Província

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A Província São Maximiliano M.Kolbe celebrou no dia 02 de agosto de 2023 a festa de Nossa Senhora dos Anjos. A celebração foi realizada na Casa de Formação de Nossa Senhora dos Anjos, em Santa Maria DF. Estiverem presentes frades da Província, o Ministro Provincial fr.Gilberto, os formandos do Postulantado, o Pré-noviciado, os  frades professos e as pessoas da comunidade.

A festa do Perdão de Assis- As indulgências plenárias

Está festa celebra no dia 02 de agosto, a Festa do Perdão de Assis, Santa Maria dos Anjos da Porciúncula, segundo testemunhou Bartolomeu de Pisa, a origem da Indulgência da Porciúncula se deu assim: “Em uma noite linda , do ano do Senhor de 1216, Francisco estava intimamente compenetrado na oração e na contemplação estava mesmo ali na pequena ermida dedicada a Virgem Mãe de Deus, conhecida como igrejinha da Porciúncula, localizada em uma planície do Vale de Espoleto, perto de Assis, quando, de repente, a igrejinha ficou tomada de uma luz vivíssima jamais vista antes, e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, acompanhados de uma multidão de anjos. Francisco ficou em silêncio e começou a adorar o seu Senhor. Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. Francisco tomado pela graça de Deus que ama incondicionalmente, responde: “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero, o pior dos pecadores, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão visitar esta Igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”.

O Senhor lhe disse: “Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho, portanto, o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (Papa)”. E não tardou muito, Francisco se apresentou ao Papa Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perugia e com candura lhe narrou a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e perguntou: “Por quanto anos queres esta indulgência”? Francisco, respondeu-lhe: “Pai santo, não peço por anos, mas por almas”. E feliz, se dirigiu à porta, mas o Pontífice o reconvocou: “Francisco, não queres nenhum documento”? E Francisco respondeu-lhe: “Santo Pai, de Deus, Ele cuidará de manifestar a obra sua; eu não tenho necessidade de algum documento. Esta carta deve ser a Santíssima Virgem Maria, Cristo o Escrivão e os Anjos as testemunhas”. E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas: “Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!”

 

 

     Neste dia 17 de setembro, a Família Franciscana celebra, em todo o mundo, a festa da Impressão das Chagas, também chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. A introdução litúrgica da Missa e Liturgia das Horas diz o seguinte:

     “O Seráfico Pai Francisco, desde o início de sua conversão, dedicou-se de uma maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele inculcava a todos por palavras e exemplo. Quando, em 1224, Francisco se abismava em profunda contemplação no Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão. O Papa Bento XI concedeu à Ordem dos Frades Menores que todos os anos, neste dia, celebrasse, no grau de festa, a memória de tão memorável prodígio, comprovado pelos mais fidedignos testemunhos.”

     A vida de Francisco no Alverne foi oração e ininterrupta penitência. Sentiu-se pobre e pecador. Quis despojar-se de tudo. Renunciou até mesmo a um manto que tinha sido salvo do fogo, a única coisa que tinha para cobrir-se durante o breve repouso da noite. Francisco voltara muitas vezes ao Alverne para encontrar a paz em Deus que a situação da Ordem e o fato de estar no meio dos homens não lhe davam e entregar-se de corpo e alma à oração.

     No verão de 1224, última vez que esteve no Alverne, Francisco procurou um lugar ainda mais “solitário e secreto” no qual pudesse, mais reservadamente, fazer a quaresma de São Miguel Arcanjo. Na manhã de 14 de setembro de 1224, os céus se abriram e Cristo crucificado desceu ao Monte Alverne na forma de um serafim.

Frei Regis explica o sentido e o significado:

     Mais do que desvendar o caráter histórico das Chagas de São Francisco, importa refletir sobre a experiência de vida que se esconde sobre este fato. O que significa a expressão de Celano “levava a cruz enraizada em seu coração”? O que isso significou para o próprio Francisco? Há um significado para nós hoje, naquilo que com ele ocorreu?

     Um erro comum é o de ver São Francisco como uma figura acabada, pronta, sem olhar para a caminhada que ele fez até chegar à semelhança perfeita (configuração) com o Cristo. O que ocorreu no Monte Alverne é o cume de toda uma vida, de uma busca incessante de Francisco em “seguir as pegadas de Jesus Cristo”. Francisco lançou-se numa aventura, sem tréguas, na qual deu tudo de si: a vontade, a inteligência e o amor. As chagas significam que Deus é Senhor de sua vida. Deus encontrou nele a plena abertura e a máxima liberdade para sua presença.

     O segundo significado das chagas é o de que Deus não é alienação para o ser humano, ao contrário, é sua plena realização e salvação. Colocando-se como centro da própria vida é que o homem se aliena e se destrói; torna-se absurdo para si mesmo no fechamento do seu ‘ego’. O homem só encontra sua verdadeira identidade, sua própria consistência e o sentido de sua existência em Deus. E Francisco fez esta descoberta: Jesus Cristo foi crucificado em razão de seu amor pela humanidade – “amou-os até o fim” – , e ele percorre este mesmo caminho.

     O terceiro significado: as chagas expressam que a vivência concreta do amor deixa marcas. A exemplo de Cristo, Francisco quis suportar/carregar e amar os irmãos para além do bem e do mal (amor incondicional). Essa atitude o levou a respeitar e acolher o ‘negativo’ dos outros mantendo a fraternidade apesar das divisões. Esse acolher e integrar o negativo da vida é a única forma de vencer o ‘diabólico’, rompendo com o farisaísmo e a autossuficiência, aniquilando o mal na própria carne. Só assim, o homem é de fato livre, porque não apenas suporta, mas ama e abraça o negativo que está em si e nos outros.

     O quarto significado: seguir o Cristo implica em morrer um pouco a cada dia: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz a cada dia e me siga” (Lc 9,23). Não vivemos num mundo que queremos, mas naquele que nos é imposto. Não fazemos tudo o que desejamos, mas aquilo que é possível e permitido. Somos chamados a viver alegremente mesmo com aquilo que nos incomoda, vencendo-se a si mesmo e integrando o ‘negativo’, de modo que ele seja superado. Nós seremos nós mesmos na mesma medida em que formos capazes de assumir nossa cruz. As chagas de São Francisco são as chagas de Cristo, e elas nos desafiam: ninguém pode conservar-se neutro, sem resposta diante da vida.

     São Francisco não contentou-se em unicamente seguir o Cristo. No seu encantamento com a pessoa do Filho de Deus, assemelhou-se e configurou-se com Ele. Este seu modo de viver está expresso na “perfeita alegria”, tema central da espiritualidade franciscana: “Acima de todos os dons e graças do Espírito Santo, está o de vencer-se a si mesmo, porque dos todos outros dons não podemos nos gloriar, mas na cruz da tribulação de cada sofrimento nós podemos nos gloriar porque isso é nosso”.

Por franciscanos.org.br

Quarta, 15 Setembro 2021 18:05

Vocação Franciscana e Sagradas Escrituras

EM NOME DO SENHOR!

     A vocação é compreendida e experenciada verdadeiramente quando está enraizada na palavra de Deus, Jesus Cristo. Neste primado, compreendemos que a vocação originalmente é uma referência que vem, não de nós, mas sim da pura gratuidade do mistério de Deus. O ato de chamar é uma iniciativa divina para a vocação humana, isto é, reunir a nossa decisão ao projeto de Deus. Logo, podemos conceber a vocação franciscana, que possui este itinerário na vida de São Francisco de Assis, onde mais que uma doutrina, o Evangelho é uma vida.

     O fundamento evangélico da vida franciscana encontra-se na vida de Cristo. Para isto, deparamo-nos com a vida e a regra dos Frades Menores escrita por Francisco: “Em nome do Senhor! Começa a Vida dos Frades Menores A Regra e a Vida dos Frades Menores é esta: observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade. Frei Francisco promete obediência e reverência ao senhor Papa Honório e a seus sucessores canonicamente eleitos e à Igreja Romana. E os outros Irmãos atenham-se em obediência a Frei Francisco e a seus sucessores” (RB 1-4). A frase que apresenta a moldura para todas as ações “Em nome do Senhor”, na qual, não é uma prescrição de normas, mas sentido de ser.

     O ponto de vista é jamais perder a vivência do Evangelho anunciado por cada letra da sagrada escritura. Nisto, a existência de Francisco ecoa como preparação própria da vivência de Cristo no presépio, na eucaristia e na Cruz, entrelaçado numa única esfera, testemunhar o Cristo. Aqui, meus irmãos, a regra não ensina somente aos frades, mas a todos aqueles, que genuinamente, abraçam o carisma franciscano.

     Sendo assim, a relação entre vocação franciscana e sagrada escritura converge na vivência do Evangelho. O caminho é construído pela escuta e obediência, que por sua vez, move o coração humano na configuração a Cristo, a qual, coincide na concretude de cada história do ser humano.

     A realidade do Evangelho perpassa pela primazia do amor a Deus e ao próximo. No Testamento, o próprio santo abraça a vida em Cristo no exercício da caridade para com os leprosos: “O Senhor deu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência assim: como estivesse em pecado, parecia-me demasiadamente amargo ver leprosos. E o próprio Senhor me conduziu entre eles e fiz misericórdia com eles. E afastando-me deles, aquilo que me parecia amargo, converteu-se em doçura da alma e do corpo; e, em seguida, detive-me por um pouco e saí do mundo” (T. 1-3).

     Por estas palavras, nota-se que não fora apenas um encontro, mas coabitação em ser, um com eles, experienciar misericórdia, viver e participar do mais profundo com o outro, e nisto, transformar o coração em Deus, que se doa por inteiro. A força de persistir no propósito é firme, tem raiz, não é uma ideia, algo sem força de trabalho, é fruto da vida em oração em corresponder com o chamado de Deus para o amor.

     Os dois pontos dos escritos de Francisco revelam a centralidade para todos aqueles que discernem seu seguimento pelo carisma franciscano. Consequentemente, o oxigênio para o encontro com o próximo nasce na pessoa do Cristo pobre, humilde e casto, que revela o rosto de cada irmão e irmã em meio as veredas do existir.

     O ponto que não podemos deixar de assumir é a relação fraterna, tão importante para o Pai Seráfico gerado na minoridade. A aplicabilidade do coração possibilita a essência sobre o mandamento do amor – “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34-35) – onde cada irmão que se aproxima, em sua diferença, ajuda na vitalidade em crescer na minoridade diante das dificuldades e alegrias da vida fraterna.

     Portanto, a proposta salvífica testemunhada por Francisco, não nasce de um dia para outro, como aqui meditamos, é uma resposta na prática da vida pelo caminho da humildade, em que, a nossa grandeza está na glória da Cruz de Cristo para atingir o grau da verdadeira felicidade proposta ao coração humano. Diante disso, São Francisco nos ensina a crescer na vocação pela paciência do amor buscando coincidir o dom da vida com a vida de Cristo, expressa na sagrada escritura, no encontro com o próximo na voz da Igreja. Que o Senhor nosso Deus, pela intercessão de Maria Santíssima nos conceda a graça da perseverança neste percurso, onde a nossa decisão, como amigos de Deus, seja encarnada no mais profundo do existir. Paz e Bem!

 

Por: Frei Christian César, OFMConv.

Serviço de Animação Vocacional

                                                                                          Víctor Ml. Mora Mesén, OFM Conv.

 

     Ao contrário do que se defende em círculos com pouco conhecimento da literatura que conhecemos como Bíblia, o pensamento unitário ou eminentemente doutrinário-axiomático está totalmente ausente nos livros que a compõem.[1] É importante sublinhar um fato, a Bíblia é composta por uma grande variedade de textos, cujas características diferem: datas de composição, estilos e formas literais, materiais, temas, ideologias, processos editoriais e ainda foram escritos em diversas locações. Na verdade, esta coleção inclui textos que foram compostos aproximadamente do século V AEC à primeira metade do século I EC.

     A problemática do surgimento desta coleção e dos problemas que cada livro apresenta para a sua compreensão e para a delimitação histórico-cultural do seu contexto vital, é muito complexa e diversificada. Narrações, leis, pronunciamentos proféticos, hinos, cânticos, orações, poemas, cartas, biografias antigas (as chamadas "Vitae" nos estudos greco-romanos) e muitos outros gêneros literários, são complementados por diversidades de óticas, polêmicas, símbolos, costumes, relações entre povos e concepções religiosas. Por que essa complexa coleção foi formada e por que ela é sustentada como fonte de inspiração para as religiões judaica e cristã (sim esquecer outras influências da Bíblia em diferentes manifestações religiosas, como o Islã, ou movimentos religiosos não necessariamente confessionais), ou simplesmente para pessoas marginais a qualquer tipo de fé?

     Perguntar-se por estas questões é mais que legítimo, pois a Bíblia tinha servido a muitos propósitos, que vão desde o desenvolvimento das mais belas manifestações do ser humano (não solo como experiência religiosa pessoal ou comunitária, de humanismo e doação, mas também como inspiração estética, literária e mesma política), até posições intransigentes que causaram muitas injustiças. Mas não é culpa da Bíblia que tinha sido manipulada, porque não é uma obra nascida com um proposito unidirecional, ou seja, um escrito com um marcado interesse ideológico absoluto. E não é que estão ausentes ideologias nesta coleção de livros [2], mas sim que a dinâmica literário-cultural [3] desta coleção oferece um espaço de interpretação irregularmente poliédrica: com pontos de contato, distanciamentos e perplexidades, ambiguidades e mesmo contradições. Mas qual é a origem dessa complexidade e por que, em determinado momento da história,[4] lhe foi reconhecida uma identidade unitária?

A experiência de vida e o encontro com Yahweh

     Se quiséssemos encontrar um ponto de contato entre todos os livros desta coleção, não existe dúvida de que o que os aproxima é a referência à vida humana. É falso indicar que o ponto fundamental em todos os livros é Deus. Na verdade, o Cântico dos Cânticos não faz menção dele. [5] Em muitas narrativas, as vicissitudes dos personagens principais são descritas, mas apenas em algumas passagens a intervenção de Deus é direta. A melhor descrição que se pode fazer dos textos é que são obras que se referem à experiência da vida humana. Nela, porém, também ocorre um encontro com Deus.

     Como esse encontro nos é apresentado na Bíblia? Como surpresa e provocação. É interessante que todos os textos nos quais é feita referência direta a Deus, primeiro tenham uma descrição das circunstâncias vitais em que o encontro com ele ocorre. A Bíblia se apresenta a nós como história, [6] mas não como História de Salvação, como se costumava dizer, mas como espaço onde se realizam uma multiplicidade de encontros. Esses encontros ocorrem entre indivíduos, nações, culturas, costumes e religiões. Por esta razão, também encontramos tensões humanas no nível doméstico ou comunitário; pressões políticas (com seus conflitos irremediáveis: lutas, sede de poder e guerras); choques culturais que geravam a rejeição de certos grupos; influências do pensamento oriundas de culturas com maiores recursos econômicos, que permitiam uma maior produção cultural; conflitos religiosos entre praticantes da mesma religião ou desacordos com religiões de outros povos; e muitas outras coisas.

     É nessa vida experimentada que surge de repente uma presença que se torna palavra e promessa. A esta altura, o leitor destas linhas terá percebido que não estamos seguindo simplesmente a ordem dos livros e histórias que aparecem na apresentação atual da Bíblia. Escolhemos outra forma de descrever sua identidade, para tentar situar no âmbito da composição a evolução das ideias e conceitos finalmente expressos na ordem canônica da coleção. Isso por duas razões, a primeira delas é evitar cair na armadilha de considerar os textos bíblicos como obras imutáveis ​​desde sua criação original. Na verdade, os livros passaram por várias etapas em seu processo de composição, porque uma tradição escrita também suscitava novas interpretações que pretendiam atualizá-la de acordo com uma realidade em mudança.[7] Em outras palavras, as provocações da história e o encontro com Yahweh fizeram com que os editores das obras bíblicas fossem sempre desafiados a revisar algumas visões que eram deficientes para uma compreensão mais abrangente de sua própria experiência de vida.

     Sem a experiência de vida, o encontro com Yahweh seria inócuo e até irrelevante. Talvez este seja o ponto central para entender o porquê do caráter unitário da coleção. Somente aqueles que são capazes de contemplar a vida, com suas inúmeras voltas e reviravoltas, pode estar aberto à experiência de algo que lhes supera e transcende. Esta sensibilidade especial é o que está na base do encontro com Yahweh, que longe de ser uma espécie de consolação fácil o de resposta existencial indiscutível para a existência, se manifesta sempre como una proposta o uma provocação para empreender um caminho em direção ao futuro.

     Neste ponto, porém, teríamos que fazer uma pausa para nos perguntar qual foi a concepção de história que os autores dos textos bíblicos tiveram. Certamente não é uma concepção linear e evolutiva tipicamente ocidental e moderna. Enquanto para nós o futuro é visto como uma meta alcançável, para a mentalidade semítica é algo inexistente. O que existe é o que é vivido, e o que aconteceu é algo que se contempla para deduzir os destelhes do que poderia ser a vida humana. Por isso, a experiência está na base do pensamento bíblico. Sem ele, nem mesmo é possível falar de Deus. Para os autores bíblicos, é na construção da memória da experiência vital que se dá o processo de discernimento do real. O pensamento utópico moderno não é típico do pensamento bíblico. Mas também não é o relativismo ou a impossibilidade de sonhar com o futuro. O passado nos permite vislumbrar os caminhos da consolidação do humano ou do fracasso nascido da injustiça e do egoísmo.

     Em que sentido, então, o encontro com Yahweh é uma provocação? Em que a experiência precisa ser reinterpretada a partir das possibilidades do humano, não da aceitação submissa do fracasso. Yahweh amplia o olhar para compreender a experiência e possibilita a construção de uma nova memória, que se baseia na contemplação progressiva dos fatos que demonstram o sucesso do empreendimento de liberdade e justiça.

Yahweh, o Deus que guia para a liberdade

     Certamente, a experiência do êxodo é a chave interpretativa da religião judaica. Os membros do povo judeu precisavam basear sua própria identidade como memória, não só de suas origens, mas também de toda a humanidade. De onde vem essa necessidade de universalismo? A experiência histórica de Israel foi marcada pelo surgimento da monarquia e pela constituição de uma nação. A figura do rei era um símbolo importante como garantia da unidade de um grupo de tribos com diferenças mais ou menos definidas. Mas a divisão do reino davídico-salomônico em duas nações, assim como a conquista do reino do norte pelos assírios e a destruição do reino do sul pelos babilônios, mergulhou a nação israelita em uma grande crise. A monarquia, que inicialmente tinha promovido o culto de Yahweh como um deus nacional, relativizou e condicionou a sua coerência religiosa a seus interesses políticos e econômicos, ou ao desenvolvimento de alianças estratégicas para aumentar a sua influência na região palestina. Cultos a outros deuses foram promovidos, porque os casamentos de conveniência eram celebrados com membros de outras monarquias vizinhas que adoravam outras divindades.

     Uma tentativa de reforma nacional, que pretendia usar a centralização do culto ao Senhor em Jerusalém nos dias do rei Josias, terminou desaparecendo com a morte do monarca em uma guerra contra o Egito e, alguns anos mais tarde, ela provou sua inutilidade quando foi conquistada Judá por Nabucodonosor. O exílio forçado pelo império babilônico, levou as elites intelectuais e religiosas para a Mesopotâmia a repensar o que tinham vivido e a se perguntar por que Yahweh parecia mais fraco do que os deuses de outros povos. Daí se originou uma intuição fundamental: o ser humano era o verdadeiro destruidor da harmonia que Deus tinha estabelecido no mundo. O desejo de ser como Deus levou a relativizar a vida humana, a aperfeiçoar a arte da guerra, do conflito e encontrar oportunidades para sonhar com a grandeza. Isso inevitavelmente produziu o caos na história, os seres humanos não se entendiam mais e era preciso recomeçar.

     Paradoxalmente, essa intuição nasceu da leitura de um mito criado pelos próprios conquistadores (o Gilgamesh). Mas não se tratava de uma cópia, mas de uma releitura da própria história. O dilúvio representou aquela era de caos que eles estavam experimentando, mas isso não era absoluto. Na maioria das vezes, Israel experimentou a confusão gerada pela corrupção e pela utilização de uns e outros. Os profetas, membros de clãs de proprietários de terras ou círculos sacerdotais não determinados pela influência dos reis, sempre deixaram em claro a necessidade de retornar às antigas raízes do povo: o período em que Deus os conduziu à liberdade.

     As brumas do tempo não permitem uma reconstrução precisa das origens do Yahwismo. Os acontecimentos originais não estão ao nosso alcance por falta de provas documentais, mas temos a sua reinterpretação em vários níveis literários, que correspondem também a diferentes visões de mundo. Moisés, o salvo das águas, torna-se o enviado de Deus para enfrentar o poder do Faraó, que se considerava um deus vivo.[8] O livro do Êxodo nos lembra que a divinização dos poderes terrestres é apenas uma quimera, que inevitavelmente cai quando a ação de Yahweh se manifesta. Não é de estranhar que as obras teológicas que fazem esta releitura tomem as tradições exódicas com tanta força. Os exilados sabiam que o Egito tinha entrado em uma época de crise, que a Assíria caiu nas mãos dos babilônios e que este outro império também caiu sob a Pérsia. A conclusão para eles foi clara: quem governa o mundo dos homens, foi quem recebeu a aprovação do único que está acima de tudo, porque todos dependem dele, Yahweh.

     A derrota dos poderosos se manifestou porque Deus escolheu um grupo de escravos para conduzi-los à liberdade. As perambulações pelo deserto serviram de base para interpretar a perda da independência nacional como um momento importante para aprender com Yahweh a ser livre.

     Este foi o momento repensar novamente a vida e considerar como poder ser mais fieis à sua própria identidade. As respostas não foram unânimes. Por um lado, estava claro que havia a necessidade de um guia, então diferentes códigos legais foram produzidos para lançar as bases de uma futura nação. Algumas leis mais próximas do código de Hamurabi, outras baseadas na santidade cultural do povo, outras determinadas a colocar um limite à monarquia; cada proposta foi apoiada, com certeza, por grupos diferentes, e nem sempre eles foram consistentes entre si. O interessante sobre todas essas propostas é que elas estão espalhadas por todo o Pentateuco, a Torá dos judeus; nenhum código foi rejeitado, porque tudo o que havia de bom neles foi mantido. Mas não estamos diante de uma simples coleção de leis, mas de uma composição contendo histórias que vão desde o início dos tempos até o agora em que Israel está prestes a entrar na Terra Prometida.[9] Uma terra que, no entanto, deve ser conquistada e forjada à luz da fé.

     A morte de Moisés, o salvo das águas, deixa claro que uma geração tinha passado (aquela do exílio?) E surge uma nova (aquela do pós-exílio?). E, novamente, a tarefa de reconstruir o que foi demolido e erguer o que não foi feito está diante dos olhos.

Realismo ao recontar e reinterpretar a história

     Nem tudo, entretanto, nos livros da Bíblia é preto ou branco. Uma das principais características das histórias bíblicas é a descrição do ser humano de forma realista, principalmente no que se refere aos escolhidos por Deus para realizar seu projeto de vida. Desde o início da Bíblia, os personagens principais não são necessariamente exemplos de virtude. Abraão se apresenta como uma pessoa que tem medo, que engana o Faraó do Egito e Abimelek dizendo que sua esposa era sua irmã e oferecendo-a para os haréns desses governantes. É Deus quem tem que agir para que a verdade apareça. Abraão se lamenta com Deus, acredita, mas se desespera; ele concorda em ter relações com a escrava de sua esposa, mas seu filho primogênito não herdará sua propriedade, porque Deus quer tirar um filho de uma mulher estéril. Deus promete descendência imensa, mas Abraão só teve dois filhos. Seu neto Jacó é um canalha que apropria do direito de primogenitura de seu irmão por meio de um engano. Os irmãos de José o vendem por inveja, Davi comete adultério, Elias mata os profetas de Baal sem uma ordem divina, Jeremias se desespera e deseja nunca ter nascido e disse que seria melhor ser sido um aborto. Histórias como essas são abundantes na Bíblia. Por que tanto realismo e não solo elegias de glória? O ser humano é sempre projeto ambíguo é a conclusão mais lógica quando a Bíblia é lida.

     Os grandes projetos de reconstrução posexílica, entretecidos no Pentateuco, tiveram que ceder com à chegada dos gregos. Outro mundo se abria para os judeus. De um lado, o desejo de universalização e, de outro, a necessidade de fechar-se novamente para se proteger. Os grandes símbolos de identidade revelaram ser o templo e a fidelidade à Torá. Para se salvar das ameaças selêucidas, uma aliança foi estabelecida com Roma e, assim, Judeia tornou-se um estado vassalo novamente. A cultura grega, no entanto, não deixou o judaísmo imperturbado. Uma nova corrente de pensamento começou a moldar a consciência e o comportamento dos judeus que, desde os tempos do exílio, começaram a viver fora da Palestina.

     Foi nessa época que surgiu a necessidade de traduzir o TANAK para o grego, o que deu origem à Bíblia dos LXX. Novas obras judaicas, escritas em grego, começaram a repensar a tradição de Israel a partir das categorias filosóficas ocidentais, mas sem abandonar a visão particular e original judaica: para estas obras, toda a sabedoria é medida na capacidade de ter um pensamento para gerar autenticidade e tranquilidade. Ao contrário do pensamento abstrato, a σοφία hebraica busca na experiência os critérios para julgar o mundo e tirar conclusões existenciais. Deus não é uma abstração de um λόγος primordial, mas é comunicação. Mais uma vez, a ideia de encontrá-lo se concretiza no vivido, que acaba sendo o húmus para pensar e agir. As categorias gregas são antropomorfizadas para indicar sua dependência de Deus como suas criaturas. Reaparecem também referências ao êxodo, aos patriarcas, à origem do mundo e à relação entre as pessoas.

     Nesta nova era, as categorias abstratas não são entendidas como descrições absolutas e perfeitas do real, mas como categorias que têm contraexemplos válidos e verdadeiros. O contraste antagônico é preferido à singularidade dos discursos; a diversidade que provoca o diálogo, à singularidade que tende a ser uma resposta inequívoca e até opressora. A vida humana caminha entre luzes e sombras, mas acompanhada por Yahweh que ajuda a equilibrar as coisas e os tempos.

E Yahweh se fez história

     A coleção que inclui o Novo Testamento tem um duplo aspecto hermenêutico: as tradições do Antigo Testamento de Israel e a vida de Jesus de Nazaré. Alguns dizem que o Novo Testamento é um comentário sobre o Antigo, outros que o primeiro é a superação do segundo. Ambas respostas estão erradas. Como sempre na Bíblia, há releituras e novidades. O interessante é que as cartas de Paulo e os relatos dos Evangelhos sempre têm que se referir aos textos do Antigo Testamento para interpretar a vida de Jesus; mas, por outro lado, eles insistem que a única maneira de entender Yahweh é por meio dele. Ou seja, o encontro com Yahweh na história termina na convicção de que ele participa da história ao lado dos homens como um deles.

     Esta coleção, segundo a pesquisa histórico-crítica, foi formada a partir de um núcleo teológico: Jesus morreu na cruz e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras. O que parece para ser solo uma afirmação tradicional e normal para todo cristão, na verdade é uma premissa interpretativa que está ancorada em dois fundamentos: a experiência histórica dos que conheceram a Jesus e a história de Israel interpretada no Antigo Testamento e relida à luz da vida de Jesus. Isso significa que a afirmação essencial da fé cristã pode ser entendida a nível literário na consideração de sua estrutura semântica,[10] que poderíamos delinear assim:

 

Morte de Jesus - Ressurreição - História interpretada de Israel

 

     Note-se que a confissão na ressurreição de Jesus só faz sentido se a experiência de vida dos seus discípulos está diretamente ligada ao conjunto de textos que, de modo diversificado, interpretam a história de um povo. Estamos perante uma forma de ver a vida que tem a ver, não só com uma série de acontecimentos do passado, mas com uma avaliação dele que nasce da experiência de superação das injustiças. A ressurreição é certamente uma confissão de fé, mas também uma forma de compreender a dinâmica histórica. Jesus não morreu de velhice, foi condenado pela autoridade romana, instigado pelos mais importantes círculos sacerdotais e religiosos de Jerusalém.

     O Novo Testamento tem sua origem em um drama humano, que se refere à existência de uma pessoa. Por outro lado, essa vida é cheia de relacionamentos com outras pessoas, sejam elas colaboradores, inimigos, líderes, cidadãos palestinos ou romanos. Ou seja, o Novo Testamento tenta expressar uma continuidade de pensamento entre a coleção de livros da TANAK e da Bíblia dos LXX, e a experiência vivida com Jesus. É uma forma de incluir diferentes visões de vida, mas também de tornar clara a realidade do encontro com o Senhor. A novidade que oferece é que Yahweh se relaciona como pessoa humana, com uma experiência vital e com uma percepção particular do encontro que Israel teve com Deus no passado. O ponto alto de toda a história de Jesus é que ele foi condenado por sustentar que Yahweh intervém na história da humanidade a partir de uma perspectiva particular: oferecendo a possibilidade de criar mais vida e libertar todos aqueles que sentem sua existência diminuída por fatores externos e opressores.

     Esta participação de Deus na história como ser humano traz consigo a introdução de uma nova realidade, que leva o nome de ressurreição. Jesus, embora condenado, não é uma vítima falhada na morte, porque toda a sua existência (na linguagem tradicional, mas não para aquela bíblica: a sua vida espiritual e corporal) superou a violência a que foi submetido com o amor e a doação total de se mesmo. Isso implica, portanto, uma nova percepção do encontro com Deus na história. Primeiro, porque implica uma nova responsabilidade para os seguidores de Jesus no mundo e, segundo, porque Deus trabalha por meio de Seu Espírito para construir junto aos humanos um novo mundo sem morte e opressão, que transcende a temporalidade e a fraqueza das ações humanas.

     É interessante que o último livro da coleção do Novo Testamento está cheio de simbolismos e evocações de todo o conjunto dos livros bíblicos. Ele se introduze como uma comunicação a cristãos concretos que sofrem perseguições e que, apesar de seus esforços para permanecer na fé, também experimentam as contradições típicas de cada ser humano. Mas quem fala com eles é Jesus, que superou as adversidades e pede confiança e coragem. As visões que se sucedem evocam a história do Êxodo, que ilumina a relação que existe entre as vicissitudes que os homens enfrentam na terra e a proximidade do mundo celestial com essa realidade. O livro termina com um grande encontro, onde quem passou pelas atribulações da história é acolhido numa nova cidade oferecida por Deus como lugar de plena comunhão. O grande dragão do mal e as destrutivas bestias (ao estilo da sucessão dos impérios no livro de Daniel) são superados por um cordeiro que foi morto, que ofereceu seu sangue para que os homens para recuperam a esperança e o desejo de continuar lutando, movidos pelo Espírito divino, para transformar a realidade histórica.

Um mundo onde muitos mundos se encontram

     Esta breve viagem, que de forma alguma é exaustiva, nem enfrenta os grandes desafios interpretativos de todos os textos bíblicos, quis deixar várias coisas claras. A Bíblia é complexa porque fala sobre a vida humana de muitas maneiras diferentes. É um esforço enorme para dar sentido à sucessão dos acontecimentos, não como uma abstração ideológica, mas como uma tentativa de mostrar que a história é composta de experiências individuais, relações interpessoais, vidas comunitárias ou nacionais, confrontos internacionais e influências ideológicas dialéticas, variadas e enriquecedoras.

     Não encontramos na coleção de textos bíblicos o desejo de impor um pensamento único, mas de dar espaço a diferentes vozes. Não importa que sejam heróis, ladrões, pessoas honestas ou desonestas, reis ou plebeus. Também não oferece uma visão fechada dos sucessos e glórias de uma nação, mas fala de fracassos, corrupção, interesses ou inveja que geram conflitos terríveis e dolorosos. Nessa história surgem vozes de denúncia, oposição, desejos de reforma e sonhos de futuro. Somos informados de projetos de nações, de tentativas de mudar as coisas e de quedas caídas nos mesmos lugares. Em suma, a vida humana é retratada a partir de sua grandeza e de sua miséria, de seu amor altruísta, da paixão dos amantes e dos planos maquiavélicos de quem só pensa em si mesmo.

     Também vemos nela símbolos, ideias, leis, práticas religiosas e sistemas políticos inspirados por diferentes povos. Em seu buscar, os autores bíblicos usam a experiência de outras pessoas para compreender suas próprias vidas e os desafios que têm de enfrentar. Não hesitam em aceitar o que se mostra bom, rejeitam as pretensões da manipulação ideológica nascida do poder, mas também reconhecem que o poder é uma tentação permanente para uma criatura frágil, que às vezes finge ser Deus.

     E fala-nos de um encontro, com a origem de toda a vida e de todo o bem, que se aproxima por iniciativa própria para dizer que é Yahweh: aquele que se manifestará, aquele que estará presente, aquele que não pode ser manejado ou convertido em um fantoche do poder despótico, porque ele é totalmente livre e soberano. Os homens só se dão conta da sua presença porque o veem por trás, como Moisés, mas sabem que é um fogo ardente que não consome, é uma brisa delicada em momentos de angústia e de determinada provocação para ir além do que foi conquistado. Deus nos parece terno e duro, conhecedor do que há de mais íntimo no homem, mas capaz de fazer dos mais corruptos portadores de vida para os outros.

     Um Deus que, no seu desejo de comunicar, se faz homem e experimenta o que o homem vive na sua própria carne. Ele desejou viver em primeira mão o que significa enfrentar a morte atroz e despiedada, nascida do ódio e da ânsia de domínio. Ele é um Deus que une, que não faz guerra, que liberta e que ensina. Uma tempestade, como descreve o livro de Jó, mas que dá razão aos homens que, como Jeremias, se sentem abatidos pelo peso de sua palavra exigente. Um Deus que no final do seu sofrido drama como condenado à morte, envia os seus ao encontro com outras pessoas, com outras culturas e povos, para contar-lhes a experiência que os seus pais e eles mesmos viveram, ajudando-os a aprender a abrir-se a um novo desafio que se lhes apresenta: reconhecer a beleza de um mundo ainda desconhecido.

 

 

[1] A palavra "Bíblia" é pregada de várias maneiras. Primeiro, temos a TANAK, ou Bíblia Hebraica, que é composta de livros escritos principalmente em hebraico com algumas passagens em aramaico: esta coleção se refere aos livros que “mancham as mãos” na tradição judaica, o que indica seu valor sagrado. A TANAK é composta pela Torá (lei), pelos Nebi'im (profetas) e pelos Ketubim (Escritos). Em segundo lugar, temos a Bíblia dos LXX, que é uma tradução grega dos livros que compõem a TANAK, com a inclusão de alguns outros textos que não estão na Bíblia Hebraica. E, em terceiro lugar, temos a Bíblia cristã, que consiste dos livros do TANAK e do Novo Testamento, na tradição protestante, e, na tradição católica, também estão incluídos os livros da Bíblia dos LXX que não se encontram na TANAK. Em um nível técnico, os textos que compõem a Bíblia dos LXX junto com aqueles do Novo Testamento são conhecidos como a Bíblia Grega.

[2] Entendemos por "ideologia" um conjunto sistemático de ideias que são propostas como descrições válidas do real, a fim de direcionar as ações humanas para algum fim específico.

[3] Cultura é entendida neste artigo em um sentido amplo, como qualquer esforço que procura encontrar um sentido para a existência por meio de signos (linguagens), sistemas (costumes, rituais, organizações sociais) e modificações do ambiente (trabalho, relações intergrupais, sistemas de administração coletiva).

[4] Este não é o momento de falar sobre os processos de "canonização" dos textos bíblicos. No entanto, esta é uma terminologia cristã, que tem apenas uma semelhança externa com a definição dos textos que "mancham as mãos" na tradição judaica. É importante destacar que, a partir da definição pela autoridade eclesiástica dos limites dessa coleção, a Bíblia passou a ter um significado particular: começou a ser chamada “Escritura”, nome que implica seu caráter comunicativo por excelência. Essa categorização teve uma influência decisiva ao longo da história do Ocidente. Cf. A. Paul, La Biblia y Occidente. De la Biblioteca de Alejandría a la cultura europea (Estella, Navarra 2007).

[5] Referindo-se a este texto, apenas no final alguns encontram uma referência mínima a Deus, mas seria uma apócope usada como um sufixo verbal. Embora esta seja uma possibilidade gramatical, o fato é que as mesmas letras são usadas para o sufixo da terceira pessoa feminino singular, então a referência do versículo não é Deus, mas a amada do poema. Preferimos esta solução, porque a compreensão do texto é muito mais fácil do que no caso em que se opta por uma alusão a Deus, já que se referiria a uma simbologia presente nos salmos e inspirada pelo deus da tempestade. No segundo caso, se referiria ao orgasmo feminino, muito mais em consonância com as imagens eróticas da obra. Com tudo, é interessante notar que a ambiguidade morfológica implicaria a possibilidade de novas interpretações literárias.

[6] A palavra história também pode ser entendida como a criação ficcional e literária de uma série de acontecimentos, que tendem a expressar e resolver uma série de conflitos e que implica desenvolver um processo interpretativo por parte do leitor.

[7] Dois princípios básicos estão unidos na composição dos textos: preservar o que foi recebido e oferecer atualizações para outros novos contextos. Essa preocupação criou uma combinação verdadeiramente única no resultado literário final. É possível vislumbrar nos textos uma grande variedade de mãos e visões do mundo que fazem parte da estrutura literária, mas a sua dissecção é impossível, porque as tentativas de reconstruir as adições ou interpretações dos documentos "originais " tem sempre mostrado frágeis e hipotéticas. Não por isso, o processo deve ser descurado, porque nos oferece critérios de compressão únicos e importantes para determinar o significado de um espírito na constituição da coleção.

[8] Observe alguns elementos semelhantes deste profeta com Noé. Quando o mundo chegou ao fim da corrupção, Deus o enviou para salvar toda a criação numa arca. Moisés salvou-se das águas navegando em uma cesta. Noé deu à luz a nova humanidade, Moisés ao novo povo.

[9] Não entramos no problema das origens do Pentateuco e suas possíveis inicios como um Tetrateuco, Hexateuco ou Heneateuco.

[10] Aqui não nos referimos aos diversos enunciados da confissão cristã encontrados no Novo Testamento, mas partimos de uma abstração que nos permite diferenciar os pontos essenciais em um nível semântico, tudo para fins exemplares.

Terça, 24 Agosto 2021 21:21

Visitas fraternas à Missão no Amazonas

            Durante a segunda quinzena de agosto, aconteceu em Tefé o encontro dos missionários franciscanos de Tefé e Juruá com o Ministro Provincial, Frei Gilberto de Jesus (OFMConv). Foi uma importante oportunidade para o reencontro dos frades, partilhas de fé, reuniões e avaliação da missão como um todo. 

            O Provincial recordou aos missionários que Jesus é o maior dentre os exemplos de missionários, pois tornou-se pobre, mesmo sendo filho de Deus, visitou os pecadores e os doentes. O missionário é aquele que doa o seu melhor a Deus e que traz Deus aos que necessitam de uma palavra de vida.

 

[Frei Gilberto e seus confrades na Santa Missa de encerramento em Tefé (AM)]

             Em decorrência da pandemia, algumas dificuldades foram encontradas para a locomoção de lancha até Juruá (AM) – já que a única forma de chegar à cidade é pelos rios – e, assim sendo, não foi possível fazer-se presente fisicamente em Juruá. Todavia, os frades de Juruá estiveram em Tefé para partilharem do encontro fraterno com o Ministro Provincial e demais frades da Missão. O fim do encontro se deu na manhã do dia 24 de agosto com a Santa Missa e a liturgia das horas.

 

[Frei Gilberto, seus confrades, coroinhas e fiéis na Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Tefé (AM)]

            Frei Gilberto visitou também a Casa Filial Nossa Senhora das Mercês, em Manaus (AM). Ele se encontrou com os frades desta comunidade e também visitou a Área Missionária de São Maximiliano, pertencente a Paróquia Santa Edwirgens, onde será construído o Convento e Casa de acolhimento para os ribeirinhos.

            Que a Missão no Amazonas continue a ser resposta ao convite do Senhor e que ela possa significar a Igreja em saída, como propôs o Papa Francisco.

Sexta, 20 Agosto 2021 20:55

Missão no Amazonas

            Os Frades Franciscanos Conventuais, da Província São Maximiliano no Brasil, têm um importante trabalho missionário nas cidades Tefé e Juruá, ambas localizadas no estado do Amazonas.

                Desde de 2005, a Família Franciscana Conventual está presente nessa missão, com a chegada do bispo emérito de Luziânia, Dom Frei Agostinho Stefan (OFMConv.). Ele se estabeleceu em Juruá, juntamente com o ardor missionário dos Frades Franciscanos Conventuais.

                Em 2009, os frades reunidos no Capítulo Extraordinário, adotaram pra si a missão na prelazia de Tefé, assumindo duas frentes de trabalho missionário. Foram elas a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Juruá e a Paróquia Santo Antônio, em Tefé. Ambas bases da missão, para realizar de barco as subidas e descidas missionárias aos povos ribeirinhos da Amazônia profunda.

                Esse excelente trabalho religioso da Missão no Amazonas, possui um apostolado de presença significativa de três frades, atendendo ao trabalho da Paróquia Santo Antônio que tem em média 60 mil habitantes. A missão dos frades, além do atendimento das Paróquias, conta com trabalhos nas áreas rurais, atendendo centenas de famílias. De fato, é uma realidade desafiadora nos moldes religiosos, culturais e sociais atuais.

                Em Juruá estão o Frei Francisco Ferreira da Silva (OFMConv) e o Frei Antônio Maria dos Santos Júnior (OFMConv). Em Tefé estão o Frei Givaldo Batista da silva, o Frei Carlos A. de Oliveira (OFMConv) e o Frei Paulo Arante Rodrigues (OFMConv), que têm exercido com atenção e cuidado os trabalhos pastorais e sociais nesse tempo de pandemia.

18 de agosto de 2021290

Prot. Nr 0687/21 Roma, 9 de agosto de 2021

 

Carta comemorativa por ocasião do 80º aniversário da morte de São Maximiliano M. Kolbe e 50º de sua beatificação.

A todos os irmãos da Ordem

A todos os peregrinos

 

"Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece Nele. " (I João 4,16)

 

Queridos irmãos,

                A memória do 80º aniversário da morte de São Maximiliano Maria Kolbe e do 50º da sua beatificação são, para nós, um momento de reflexão à luz da sua herança espiritual marcada pelo amor. O seu cativeiro vivido no campo de concentração de Auschwitz, coroado com a sua morte por inanição no bunker, representa para nós a razão histórica que constata a crônica de um itinerário cada vez maior de santidade e amor.

                A escuridão da cela, esclarecida pelo testemunho orante de São Maximiliano e pelas suas palavras de consolação dirigidas aos seus infelizes companheiros de prisão, fazem deste lugar – que é um símbolo da irracionalidade do homem – num altar sobre o qual a dignidade humana e o sacerdócio do irmão franciscano são exaltados para iluminar “este século difícil”, como dizia São João Paulo II.

 

Um roteiro de amor

                O amor incondicional é o sinal mais claro que distingue a vida de nosso santo mártir.

                Outras características suas são: o amor à Mãe de Deus, em primeiro lugar, que desde a infância encheu o coração do pequeno “Reymundo” e que durante a adolescência o levou a adotar o hábito franciscano; a dedicação com que realizou sua formação e estudos; a capacidade que tinha – apesar da pouca idade – de interpretar os acontecimentos daquele momento histórico decisivo; o amor pela fraternidade religiosa; a decisão de viver de maneira autêntica seu ser sacerdotal católico; o seu amor pela humanidade, atestado pelo seu trabalho incansável de evangelização no compromisso de moldar bem a consciência das pessoas do seu tempo; bem como o "dom" da "consagração a Maria Imaculada", oferecida à Igreja e ao mundo, através do zelo missionário e, por último, do amor total e inteiro ao martírio.

                Tudo isso não é apenas fruto da vontade humana, mas um itinerário virtuoso que testemunha a experiência do amor de Deus como motivação fundamental da vida do Santo Mártir.

 

Presença profética

                O profundo amor com que São Maximiliano consagrou a sua vida à Imaculada para "ser como ela" – e a doação permanente da sua vida aos irmãos – orientam profeticamente o sentido da nossa vida.

                A chave para ler esta profecia não é somente ser virtuoso (pois correríamos o risco de não o conseguir), mas sermos "amantes": crentes cheios de amor pelos outros. Este deve ser o nosso caminho cotidiano: gastar e dar-nos com generosidade, numa oferta agradável a Deus.

                A presença profética de Deus, vivida por São Maximiliano, nada mais é do que a presença do Amor de Deus feito história da salvação a favor dos homens do seu tempo.

                Como escreveu o Papa Francisco: “… a história mostra sinais de retrocesso. Conflitos anacrônicos que se consideravam superados são acesos, ressurgem nacionalismos fechados, exasperados, ressentidos e agressivos... e o bem, assim como o amor, a justiça e a solidariedade... devem ser conquistados todos os dias”(cf. Fratelli tutti, 11).

                Esta é a profecia: em um mundo movido por diversos sistemas de interesses egoístas e regimes desumanizadores, viva e testemunhe o amor, a caridade, a dignidade e a preocupação salvadora pelos outros.

 

Novas criaturas nas mãos da primeira criatura redimida

                Talvez nunca possamos realizar em nós um ato de consagração total à Imaculada, como o fez nosso Santo. Muitos mostraram, precisamente, que o seu não foi um simples ato devocional; Pessoalmente, gosto de considerar a sua consagração total à Imaculada Conceição como a mais sublime das devoções: um abandono total, existencial e performativo da nossa vida a Deus, a exemplo da Imaculada, que se deixou impregnar completamente pela ação do Espírito Santo.

                Portanto, não se trata apenas de ser altruísta neste “século difícil”, mas de sermos novas criaturas.

                Na primeira criatura resgatada pelos méritos do seu Filho, em Maria Imaculada, também nós podemos tornar-nos novas criaturas, renovando a nossa consagração batismal. Esta é a forma cristã de oferecer uma novidade de vida ao nosso século: tornar-nos pessoas novas para gerar um novo mundo.

                Que o Padre Kolbe nos ensine a não ter medo de sonhar, porque grandes coisas podem ser feitas com a Imaculada Conceição.

 

 Conclusão e saudação

                Ao terminar esta carta, desejo olhar com esperança e fé para o dom da santidade que Deus suscitou no seu servo São Maximiliano.

                Mas, acima de tudo, dirijo-me a todos aqueles – e são muitos – que o invocam e, com confiança, seguindo o seu exemplo, se consagram a Maria Imaculada para se deixar envolver num renovado compromisso de testemunhar o amor de Deus pela humanidade.

                Santo Irineu de Lyon diz que "a glória de Deus consiste em que o homem viva"; Nesta visão da grandeza da humanidade diante de Deus, podemos perceber como a caridade ativa é um caminho de dignidade para os nossos irmãos de todos os tempos. Um caminho que nos permite ser instrumentos de Deus nas mãos da Imaculada, morrer para nós mesmos e renascer para uma nova vida. A oferta de nossas vidas torna-se então o ato supremo com o qual realmente construímos a civilização do Amor.

                Saúdo todos os Irmãos da Ordem dos Frades Menores Conventuais e todas as pessoas que aqui peregrinaram para celebrar este significativo aniversário.

                Que o Senhor os encha com Seus Bens! A bênção de Deus e a proteção de nosso seráfico Pai São Francisco estejam com todos vocês.

 

Frei Carlos A. Trovarelli

Ministro Geral

 

Fonte: ofmconv.net

     Há 80 anos, precisamente no dia 14 de agosto, São Maximiliano Kolbe morreu para salvar um pai de família. Em homenagem ao gesto heroico de Kolbe, está sendo publicado o livro Escritos de São Maximiliano Kolbe. Este livro servirá para estudantes e pesquisadores, bem como para quem deseja conhecer e aprofundar sobre a espiritualidade de São Maximiliano Kolbe. Para Matilde Luvistto que traduziu a obra, “trata-se de um material impressionante colocado à nossa disposição para podermos colher o pensamento do fundador da Milícia da Imaculada, as riquíssimas reflexões que permanecem muito atuais e nos estimulam; sua espiritualidade voltada para a santidade e sobretudo para a missão, sua paixão pela Imaculada e sua particular mariologia”.

      São Maximiliano Kolbe nasceu na Polônia em 1894, e morreu ao dar a vida no lugar de um pai de família no campo de concentração de Auschwitz em 1941. Fundou em 1917 a Milícia da Imaculada e desenvolveu intenso trabalho com os meios de comunicação. Para Frei Gilson Miguel Nunes, OFM Conv., Assistente Internacional da Milícia da Imaculada, “por meio dos escritos de São Maximiliano Kolbe poderemos conhecer os detalhes da sua história de vida: seus sentimentos, sua visão de mundo, sua eclesiologia e suas experiências espirituais. A leitura e reflexão desses escritos é um importante caminho para o conhecimento do legado espiritual desse grande santo”.

São Maximiliano Maria Kolbe | São maximiliano maria kolbe, Maximiliano  maria kolbe, Santos da igreja catolica

[São Maximiliano Kolbe] 

     Ao longo da vida, Kolbe escreveu cartas para muitas pessoas, diversos artigos para jornais e revistas, e anotou suas inspirações místicas. Neste volume estão organizados os escritos de São Maximiliano Kolbe, desde os primeiros cadernos de anotações, até o último cartão escrito da prisão e endereçado à mãe. Matilde Luvisotto conta que durante o processo de tradução riu com algumas situações relatadas pelo santo, refletiu sobre temas interessantes, e também se emocionou e chorou ao tomar contato com detalhes da vida e sentimento de São Maximiliano. “Quem ler vai se apaixonar e se sentir envolvido na aventura de fé do mártir da caridade. É emocionante descobrir o segredo da santidade de Kolbe, o grande amor à Imaculada manifestado na sua entrega total e incondicional a Ela, e que o fortaleceu no apostolado”, explica a tradutora Matilde Luvisotto, que destaca que também há intensa correspondência missionária relacionada ao período em que fundou a Milícia da Imaculada no Japão, e grande material sobre espiritualidade mariana.

     O livro contém mais de 2500 páginas com tudo o que foi possível recolher daquilo que São Maximiliano escreveu. Há breve apresentação do livro por Frei Raffaele di Muro, OFM Conv., que é especialista em São Maximiliano Kolbe; também Frei Sebastião Benito Quaglio, OFM Conv., co-fundador do Instituto Missionários da Imaculada-Padre Kolbe, deixa uma mensagem ao leitor. O Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores Conventuais, Frei Carlos Trovarelli, OFM Conv., e o Assistente Internacional da Milícia da Imaculada, Frei Gilson Miguel Nunes, OFM Conv., introduzem e incentivam a leitura. Para Frei Sebastião Benito Quaglio, “o seu modo de viver foi surpreendente e só pode ser entendido em profundida­de, mergulhando no interior de seu coração. A publicação deste livro visa favorecer aos mílites de língua portuguesa esse ‘mergulho’ na alma do santo fundador da Milícia da Imaculada”.

Papa Francisco em oração na sela de São Maximiliano Kolbe

[Papa Francisco em oração na sela de São Maximiliano Kolbe] 

     Os escritos de São Maximiliano foram traduzidos a partir de uma versão italiana que compilava o que Kolbe escreveu em diversas línguas como italiano, polonês e latim. Matilde Luvisotto e Sara Caneva se dedicaram por longo tempo para a tradução fiel; Frei Ari Pintarelli, OFM, que já havia revisado grandes obras, deu sua contribuição para a correta versão em português. “Aplaudimos esta obra extraordinária que pode agora estar à disposição da florescente Milícia da Imaculada do Brasil e também de toda a Igreja do Brasil, e, certamente, também em outras nações de língua portuguesa em geral. Desejo sucesso a esta precisa obra que vai difundir admiravelmente a herança de São Maximiliano Kolbe e torná-lo ainda mais conhecido e apreciado”, diz Frei Raffaele di Muro, OFM Conv., Diretor da Pontifícia Faculdade São Boaventura, que também dirige a Cátedra Kolbiana na mesma instituição.   

     A Rádio Vaticano – Vatican News ouviu o Frei Gilson Miguel Nunes OFMCONV, que é o assistente internacional da Milícia da Imaculada. Leia na íntegra:

     "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus irmãos. Celebramos no dia 14 de agosto de 2021, 80 anos do Martírio de São Maximiliano Maria Kolbe, frade franciscano conventual, Apóstolo da Imaculada. O gesto de entregar a vida por um desconhecido, por um pai de família foi uma rajada de luz no campo de concentração de Auschwitz. O gesto heroico de São Maximiliano kolbe foi fruto de uma vida, toda ela entregue nas mãos da Imaculada através do apostolado da Imprensa, do rádio, das revistas, dos jornais, de um itinerário de fé e confiança, de um ardor missionário sem precedentes. Sim, o martírio de Kolbe continua nos inspirando a defender a vida na sua integralidade, no seu princípio ao seu ocaso natural. Não esqueçam, o amor ele recordou aos seus irmãos e recorda também a cada um de nós nos dias de hoje.

     Para conhecer melhor a vida de São Maximiliano Kolbe, a Milícia da Imaculada numa coedição com a Paulus Editora lança no Brasil, pela primeira vez, os escritos de São Maximiliano Kolbe traduzidos da 2ª edição italiana feita por frei Cristoforo Zambelli. O leitor brasileiro terá em mãos cartas, artigos, escritos do mártir da caridade São Maximiliano Kolbe. Poderá conhecer Kolbe através dele mesmo e dos seus pensamentos. Para celebrar os 80 anos do martírio colocamos então à disposição de todos os leitores os escritos de São Maximiliano Kolbe. Através desses escritos poderemos conhecer de maneira mais profunda sua obra, sua visão do homem e da humanidade, sua espiritualidade, o seu caminho, suas angústias e esperanças.

     O Legado que Kolbe nos deixa é um legado de amor, de fraternidade, de diálogo. Afirmação suprema da vida como dom de Deus desde a sua concepção ao seu ocaso. Não esqueça o amor recordava aos seus irmãos, e num mundo ferido, dividido, num mundo de novos totalitarismos Kolbe continua proclamando com a sua vida, e através da vida de todos aqueles que se consagram a Imaculada, seguindo seus passos, que a única força criativa é o amor, o ódio não é uma força criativa.

     Celebremos São Maximiliano Kolbe, busquemos inspiração na sua vida para iluminar também os dias sombrios do nosso tempo. São Maximiliano Kolbe rogai a Deus por nós, intercedei a Deus por nós".

 

Fonte: Paulo Teixeira - Milícia da Imaculada [via Vatican News]

Segunda, 16 Agosto 2021 20:58

Encontro dos frades poloneses

     Aconteceu entre os dias 12 e 14 de agosto, o Encontro dos Missionários Poloneses da Província São Maximiliano Kolbe. O encontro aconteceu no Santuário Jardim da Imaculada, na Cidade Ocidental e contou com a presença dos frades que iniciaram os trabalhos na missão e que continuam a trabalhar a vida apostólica até a atualidade.

     O encontro também contou com a presença de Dom Janusz Marian Danecki, bispo auxiliar da Arquidiocese de Campo Grande e Dom João Casimiro Wilk, bispo da Diocese de Anápolis. Ambos poloneses, advindos de nossa Província São Maximiliano Kolbe.

     O encontro foi repleto de reflexões, celebrações, orações, palestras e momentos fraternos. O mesmo foi encerrado no dia 14 de agosto, dia da comemoração dos 80 anos do martírio de São Maximiliano, padroeiro da nossa província e conterrâneo dos frades poloneses. O encontro foi finalizado com a Santa Missa solene seguida de um almoço festivo.

Segunda, 16 Agosto 2021 17:19

A vida religiosa franciscana

Viver em Fraternidade

Francisco não se chamava de Dom, nem de Senhor Francisco, mas de Frei Francisco. Frei/frade são palavras derivadas do latim frater, que significa irmão. O frade é aquele que busca viver em comunidade, formando uma família, na qual há um só Pai – Aquele que está nos céus – e todos são irmãos de todos. Francisco viveu uma intensa relação de fraternidade com Cristo, o que fez dele um dom para os seus irmãos. E ele recomenda aos frades: "E sejam irmãos entre si". Na vida fraterna franciscana não pode haver irmãos de primeira ou de segunda categoria, todos são iguais em dignidade e direitos, respeitando-se o dom próprio que cada irmão recebe para ser posto a serviço da comunidade. A fraternidade franciscana envolve não só a comunidade de frades ou a família franciscana, mas alcança toda a humanidade e ainda a criação inteira, daí Francisco chamar de irmão o lobo, a água, o vento e até a morte corporal.

Viver em Pobreza

Francisco deixou tudo: riquezas, prestígios e até a própria família para seguir Jesus Cristo pobre. O Franciscano caracteriza-se pela sua doação total a Deus, desfazendo-se de tudo aquilo que possa distanciá-lo do seu Senhor. Sem nada de próprio, o frade é aquele que só tem uma tarefa: ser dom gratuito de Deus aos irmãos.

Viver em Obediência

Deixando tudo, Francisco só quis saber de uma coisa: cumprir a vontade de Deus. E isso se deu imitando Cristo obediente. O frade franciscano é aquele que renuncia todas as vontades pessoais, todos os quereres egoístas, e passa a querer somente uma única coisa: fazer a vontade de Deus. A vontade de Deus não é solta, mas muitas vezes é encarnada na pessoa dos seus pastores (o Papa, o Ministro Geral da Ordem, o Ministro Provincial e o Guardião).

Viver em Castidade

São Francisco renunciou todas as paixões deste mundo para viver somente para uma paixão: Jesus Cristo. O Franciscano renuncia as paixões humanas, o consolo e o afeto matrimônio para, imitando Jesus Cristo, estar inteiramente a serviço do Reino de Deus, sem nada que o prenda. Seu casamento é com o Deus de toda doçura e com a missão recebida dele.

Viver em Minoridade

Francisco quis viver entre os pobres, por isso se fez menor. O Franciscano é aquele que quer ser como Francisco, um menor entre os menores. Através de suas atitudes, o frade busca a pequenez evangélica. O Frade Menor é um homem que se identifica com o Cristo Servidor e procura estar junto aos menores e pobres, comprometendo-se com eles e com a promoção da justiça social.

Viver em Oração

São Francisco buscou viver uma intensa experiência de oração. Estava sempre em diálogo com Deus. O Frade Franciscano é aquele que procura estar sempre em comunhão e em diálogo com Deus, contemplando as coisas do alto e tendo uma profunda vivência de oração, isto é, de intimidade com o Deus que o ama e o agraciou com a vocação.

A Fraternidade Franciscana: uma comunidade de frades irmãos religiosos e de frades sacerdotes

Quem entra na vida Religiosa Franciscana não tem como objetivo primeiro ser sacerdote, ser padre. Tem, em primeiro lugar, a vontade de ser franciscano, de ser irmão, de ser frade. O ideal de vida dos Franciscanos é o mesmo para todos: seguir Jesus Cristo a modo de Francisco de Assis. O que todos têm de comum é a consagração religiosa, que os coloca a serviço a Deus e aos irmãos. Por isso, dentro da fraternidade não dever haver discriminação se este é padre e aquele irmão, pois antes de ser padre o franciscano tem como primeiro objetivo e compromisso ser irmão. Eles devem se ajudar mutuamente, animando-se nas dificuldades e convivendo fraternalmente. O Franciscano, no serviço à Igreja, às comunidades cristãs e também aos que não creem, prestam diferentes formas de serviços: trabalhando com o povo, catequizando, assistindo aos doentes, em movimentos populares, servindo nos trabalhos internos de sua comunidade religiosa, lutando pela paz, pela justiça, pelos direitos humanos, etc. Se o Franciscano assume o sacerdócio, ele também serve a Igreja na pregação, na administração dos sacramentos e no acompanhamento das comunidades cristãs em uma determinada diocese.

O Irmão Religioso Franciscano

Ser religioso não implica necessariamente ser padre. A finalidade da vida religiosa como já vimos é a imitação de Jesus Cristo, que viveu sobre a terra pobre, casto e obediente. A vida religiosa franciscana é uma forma de o cristão se consagrar a Deus. O Irmão Religioso Franciscano é aquele que assumiu viver o Evangelho de Cristo nas pegadas de São Francisco de Assis. O campo de trabalho do irmão é muito vasto e há muitas possibilidades de atuação apostólica na Igreja.

O Religioso Franciscano Sacerdote

Se ser padre não é o essencial da vida religiosa, tampouco é um empecilho para vivê-la. O sacerdócio é assumido pelo religioso como uma vocação a serviço da Igreja. O padre possui algumas funções que somente ele pode exercer como, por exemplo, administrar os sacramentos da confissão, da unção dos enfermos, presidir a celebração da Santa Missa, conduzir uma comunidade paroquial, etc. Hoje nem todas as funções e serviços paroquiais podem/devem ser assumidas pelo sacerdote; muitos ministérios podem/devem ser realizados por ministros leigos, o que também dá a oportunidade de o irmão atuar numa comunidade paroquial. O Religioso Franciscano Sacerdote deve se caracterizar por um jeito bem próprio de atuar no meio do povo, da Igreja, colocando sempre o Senhor no centro de tudo.

Fonte: franciscanosconventuais.org.br (via Milícia da Imaculada)

Dia 14 de agosto, comemoram-se os 80 anos do martírio de São Maximiliano. Assim sendo, trouxemos em anexo um resumo sobre a vida do Mártir São Maximiliano Maria Kolbe, sua trajetória, seu amor à Virgem Santíssima e o surgimento da nossa Província que o tem como patrono. Leia abaixo:

 

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