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27 Agosto 2018

Divulgada a Carta Aberta a Todas as Fraternidades da Ordem pela conclusão do 201º Capítulo Geral Extraordinário

Escrito por  OFMConv-Notícias

O 201º Capítulo Geral Extraordinário foi finalizado neste sábado, 25, no Centro Ad Gentes em Nemi, Itália, no mesmo dia da Festa de São Luís IX, rei da França e patrono da Ordem Franciscana Secular (como havíamos noticiado aqui). Com o encerramento dos trabalhos do capítulo, foi divulgada a Carta Aberta a Todas as Fraternidades da Ordem, o documento reitera e concentra o que foi realizado desde o dia 24 de julho (confira ao final do texto).

No último dia, os capitulares se encontraram às 9h para uma última votação das constituições renovadas. Logo após, todos participaram de uma avaliação das cinco semanas de trabalho, ocasião que contou com as palavras do Delegado Geral, Frei Ryszard Wróbel, sobre uma melhor utilização da comunicação no site oficial da Ordem. Finalmente, o frei Marco Tasca, agradeceu a todos que possibilitaram a boa condução do Capítulo. Foi iniciada então a última sessão que teve uma oração pelos confrades falecidos e a conclusão oficial do Capítulo.

Ao meio-dia, foi celebrada a Santa Missa em que os frades cantaram o "Te Deum" de agradecimento ao Senhor, e o Ministro Geral transmitiu a todos os presentes a solene bênção de São Francisco de Assis. Durante o almoço, também aconteceram algumas saudações e o adeus. Os capitulares se encontraram novamente em nove meses, quando, em tempo de um novo Pentecostes de graça, realizarão o Capítulo Eletivo.

 

Capítulo Geral Extraordinário

Frades de todo o mundo, dentre eles, Ministros e Custódios Provinciais, bem como o provincial, Frei Marcelo Veronez (OFMConv), estiveram reunidos com o Ministro Geral, Frei Marco Tasca (OFMConv), para a definição, discussão e aprovação dos textos das constituições da Ordem dos Frades Menores Conventuais.

           

         CARTA ABERTA A TODAS AS FRATERNIDADES DA ORDEM,

DA PARTE DOS FREIS REUNIDOS NO CAPÍTULO GERAL EXTRAORDINÁRIO DE 2018

PARA A REVISÃO DAS CONSTITUIÇÕES

 

 

"E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me ensinava o que deveria fazer, pelo contrário, o Altíssimo mesmo me revelou que eu deveria viver de acordo com a forma do Santo Evangelho". (Test 14: FF 116)

 

Queridos irmãos, que o Senhor lhes dê Sua paz!

Nós, os irmãos convocados ao 201º Capítulo Geral extraordinário para a revisão das Constituições, chegados ao final desta experiência (24 de julho a 26 de agosto), desejamos que nossa saudação e mensagem alcancem a cada um dos 612 conventos da Ordem espalhados pelo mundo. Somos 112 irmãos de 64 países, dos quais 83 vocais e 29 envolvidos nos trabalhos de secretaria (tradutores, intérpretes, organizadores litúrgicos). Nossa intensa experiência foi realizada em Nemi, no Centro "Ad Gentes" dos Missionários do Verbo Divino, num contexto paisagístico rodeado de beleza - e da brisa vespertina providencial - das Colinas Romanas (Colli Romani) que refletem nos lagos vulcânicos de Nemi e Albano, a trinta quilômetros ao sul de Roma.

No começo, nos perguntávamos o que tínhamos feito durante estas cinco longas semanas aqui em Nemi. Depois, pouco a pouco, foi nascendo a consciência de que formamos parte de um capítulo "histórico" que, nas Constituições ainda por revisar, tocávamos com as mãos um instrumento precioso que narra nossa identidade franciscana e que pode contribuir para a renovação de nossa vida. Esta clara percepção mereceu todo nosso esforço de escuta-diálogo-discernimento feito até agora, da mesma forma como nosso irmão Bispo Frei Roberto Carboni, durante o dia de retiro, nos exortou que vivêssemos, especialmente, a partir da oração comunitária que marcou o ritmo desses dias e foram abundantes e multilíngues, incluindo a proposta da recitação diária do terço e da adoração eucarística às 21h.

Tanto nas orações como nos trabalhos, respiramos através dos dois pulmões da Igreja, imersos no tesouro da tradição do Oriente e do Ocidente. Temos experimentado a graça da fraternidade valorizando diariamente os diversos momentos de encontro, de trabalho e de festa. No momento das refeições, na sala capitular, nos recreios e nas saídas em confraternização, tivemos a oportunidade de apreciar a diversidade como a riqueza da Ordem, descobrindo que somos um "laboratório" de fraternidade internacional.

Nosso trabalho intenso foi precedido por um grupo de frades que, desde a decisão feita no Capítulo Geral ordinário de 2007 de revisar as Constituições, trabalharam na reflexão e na elaboração do Instrumentum laboris predisposto para este Capítulo. Queremos fazer um reconhecimento ao mérito do CERC (Comitê Executivo para a Revisão das Constituições), que redigiu os 620 parágrafos do Instrumentum, nutrindo-se, por sua vez, das valiosas contribuições recebidas de todas as comunidades do mundo e da CIRC (Comissão Internacional para a Revisão das Constituições). O Ministro geral, Frei Marco Tasca, com seu Definitório acompanharam esta longa jornada. Onze anos de um sábio trabalho - especialmente para o CERC - não são poucos e, por isso, deixamos todos os nossos agradecimentos a esses irmãos.

Nossa contribuição ao Capítulo extraordinário consistiu em examinar os 620 parágrafos do Instrumentum com o seguinte modus procedendi: leitura-reflexão-discussão-votação de cada parágrafo singular, com a possibilidade de propor textos modificados (iuxta modum). Várias comissões convocadas praticamente todos os dias contribuíram para o bom andamento do Capítulo: a Comissão Central (leitura e análise de cada texto proposto), a Comissão de Juristas (para as contribuições legais) e, na cabine de direção, o Conselho da Presidência, que guiou todo o processo.

Na sala capitular não faltaram as tensões, especialmente em alguns parágrafos, por tudo aquilo que eles representam com base na sensibilidade e na cultura de cada jurisdição. Assim, nos exercitamos na escuta, no diálogo e na busca de horizontes comuns e respeitosos do carisma, antepondo-os aos pontos de vista pessoais e nacionais.

A partir do bom clima fraterno que pouco a pouco foi criado aqui em Nemi, hoje queremos transmitir a todos vocês algumas conquistas que nos fizeram muito bem aqui no Capítulo.

Antes de tudo, redescobrimos que a fraternidade, para que não seja uma palavra vazia, nasce do desejo de encontro e de escuta do irmão, da sua história, da sua vocação, da sua cultura, do seu sentimento mais profundo e do discernimento comum sobre como queremos viver atualmente o carisma franciscano, entre a memória agradecida e o olhar para o futuro. Escuta, discernimento e, finalmente, decisão compartilhada do caminho que escolhemos para encarnar o Evangelho de hoje com o coração de Francisco e dos nossos santos, à luz da tradição de nossa Ordem.

Para isso, fomos chamados ao Capítulo, e vocês, irmãos, confiaram em nós para apreender aquilo que é "constitutivo" da nossa vocação, muito além de toda latitude e longitude de nossas jurisdições. Repetimos, muitas vezes, a nós mesmos a importância da comunicação, que consegue reunir as diferenças, por vezes tão fortes, que existem entre nós, sem negá-las; da escuta, que não procura convencer o outro, e vive com um coração livre; da vida cotidiana e concreta (nossa e das pessoas), como meta e lugar onde recaem todas as nossas decisões. Sorrindo, dissemos também a nós mesmos, que não estamos reescrevendo o Evangelho, nem as Constituições (eles já existem!), mas estamos apenas revisando, olhando com esperança para o presente e para o futuro e, sobretudo, olhando para frente com imensa fé no Senhor Jesus Cristo, o Senhor da História.

Em particular, ao conviver com mais de cem frades provenientes de mais de sessenta países de todo o mundo, e examinando a geografia da Ordem, bem como a "aldeia global" onde vivemos, nos parece forte o apelo a passar do multiculturalismo (que por si só é evidente e externo) à interculturalidade, ou melhor, ao encontro que une as diferenças e os dons de cada cultura em nome do Evangelho e da vocação franciscana comum, a fim de in-culturalizar-se na cultura do nós-aqui-agora onde a obediência nos coloca. A comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo é o fundamento seguro do qual a Igreja nasceu e, no seu seio, nasceram também as fraternitas do pai São Francisco. Desta consciência, nasce o contínuo apelo à re-formar, isto é, a dar nova forma à nossa vida, com fidelidade criativa, e à nossa identidade franciscana.

Como viver este itinerário? Nas novas Constituições, irão notar uma referência contínua aos Escritos do Pai Seráfico e às Fontes Franciscanas. Temos "recuperado" a experiência do irmão Francisco, pessoal e com seus frades, porque nela encontramos seu caminho de conversão, de discípulo, de irmão universal apaixonado pelo Senhor Jesus "humanizado" e "apaixonado" por amor a nós. Encontramos também a nossa vocação, que nos trouxe a esta aventura do seguimento; encontramos sobretudo a beleza de nossa vida casta-pobre-obediente, como a de Jesus e de Francisco: o frescor do Evangelho, a alegria da fraternidade, a urgência do anúncio missionário; encontramos a alegria do carisma ainda antes que da lei, a vida antes que o direito (que também deve estar presente, mas que deve brotar da experiência pessoal e marcante com o Senhor!). Está presente também o desafio do crescimento, de nunca se deter, numa formação contínua que começa a partir dos primeiros passos nesta forma de vida e só terminará quando a "irmã morte" nos levar ao abraço com o Pai "onipotente, eterno, justo e misericordioso" (cf. FF 233). Quão maravilhoso é o nosso caminho de sequela (discipulado), seguindo os passos do irmão Francisco, na progressiva conformitas (conformação) com Jesus, nosso único Senhor!

                Não obstante a bondade da fraternidade e também do lugar, não escondemos o cansaço de estar por um mês inteiro em Capítulo, imersos num ritmo intenso, muitas vezes repetitivo, longe de nossas Províncias, privados de alguns dias de descanso (por outro lado, nenhum de vocês teve inveja disso). Mas, igualmente, sempre nos sustentou e encorajou saber que tudo o que procuramos fazer tem um sentido, com a ajuda do Espírito Santo, para o bem da Ordem e para sua re-forma. Deixamo-nos guiar pela visão da Ordem que sonhamos daqui até os próximos 50 anos, pela profecia de uma vida que se renova para ter asas de esperança e não permanecer apenas como guardiões de nossas raízes sagradas. O texto das Constituições que vocês receberão em suas mãos, certamente não é perfeito, provavelmente nem mesmo na forma, já que ressente de nossas reflexões, discussões e tensões. Mas queremos que nelas vocês possam perceber alguns valores importantes, tendo em vista a re-forma de nossa vida e que estes valores possam tornar, realmente, nova a nossa vida: a centralidade da fraternidade que vive o Evangelho com fidelidade ao carisma recebido e a criatividade profética que sai em missão, que prefere os pobres e que acolhe os desafios do nosso mundo com um estilo de minoritas e de dom/entrega de si, que não se fecha em seu próprio bem-estar (particularismo conventual e provincial), mas que se abre às necessidades da Fraternidade mais ampla e da Igreja, sentindo a Ordem como nossa Família na "aldeia" do mundo (interculturalidade e inculturalização, solidariedade e cooperação).

Aqui mesmo, em Nemi, na casa dos Missionários do Verbo Divino onde estamos hospedados, onde o olhar perpassa do lago, as planícies das aldeias até encontrar-se com mar, trabalhou também a comissão que deu à luz, no Concílio Vaticano II, o decreto "Ad Gentes", sobre a atividade missionária da Igreja (07 dezembro de 1965), o qual foi um impulso corajoso para uma Igreja que caminha pelas ruas deste mundo, para levar o anúncio do Evangelho. Como Ordem, desejamos que as novas Constituições nascidas neste mesmo lugar, neste Capítulo Geral Extraordinário, sejam para cada uma de nossas fraternidades, um impulso para caminhar "ad gentes", "em saída", "nas periferias existenciais", na "casa comum" da criação, como o Papa Francisco sempre nos exorta. Que sejam, sobretudo, re-forma para nossa vida, para que a nossa adesão ao Senhor Jesus e ao nosso serviço à Igreja e ao mundo como Frades Menores Conventuais chegue a ser cada vez mais autêntica. Por isso, nós, frades capitulares, pedimos a vocês que tomem nas mãos as novas Constituições, fazendo delas uma ocasião de reflexão e, acima de tudo, uma proposta para uma vida nova.

Pai misericordioso, concedei-nos pela força incandescente do Espírito Santo, poder seguir os passos do vosso Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, como fizeram o irmão Francisco e sua fraternidade, renovando e atualizando a paixão pelo vosso seguimento. Concedei-nos agradecer-vos e servir-vos com grande humildade, todos os dias e em todos os lugares, para finalmente chegarmos a vós, Altíssimo, Onipotente e Bom, configurados com vosso Filho, para vos dar graças por toda a eternidade (cf. FF 233. 263).

 

Nemi-Roma, 26 de agosto de 2018

 

Os irmãos do Capítulo Geral do CCI extraordinários

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