidade da vida, pois são induzidas e reduzidas à correria, vivendo a dramática corrida do tempo, vivendo os mistérios de Deus sem profundidade e sem serenidade, apenas cumprindo preceitos, mas sem perceber a grandiosidade do Natal do Senhor, pois dessacralizam tudo, com a justificativa de que não há tempo. “Já não há tempo para nos encontrarmos e, com frequência, as próprias famílias sentem dificuldade para se reunir e falar calmamente”[6].

     Neste contexto, celebraremos mais uma festa do Natal do Senhor, vivenciaremos mais um ano a grandeza do Mistério da Encarnação, sinal da salvação divina, que tem sido afrontada pela cultura ceticista e consumista de nossos tempos. O Papa Francisco diz sobre o consumismo: “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada”[7].

     A riqueza da espiritualidade franciscana, a partir do Presépio, é uma adequada resposta ao mundo atual, e sugere uma experiência de vida religiosa fortalecida pela vivência de uma vida comunitária e fraterna. O encontro com o Mistério Divino, a percepção do amor e da doação divina permeando nossos corações humanos, vai nos tornando testemunhas do Amor de Deus diante do mundo, como foram os Pastores de Belém, que, após o encontro com os anjos, não hesitaram em ir ao encontro do Salvador: “Foram às pressas e encontraram Maria e José, e o recém-nascido”[8].

     Com certeza há em nossa sociedade a ausência de Deus gerada nos corações descrentes, que gera também o pessimismo e o caos nos corações: “Muitas vezes encontramos pessoas desanimadas que olham, com ceticismo e pessimismo, para o futuro como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade”[9]. Neste sentido, o Natal do Senhor, na proposta da Igreja, sugere testemunhas vivas da Salvação, pois assim como os pastores proclamaram a salvação no anúncio do Nascimento do Menino Deus, assim é o chamado de nossa vocação: “E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam”[10]. A vocação religiosa nos convoca a sermos testemunhas da esperança e da salvação, pois fazendo a experiência viva do Natal, seremos esperança aos corações das pessoas que creem.  “Com efeito, a esperança nasce do amor e funda-se no amor que brota do Coração que é Jesus.”[11]

     A Solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo sugere a todos nós vislumbrarmos em meio às nossas realidades o Sol da Esperança, o Sol que nasce do Alto, que é Jesus, o Filho de Deus feito homem, como afirma o Evangelho de São Lucas: “O Sol que nasce do alto nos visitará para iluminar [...] e dirigir os nossos passos”[12].

     É gratificante saber que, junto às festas natalinas, a Igreja apresenta o Ano da Misericórdia, o Ano Jubilar, através na Bula Spes non confundit. O Papa Francisco apresenta neste Ano Jubilar diversas propostas que motivam a nossa vida cristã e religiosa. Ele, na contramão do mundo que na atualidade vive a realidade de guerra, da violência e da morte, propõe caminhos de esperança em Deus. 

     É válido que nestas festas natalinas reflitamos esta proposta, anunciando as preocupações diversas, mas ressaltando as propostas de esperança sugeridas pelo Santo Padre, o Papa Francisco. Ele convida a sociedade a ter o coração simples como de São Francisco de Assis, recordando os 800 anos do Cântico das Criaturas, que será celebrado no próximo ano: “ter os olhos simples de São Francisco, que no seu Cântico das Criaturas, escrito precisamente há 800 anos, sentia a criação como uma grande família, chamando «irmão» ao sol e, à lua, «irmã»”[13].

     Ele destaca na Bula Spes non confundit a importância do Sacramento da Reconciliação como sinal da Misericórdia, realidade assumida em nossas comunidades conventuais e paroquiais, como grande sinal da misericórdia, na qual os nossos frades têm se dedicado a proporcionar o perdão de Deus, através dos atendimentos de confissões, fazendo com que cada frade confessor de nossa Província seja missionário da Misericórdia Divina: “Nas Igrejas particulares, deve ser dada uma atenção especial à preparação dos sacerdotes e dos fiéis para as Confissões e para o acesso a este sacramento na sua forma individual”[14].

     A proposta do Papa Francisco ao anunciar o Ano da Misericórdia destaca as obras de misericórdia, para que este novo ano seja uma abertura à Misericórdia Divina, alcançando os presos, os doentes, os jovens, os imigrantes, os idosos e os pobres: “Precisamos de transbordar de esperança”[15], sendo esta a grande proposta deste Ano da Misericórdia – alcançar todos os corações. “Que a luz da esperança cristã chegue a cada pessoa, como mensagem do amor de Deus dirigida a todos. E que a Igreja seja testemunha fiel deste anúncio em todas as partes do mundo”[16].

     Neste tempo natalino, também agradecemos a Deus por todas as vitórias vividas neste ano em que celebramos os 50 anos da Província. Agradecemos a Deus pela superação dos desafios enfrentados pela Província, seja na dimensão formativa, fraterna, missionária, organizativa, econômica, etc. Destaco também que no próximo ano de 2025 celebraremos 20 anos da Missão no Amazonas, realidade assumida pela Província e marcada pela decisão de Dom Agostinho, que após tornar-se Bispo Emérito no ano de 2004, decidiu ir para a Missão no Amazonas, chegando nestas terras em 11 de janeiro de 2005. Celebraremos, na Ordenação Diaconal do Frei Thiago da Silva, em Tefé-AM, a abertura destes 20 anos.

     Finalizo essa carta fraterna com o ensejo a todos os confrades de Paz e Bem! Que a Graça provinda do Menino Deus, neste Natal, cultive a fecundidade da fé em cada coração. Que a vida fraterna, o apostolado e a esperança sejam a força de cada um! Que a bênção de Deus esteja em vossas vidas de religiosos, santificando o vosso Natal e o novo ano como sinal de salvação. Desejo que o Menino Jesus seja vida e salvação nos trabalhos de apostolado e de pastoral. Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

 

 

FREI GILBERTO DE JESUS

Ministro Provincial

 

 

 

[1] Spes non confundit – Bula de proclamação do Jubileu Ordinário

do ano de 2025, n. 6.

[2] Zc 9,9.

[3] 2Cel 199,1.

[4] Jo 1, 3-4. 

[5] Hb 1,2.

[6]  Ibid. Spes non confundit , n. 4.

[7] Evangelii Gaudium, n. 2.

[8] Lc 2,16.

[9] Ibid. Spes non confundit, n. 1.

[10] Lc 2,18.

[11] Ibid. Spes non confundit, n. 3.

[12] Lc 1,76.

[13] Ibid. Spes non confundit, n. 4.

[14] Ibid. Spes non confundit, n. 5.

[15] Rm 15, 13.

[16] Ibid. Spes non confundit, n. 6.

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